Briga de vizinhas

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Eu tinha planejado escrever uma história esta semana que nada tem a ver com nenhuma briga entre vizinhos, uma história tão absurda que as pessoas iam desconfiar que eu inventei. Era sobre uma situação em que um sujeito estava querendo obter de volta um amor perdido e teria decidido apelar para o sobrenatural, indo até uma mãe-de-santo pedir orientação sobre como fazer isso.

A mãe-de-santo disse pro rapaz as coisas necessárias para o trabalho: alguma importância financeira e mais alguns itens: vela de sete dias, galinha preta, cachaça, aqueles objetos típicos em encomendas desse tipo. O rapaz foi atrás das coisas mas não conseguiu achar tudo e é aí que a coisa fica interessante.

A história é muito boa, quem sabe semana que vem eu consiga terminar de contar. Mas outro dia escutei um caso que preciso narrar antes que esqueça. Estava em um evento social quando uma amiga me contou que teve um problema de convivência com sua vizinha de condomínio.

A coisa se desenrolou na época de fim de ano, Natal chegando, aquele calor típico de dezembro, todo mundo indo na loja de produtos paraguaios e comprando neve falsa pra se sentir americano. Uma vez eu fui Papai Noel na festa em família e foi nesse dia que mais odiei a tentativa brasileira de copiar a cultura natalina do hemisfério norte, tamanho o calor que passei dentro da fantasia. Por que o Papai Noel aqui não usa regatas e óculos de sol? Já pensou que bacana um Papai Noel chavoso?

Pois bem: essa amiga, em pleno espírito natalino, estava brigando com seu gato que tinha arranhado uma cortina – os gatos têm um senso estético próprio, não se importando com nossa cultura de manter as cortinas de um determinado jeito. Ela, para demonstrar ao gato o quanto falava sério, decidiu gritar com ele. Não sei precisar o que ela gritou.

E ela, igualmente, não entendeu o que foi que respondeu, também gritando, sua vizinha do apartamento de cima. Ali, da sala, a laje que separa as duas residências faz com que o som se abafe e dissipe tanto que as palavras perdem sua clareza, mesmo os palavrões e os xingamentos, habitualmente contidos em palavras muito nítidas de som e de significado.

Foi o momento em que ela deixou de responder por si e que, se filmado, serviria como campanha contra a liberação do porte de armas. Foi até a janela e, com toda a graciosidade, esticou seu pescocinho, como um galo anunciando a chegada dos primeiros raios de sol, e passou a proferir violentos desacatos à vizinha, ofendendo-a e a seus descendentes, os quais acusou de terem recebido educação de baixa qualidade e de serem feios.

E eu, que comecei a contar uma coisa e mudei no meio do caminho, só agora percebo que me enrolei e acabei não contanto nenhuma das duas boas histórias. Peço desculpas ao leitor: vou ter que continuar na semana que vem, porque infelizmente o espaço acabou.

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