Cocelpa pára produção por ordem do Ibama

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Entidade aplicou R$ 3,7 milhões em multas e pediu a licença ambiental, que a fábrica não tem

O dia-a-dia de Luiz Eduardo Taliberti, homem que “abraçou a jaca” e foi escolhido como novo diretor geral da Cocelpa, Companhia de Celulose e Papel do Paraná, não deve estar sendo fácil. Ele assumiu o comando da empresa no início deste ano e, junto com a reforma geral nos equipamentos, teve que abraçar a administração do enorme passivo ambiental que a empresa possui.

No dia 24 de outubro técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama estiveram na empresa e, baseados na análise de amostras das emissões tanto líquidas quanto atmosféricas, coletadas de janeiro a maio deste ano, aplicaram R$ 3,7 milhões em multas contra a Cocelpa. Os técnicos ainda emitiram um termo de embargo que obriga a fábrica a parar sua produção.

Taliberti faz questão de lembrar que foi a própria Cocelpa quem forneceu as amostras para o Ibama fazer as análises no início do ano. “Desde que assumi, nós mudamos o corpo gerencial e começamos uma grande reforma na fábrica. Estes índices sobre os quais o Ibama aplicou as multas já não condizem com a realidade, muita coisa já mudou drasticamente aqui dentro”, garante o diretor.

Ele explica que já foram investidos cerca de R$ 4 milhões somente em reforma de equipamentos. Nossa reportagem esteve na fábrica na semana passada e, de fato havia uma montanha de ferro velho que, segundo o diretor, é de equipamentos que foram recuperados.

Problema antigo
A promotora de justiça de Araucária, Stella Maria Floriani Burda, disse que é difícil acreditar no que tenha havido alguma mudança consistente. “Acredito que qualquer alteração que eles aleguem ter feito, diante deste laudo não será suficiente para que a empresa consiga adequar o funcionamento dentro dos parâmetros permitidos”, diz a promotora.

“Nós mesmos que moramos em Araucária podemos sentir que a empresa não está funcionando de uma forma que dê qualidade de vida para nós”, afirma Stella. Uma das coisas que mais a deixou indignada foi o fato de que o grupo controlador da Cocelpa estaria investindo em uma unidade na Bélgica. “Duvido que lá na Europa eles possam utilizar a mesma conduta usada aqui. Espero que o Ibama mantenha este embargo até que a empresa tome as providências necessárias”, finalizou.

Fábrica parada chamou a atenção

A nova diretoria da Cocelpa tem feito consideráveis esforços para mostrar a mudanças que estão ocorrendo na empresa. Cerca de 60% do corpo gerencial foi trocado e muitas medidas estão sendo efetivamente tomadas. Porém, o passivo ambiental, a maneira como a empresa conduziu sua gestão empresarial durante décadas criou ao redor do nome Cocelpa um conceito de empresa poluidora. A notícia de que as autoridades ambientais conseguiram fazer as chaminés pararem gerou uma forte onda de comentários.

A despeito do fato da nova diretoria se empenhar nas mudanças em poucos meses parece não ter sido o suficiente para convencer os responsáveis e o relatório emitido pelos fiscais foi contundente. Expressivo também foi o valor das multas que, somadas chegam a R$ 3,7 milhões. A imagem da empresa está tão desgastada que, segundo a promotora, alguns moradores e até empresários entraram em contato para comemorar a decisão.

Defesa
Os advogados da Cocelpa protocolaram na segunda-feira, dia 5, deste mês, no Ibama, um requerimento explicando que já vêm realizando medidas para regularizar a situação das emissões da fábrica. Apresentou um extenso relatório com as ações já tomadas e os valores gastos. Mostrou também as medidas que pretende colocar em prática com os prazos previstos para sua efetivação.

Algumas ações têm poucos dias para sua execução. Outras já estão prontas e outras ainda estão previstas para 440 dias. Este foi o prazo total solicitado ao Ibama para aimplantação completa das ações de correção.

Com a parada, ainda que forçada, das emissões da Cocelpa, os ambientalistas esperam poder observar qual é seu verdadeiro impacto na qualidade do ar de Araucária.

Existem estações de medição espalhadas pelo município e outras empresas estão na mira das autoridades. “É sabido que não é só a Cocelpa que polui nosso ar. Agora vamos poder ter uma idéia mais clara do que conhecidas poluidoras que também ficam nas vizinhas realmente emitem. E elas que se cuidem”, alertou a promotora Stella. Nossos pulmões agradecem.

Diretor preocupado com os funcionários

Mesmo diante da contundência dos laudos do Ibama, Luiz Eduardo Taliberti, profissional contratado para administrar a Cocelpa, explica que os dados são do começo do ano e que a água que a estação de tratamento de efluentes (ETE) da fábrica despeja no rio Barigui já estão dentro dos índices estabelecidos pela legislação.

“É só medir hoje que o Ibama pode conferir”, garante. Quanto às emissões atmosféricas Taliberti conta que do começo do ano para cá já foi feito investimento pesado e que falta muito pouco para que a fábrica se adeque ao exigido pela lei. Ambientalistas discordam do diretor e lembram que a Cocelpa não possui licença de operação emitida pelo órgão competente e que só funciona porque conseguiu uma liminar na justiça. Taliberti reconhece a ausência da licença e afirmou que o processo de obtenção está em andamento.

A fábrica já havia assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ibama no ano de 1998 onde estavam previstas várias reformas e adequações no processo produtivo para que os equipamentos ficassem dentro das exigências legais.

“Mas não foi cumprido”, disse um ambientalista local. Ele acredita que, com o fechamento da fábrica dificilmente os acionistas consigam colocá-la em operação pois, para isso será necessária uma licença ambiental que, por sua vez, precisa de um estudo de impacto ambiental completo.

Demissões
Mesmo assim, o diretor garante existe solução técnica para colocar as emissões dentro do permitido em pouco tempo. “Ainda tem outro problema, se a fábrica não estiver produzindo não consigo fazer caixa para pagar os investimentos necessários e corro sérios riscos de perder os clientes porque não terei produto para entregar.

Isso sem contar com os cerca de 500 empregos diretos e indiretos que nós geramos. Se a fábrica ficar parada por muito tempo teremos que começar a demitir o pessoal”, alerta Taliberti.

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