Em Araucária, as estátuas mais vivas do que nunca
Os jovens cresceram em uma família que respira arte de rua, aprenderam cedo e se dedicam para estarem cada vez melhores para o públicoEm Araucária, as estátuas mais vivas do que nunca

E naquele trânsito, de baixo de um sol quente, injuriado com vontade de chegar rápido em casa, as vezes pequenas surpresas podem mudar o dia. Quem para no semáforo na esquina da Rua Presidente Carlos Cavalcanti com a Rodovia do Xisto, desde uns meses atrás, pode vivenciar um pequeno momento desses; ali, as vezes em dois, as vezes em três, jovens apresentam um pouco da imensidão do movimento da arte de rua. Daiane Almeida Soares, 18 anos, irmã de Dailton Almeida Soares, 17 anos, e primos de Tiago de Almeida, 14 anos, cresceram em uma família que desenvolve essa arte e, apaixonados pelo que fazem, garantem um meio de sobrevivência levando alegria para quem passa por aquele local.

Passei algum tempo pensando em conversar com esses artistas, na tarde de terça-feira, dia 16, saímos atrás dessas figuras. Era perto das 16h quando nos aproximamos do cruzamento perto do Terminal Central de Ônibus, mas, estranhamente, não os vimos mais lá. Olhei para o lado e vi o trio, reluzindo em tinta prateada, indo embora, fomos acelerando atrás deles e, enquanto o fotografo, Everson Santos, estacionava o carro, desci correndo para encontrá-los. Chegando afobada, fui recebida por sorrisos, me apresentei e eles logo toparam conversar conosco, sentamos em um meio fio e iniciamos a boa conversa. Durante o bate-papo, um senhor chegou oferecendo um refrigerante para os artistas, ao lado dos dois filhos, pediu para os três tirarem uma foto com os pequenos, simpáticos, eles se abraçaram e fotografaram.

O trio pratica o número de Estátua Humana há cerca de sete anos: “A gente aprendeu com um tio nosso que trabalha em Curitiba. A gente gosta muito de fazer isso, é melhor, porque não tem patrão e bastante gente gosta, elogia, reconhece”, conta Daiana, afirmando que conseguem tirar um bom dinheirinho. Mas como tudo nessa vida, a arte de rua também tem seu ônus, além de ficar algumas horas expostos ao sol quente – o trio trabalha, em média, 4 horas por dia-, algumas pessoas não são muito sensíveis em reconhecer o trabalho: “Tem gente que olha diferente, já tacaram água em nós, fecharam o vidro na nossa cara, fingiram que iam dar uma moeda e depois tiraram a mão. Mas tem muito mais gente que gosta do que não gosta, uma vez um cara deu R$50,00 para eu e meu primo, a gente trabalhou mais um pouquinho e logo foi pra casa”, relembrou Dailton.

Preparação
Para ficar com o corpo inteiro prateado, fazendo alusão as estátuas, são 20 minutos se passando tinta: “É uma tinta vegetal, a gente passa com a mão mesmo. Depois pra tirar é só entrar em baixo do chuveiro e se esfregar”, explica Tiago. E asism, todos pintados, o trio exibe sua arte, em cada sinal vermelho é uma apresentação e uma corrida para arrecadar o oferecimento do público que fica ali no carro, só curtindo o espetáculo; é o teatro, o circo ao ar livre! “Nós temos primos que fazem isso, a família inteira. A gente quer sempre fazer melhor para as pessoas, mas não é difícil ser estátua não, é só treinar”, revela humildemente Tiago, com um gigante sorriso no rosto.

Sonhos
De olhos brilhantes, conversa boa e risadas constantes, o trio, que mora no bairro Costeira, comemora o que o trabalho deles proporciona: “A gente leva arte para as pessoas e a gente pode chegar em qualquer lugar, sem dinheiro, sem nada, que com o nosso trabalho a gente consegue comer e ter o que a gente precisa”, reflete Daiana. Espalhando a arte pelos cantos, levando sorrisos para aqueles que passam pelas ruas emergidos em suas duras rotinas, o trio também quer aproveitar o que a arte de rua proporciona e se espalhar por aí: “Temos vontade de viajar, se apresentar em outros lugares, ir para São Paulo. Eu já fui me apresentar em uma praia aqui do Paraná”, conta Dailton. E com tanto vigor pulsando naqueles corações, não fica nada difícil acreditar que quando eles quiserem, estarão por aí, espelhando sua arte, seu amor.

Trabalhos
O grupo afirma que além das estátuas, também fazem números de palhaços e outros mais. Para se encantar com eles, além de passar ali naquele esquina perto do terminal, também é possível contratá-los para eventos, para isso, basta ligar no telefone 9725-3782.