Aborto espontâneo ocorre em cerca de 20% das gestações, afirmam obstetras

Foto: divulgação
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Aborto espontâneo ocorre em cerca de 20% das gestações, afirmam obstetras
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A interrupção da gravidez é um problema mais comum do que se imagina. Não há dados confirmados, porém, médicos ginecologistas e obstetras estimam que o aborto espontâneo atinja cerca de 20% das gestações até a 22ª semana. Entre os fatores que podem causar a interrupção estão causas infeccionais, causas genéticas ou autoagressão, que seriam imunológicas, ou causas não diagnosticadas. O chamado abortamento precoce acontece até 12ª semana, enquanto o tardio acontece da 15ª a 22ª semana.

Os médicos também afirmam que não é somente o corpo que sente a dor da perda de um bebê. Muitas vezes, o fator psicológico exige atenção das mulheres e da sua família. Os problemas emocionais provenientes de um abortamento são inúmeros e os motivos que os desencadeiam são sempre muito particulares. No entanto, todos levam ao mesmo fim: a interrupção do sonho de ser mãe, o final de uma etapa da vida, ou uma angústia.

Acompanhe a seguir as considerações de dois ginecologistas e obstetras de Araucária sobre as possíveis causas de um abortamento espontâneo e a importância de seguir corretamente o pré-natal, principalmente se a gestante já sofreu outros abortos.

A coordenadora da ginecologia e obstetrícia do Hospital Municipal de Araucária (HMA), Dra Jainara Aparecida Morari, diz que infelizmente a taxa de abortos espontâneos é alta e é a intercorrência mais comum na gestação. “Hoje, estima-se que essa taxa seja de cerca de 20%, uma média de um aborto para cada cinco gestações, mas acreditamos que pode chegar a 30%, isso porque existem muitas pacientes com gestação interrompida, que nem chegam a descobrir que estavam grávidas, e acabam não entrando nas estatísticas. O aborto mais frequente acontece na fase inicial, quando a gestação tem menos de 12 semanas, e é considerado aborto espontâneo até 22 semanas. Quando não temos esse parâmetro, levamos em consideração o peso fetal, ou seja, abaixo de 500 gramas é considerado um aborto”, esclarece a obstetra.

Um dos mais conceituados ginecologistas e obstetras de Araucária, Dr Claudio Bednarczuk, explica que abortamento espontâneo é a morte embrionária ou fetal não induzida ou a eliminação dos produtos da concepção antes das 20 semanas de gestação. Até 10 semanas é chamado de embrião e após esse período, é chamado de feto. “O período de gestação mais comum para abortos espontâneos é até 12 semanas, e a principal causa, cerca de 85% dos casos, geralmente é genética, com a má formação do feto, incompatível com a vida, e que a própria mãe natureza elimina, por seleção natural”, ilustra.

Possíveis causas

Os dois profissionais apontam que as infecções podem estar entre as causas de abortamento. Dr Claudio cita as infecções por citomegalovírus, herpes parvovirus e rúbeola. “Causas imunológicas, trauma importante sobre o abdômen materno e anormalidades ou má formações do próprio útero em si, são menos comuns. Muitas vezes, porém, não conseguimos estabelecer a causa do abortamento. Também temos outros fatores que contribuem para este índice de abortos, como a idade da gestante, maior de 35 anos e menor que 15 anos, extremos da idade reprodutiva; história anterior de abortamento espontâneo; tabagismo; drogas como álcool, cocaína, crack e altas doses de cafeína; doença crônica mal controlada como diabetes, hipertensão, distúrbios da tireóide maternos; traumas leves e útero retrovertido”, esclarece.

A Dra Janaira concorda com a opinião do colega obstetra. “Com relação as infecções, geralmente são mais as virais, mas também pode ser citomegalovírus, toxoplasmose e rubéola, que são coisas que a gente pode avaliar, e algumas dessas situações poderiam ter sido evitadas com a vacinação em dia. Mas é importante que as pessoas entendam que não existe aborto evitável, por isso a classificação de aborto espontâneo. Ele pode ser completo, incompleto, abortamento inevitável ou uma ameaça, que pode não evoluir para um abortamento. Muitas gestantes ainda criticam o fato de ter a gestação interrompida porque não foi feito nenhum exame. Fazer exames ou ecografias quando ocorre algum sangramento muitas vezes não é o suficiente para mudar o que vai acontecer”, diz a médica.

Segundo ela, no setor de emergência a conduta em uma ameaça de aborto é examinar a paciente, ver a quantidade de sangramento do útero, examinar se o colo do útero tá fechado ou não. Quando acontece alguma desses problemas, a gestante passa a ser acompanhada e aí sim fará uma ecografia para ver se está tudo bem. “No caso de aborto retido, quando o óbito do bebezinho ocorre dentro do útero, é estabelecida a conduta expectante, onde podemos aguardar até quatro semanas ainda para ver se a paciente consegue eliminar o produto fetal sozinha, ou então ela terá que internar e fazer a curetagem”.

O luto após duas perdas

A dona de casa M.B., 54 anos, que preferiu se manter no anonimato, contou sua experiência dolorosa após dois abortos espontâneos. Foram duas gestações interrompidas ainda nas primeiras semanas, até ela engravidar pela terceira vez, e ter seu primeiro filho. “Já se passaram 20 anos, mas lembro como se fosse hoje, fiz o teste de farmácia e deu positivo. Procurei minha médica e contei que poderia estar grávida. Fiz o exame de sangue, que confirmou a gravidez. Fiquei tão feliz que comecei a preparar o enxoval do bebê, e a compartilhar sonhos com meu marido e minha família. Porém, o sonho durou pouco. Quando fui fazer a primeira ecografia, o médico perguntou se eu estava mesmo grávida (não havia batimentos fetais), e ali entrei em desespero. Ele saiu da sala e logo retornou, na companhia de mais uma médica. E ouvi a pior notícia da minha vida: Você teve um abortamento retido! Imediatamente fui encaminhada para a curetagem e no mesmo centro cirúrgico onde eu perdia o meu filho, pude ouvir o chorinho de outros bebês, que acabavam de nascer. Veio o sentimento de culpa, impotência, num misto de tristeza e raiva. Insisti no laudo, na esperança de uma resposta que acalmasse meu coração, mas não havia uma causa aparente. Passados alguns meses, senti que estava grávida de novo, mas não me empolguei. Antes que procurasse a médica, senti uma cólica horrível, como nunca havia sentido antes, fui ao banheiro e expeli uma bola que parecia de sangue. Como a dor passou, não dei muita atenção e segui com minha rotina. Contei o fato para uma amiga e ela ficou muito preocupada, ligou para minha médica e esta pediu que eu fosse imediatamente para o consultório. Fui encaminhada para uma ecografia e ali foi confirmado o segundo abortamento, mas dessa vez aguardei alguns dias e meu próprio corpo expeliu todo o produto fetal. Eu já estava mais conformada, e a dor não foi tão grande, mas o desejo de ser mãe, envolto em muito medo, soava ainda mais forte no meu coração”, relata.

M.B. foi orientada a procurar um médico geneticista, fez uma série de exames e iniciou um tratamento para engravidar. O tempo passava e ela não conseguia, até que o médico disse que seria melhor dar um tempo, porque a ansiedade da paciente estava tão grande, que poderia impedir uma nova gestação. “E foi nesse intervalo, quando foquei em outras coisas, que engravidei. Tive um acompanhamento bem complexo, pelo fato de já ter tido dois abortos, e graças a Deus tive meu primeiro filho. Hoje sou mãe de dois meninos”, disse.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1247 – 04/02/2021

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