Sob o domínio das drogas, muitos viciados arrastam seus dramas para dentro de casa e acabam transformando seus familiares em reféns emocionais. Sentindo-se culpados, pais, mães e irmãos passam a aceitar ações violentas e a viver em permanente alerta, condicionando seu estado de espírito ao do usuário da droga. O envolvimento de todos os membros da família com a dependência mascara a visualização de soluções e, não raro, parentes se sujeitam a atos extremos, como acertar dívidas com traficantes, por medo da morte.
O crack, um dos vilões do mundo das drogas, começou a ser consumido entre os jovens das classes mais carentes e hoje atinge pessoas de todas as idades e de todas as classes sociais. Ele afeta, inclusive, a vida de quem nunca sequer viu a droga, pois está na raiz das tragédias. É considerado pelas autoridades governamentais como um dos maiores problemas de saúde pública do Estado e como a principal causa da violência nos grandes centros urbanos.
Jovens que experimentam a droga tornam-se dependentes quase que instantaneamente, sentem necessidade de usá-la 20 ou até 30 vezes por dia e são capazes de qualquer coisa para obtê-la. O caminho é quase sempre o mesmo. Os usuários começam roubando da própria família e depois partem para delitos cada vez mais graves e violentos.
Para o psicólogo Jackson Leoni, o tema é mais complexo e o curso da droga quase sempre começa quando a pessoa busca suprir a ausência de algo em sua vida. “Na maioria das vezes, as drogas e as bebidas entram no vazio. Esses artifícios vêm para suprir essa ausência”, alerta, acrescentando que a ausência não tem relação com a quantidade de tempo que esses pais ficam com os filhos e sim com a qualidade desse tempo.
“O filho precisa confiar nos pais e se sentir à vontade para falar sobre drogas com eles. A família deve exercer esse papel de orientadora, senão o jovem vai procurar isso na rua, onde muitas vezes é o lugar em que ele tem o primeiro contato”, explica Jackson.
Ele sugere ainda que os pais devem entender por que o filho está se drogando em vez de acusar ou castigar. “É necessário olhar para dentro da própria família e entender o porquê da busca pela droga, sem descartar uma curiosidade de momento”, diz.
Tratamento
O psicólogo lembra ainda que existe o fator predisposição para o vício. Por exemplo: uma pessoa poderá beber todos os finais de semana e quando quer parar consegue. Uma outra pessoa bebeu apenas alguns finais de semana e, quando decidiu não fazer mais isto, se deu conta de que estava viciada no álcool.
“As drogas afetam a capacidade de decisão e de planejamento nas pessoas. Muitos viciados não conseguem perceber que se tornaram dependentes, quando entra a necessidade de um tratamento específico”, comenta Jackson.
Para ele, o tratamento é uma tarefa muito difícil, pois, além de se adequar a ele, o dependente químico precisa saber lidar com as “situações gatilho” para o resto da vida. “Não adianta ficar na clínica durante meses e sair de lá para levar a mesma vida de antes, é preciso saber tomar as decisões corretas, ter um apoio afetivo e muita motivação”, diz.