A sociedade ainda não sabe conviver com o diferente
Pacientes especiais sofrem preconceito de outros usuários da Clínica de Fisioterapia Municipal

Além do fato de esperarem até duas horas pela ambulância após as sessões de fisioterapia, situação citada na última edição do jornal O Popular, outro problema dificulta a vida de pacientes especiais do município: o preconceito.

De acordo com a coordenadora da Clínica de Fisioterapia de Araucária, Chris Miranda de Oliveira, essa é a maior dificuldade enfrentada pelos portadores de deficiência e pela família de cada um deles. “Nós até entendemos que as ambulâncias demorem para vir buscar os pacientes, mas a questão é que, infelizmente, as outras pessoas ainda não sabem conviver com o diferente”, afirma a coordenadora. Segundo ela, já aconteceu de pacientes reclamarem só pelo fato de pessoas especiais estarem ali. “Isso não pode acontecer!”, declara.
Para amenizar essa questão e facilitar o tratamento de 150 jovens especiais atendidos pela Clínica, em três meses deve ser inaugurado o Centro de Reabilitação de Araucária. De acordo com a Prefeitura, o projeto é que esse Centro ocupe o espaço da antiga sala de digitação da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), dentro do Complexo do NIS III. “Por enquanto o espaço está sendo adequado com a estrutura necessária para tal, com barras paralelas e compra dos demais equipamentos que ainda faltam”, afirma a assessoria da SMSA.

O objetivo do Centro é oferecer às crianças e adolescentes especiais diversos médicos especializados em problemas neurológicos, fonoaudiologia, fisioterapia, pediatria e psicologia. “Eles não vão mais precisar ir a vários lugares para serem atendidos, pois receberão atendimento completo em um só lugar”, afirma Chris. Além disso, o local apresentará rampas e espaços amplos que facilitarão a entrada de uma cadeira de rodas, por exemplo.

Antecedentes
As dificuldades enfrentadas pelos pacientes especiais se tornaram públicas quando o senhor Mário, morador do bairro Guajuvira, denunciou a demora das ambulâncias e outros meios de transporte disponibilizados pela Secretaria de Saúde.

Segundo ele, a ambulância atende rapidamente ao chamado e, por isso, ele consegue levar o filho de 14 anos para a sessão semanal de fisioterapia pontualmente. No entanto, o pai explica que a situação é bem diferente na volta para casa. “Quando a sessão termina, eu fico esperando quase duas horas até a ambulância chegar”, conta. Esse tempo de espera seria suportável, não fosse um agravante: a paralisia cerebral do garoto de 14 anos. De acordo o pai, o problema faz com que o rapaz não compreenda a situação, e isso torna a espera angustiante. Além da dificuldade para controlar o rapaz, a coordenadora da Clínica já viu o garoto sofrer preconceito durante a espera.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Araucária (SMSA), a situação acontece devido ao grande número de pacientes atendidos pelas ambulâncias. “Araucária tem uma média de atendimento de quase três mil e duzentas pessoas por mês”, afirma a assessoria de imprensa da SMSA. Entretanto, para atender todos esses pacientes, o município conta com apenas quatro ambulâncias, um micro-ônibus, uma van e quatro kombis que dão preferência às emergências.

Ainda que o filho do senhor Mário possua necessidades especiais, o fato de buscá-lo, segundo a assessoria, não se enquadraria em uma situação de necessidade extrema e, por isso, ele receberia o mesmo atendimento dedicado aos demais pacientes.