Apresentamos: O novo orador de Araucária
Abrãao dedicou a vitória aos seus professores, ao diretor da escola e à família

Abraão Dias de Oliveira, 15 anos, se diz índio, nasceu na divisa do Brasil com o Paraguai, na cidade de Paranhos, Mato Grosso do Sul, morou em muitas cidades, acompanhando o pai trabalhador na busca por melhores condições de vida, até que, há dois anos, veio parar em Araucária, onde, como nunca sequer havia imaginado, se tornou o grande campeão do Concurso Municipal de Oratória, promovido pela JCI. “Foi uma grande alegria, não pelo prêmio em si, mas por ter passado por essa experiência tão grande de falar para pessoas muito importantes. Tinham professores e advogados desempenhando o papel de jurado, foi muito bom, quero continuar com a carreira de orador” afirma com a voz radiante.

O mais interessante de Abraão é que assim, ainda tão novo, já é um rapaz sério, que carrega na vida muito mais do que uma carreira. E isso começou bem cedo: “Meu pai, Valdomiro Fidelis, me levava pro serviço de pedreiro lá em Sarandi, não tinha ninguém pra eu ficar em casa então eu ia com ele, eu gostava, ajudava ele”, conta o jovem que nem se lembra em quantas cidades morou. Já mais jovem, há dois anos, ele veio para Araucária com o pai atrás de uma vida melhor, a família gostou daqui e passaram a viver, também com a madrasta, no bairro Cachoeira; assim, o pai se aposentou e Abraão passou a assumir ainda mais atividades.

“Além de estudar eu tenho vários empregos, trabalho como funcionário e patrão também. Tenho uma mini-empresa de manutenção de computadores e sou formado em web designer”, conta. Mas o menino quer ir mais longe, muito mais longe… “Mas eu não penso em trabalhar com computadores, quero investir no mundo da música e também seguir carreira de médico”, explica. O sonho de viver de música vem junto da parceria com o pai, com quem Abrão tem uma dupla sertaneja gospel, inclusive, os dois já lançaram um CD chamado Abraão e Miro, quando o ele ainda era criança.

E a oratória?
E foi no meio de todos esses afazeres que a oratória também veio brindar a vida de Abraão. Sempre muito simpático, ele logo foi uma das indicações da professora Marcia Bovo da Escola Prof. Nadir Nepomuceno Alves Pinto, para participar do concurso: “A nossa escola foi a última a ser avisada sobre o concurso, acho que foi umas três semanas antes. Aí a professora Marcia perguntou na sala quem queria participar e eu fui o único que quis e ela falou que já ia me indicar porque eu tagarelo muito. Mas eu falo muito na sala, com meus amigos, mas pra me apresentar assim em público sempre fui muito tímido”, conta rindo.

Abraão então teve que escrever um texto sobre corrupção e se apresentar na escola para, junto com Cleinton Ferreira de Ramos, do 9º ano, ser selecionado para representar a institução no concurso. Cleinton passou então a ser treinado pela professora Marie Thérèse Ferreira e Abraão pela professora Marcia Bovo: “Comecei a treinar muito, saia em horário de aula para treinar, em casa parei de trabalhar um pouco e deixei a internet de lado. A professora foi muito dedicada, treinamos como falar no microfone, dicção, velocidade. Filmamos eu falando na biblioteca para analisar depois, foi trabalhoso”.

O grande dia
Dia 28 de agosto, o dia tão esperado, Abraão tinha tudo para estar muito nervoso, mas resolveu abraçar outra tática: “Eu dei uma de Barack Obama”, conta aos risos, “Se eu ficasse nervoso não ia dar certo, então acenei para todo mundo, conversei com meus concorrentes, cantamos e deu tudo certo”, revela. E foi assim que ele, definitivamente, conquistou todos e todas, garantindo o prêmio de primeiro lugar e um cheque no valor de R$1.000. Como conta, no seu texto, Abraão refletiu sobre a corrupção exercida pelas pessoas utilizando cargos públicos, mas também sobre aquela corrupção rotineira, que todos nós estamos sujeitos.

“Agradeço a todos os professores que me ajudaram, da minha escola e também dos outros colégios, agradeço ao diretor Rafael Torquato e todo pessoal da JCI, também agradeço ao público e minha família que tava lá comigo”, finaliza. Com sensação de missão cumprida, Abraão segue sua vida abraçando as mil tarefas que sabe fazer, agora, também, a de orador.