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Teatro da Praça será observado sob novo olhar
Preparações para o público estão a todo vapor, como garante CidaTeatro da Praça será observado sob novo olhar
É no palco que a nova diretora do teatro da Praça se sente mais a vontade

Ao perguntar, já pensando longe, para Maria Aparecida Rolim Silva, nova diretora do Teatro da Praça e conhecida atriz Cida Rolim, como ela deseja que sua gestão fique marcada, ela responde firme: “Tempo em que as pessoas teriam verdadeiro acesso a bens culturais”. Desde 1991 vivenciando a cultura e sua movimentação em Araucária, Cida, com especialização em Fundamento do Ensido do Teatro pela FAP, apresenta certezas em como gostaria de ver o caminhar do que lhe é responsabilidade agora, mas ainda incerta, reflete quais serão as estratégias para evitar o máximo possível os tropeços. “Esse é um sonho que sempre tive, utilizar esse espaço – o teatro – a vontade para que a gente se descubra”. Contando que nunca imaginou assumir essa cadeira e que não se preparou para o posto, já que sempre participou dos movimentos mais populares, Cida começa a arregaçar as mangas para puxar a cortina do novo espetáculo que deve se abrir.

Trajetória Cultural
“Aqui em Araucária comecei em 1990 e, desde então, me envolvi com os movimentos culturais, fiz amizade com o pessoal do teatro e acabava descobrindo em mim alguns talentos e comecei efetivamente a participar dos movimentos daqui”. No começo Cida trabalhou com música, ela cantava e representava Araucária nos Festivais contando com o apoio da Elizelda, Angélica Pires e Eva Coler que, conforme contou, instruíam-na. “E aí fui ficando, fui participando de coisas aqui. Na verdade eu sou concursada como assistente social no município, sou funcionária de carreira e em 2001 eu fui destituída desse cargo e fui mandada para o Teatro da Praça. A época não foi muito agradável, nem a forma como eu cheguei aqui, eu vim aqui para ser utilizada de alguma forma e aí, nesse tempo, eu comecei a fazer determinadas coisas e uma delas foi, como sugestão do Eliseu Voronkoff, fazer a oficina de teatro para entender melhor o espaço, o que era feito ali, como funciona”.

Cida então fez a oficina, gostou e entrou para o grupo de teatro através de João Álvaro e Cindy e por ali ficou atuando. “Surgiu uma oficina no Centro de Artes Guido Viaro em Curitiba, fui, fiz e aí um dia Fátima Ortiz, que é uma das que contribuíram para a fundação do Teatro da Praça com a formação do sonoplasta, do iluminador, criando uma certa afinidade com o município, retorna, em 2003 ou 2004, com um projeto que se chamava Vila Paraíso em que ela queria envolver atores de Araucária. Aí eles convocaram os atores locais e fizeram o teste, e eu passei nesse teste. Aí fui pra lá e conheci o Gester Furtado, a quem eu devo meu DRT, ele me dirigiu, eu fiz o teste e passei e aí me tornei atriz”. E assim continuou, ficou três anos em cartaz em Curitiba com peças de Gláucio Karas, apresentou-se do Festival de Curitiba e foi traçando seu caminho.

Cida e o teatro
“Eu sempre fui muito ligada a leitura e, especialmente, ligada às peças clássicas que trouxeram um desejo intenso de conhecer um pouco mais como é a arte cênica e como eu me enquadro dentro desse universo”, conta. Cida ainda revela que todas as etapas chamam a atenção dela: montagem cenografia, sonoplastia… destacando a importância de entender como funciona tudo, do começo ao fim, o conjunto completo. “O Eliseu (Voronkoff ) tinha uma coisa… ele era o que faz tudo, né? Ele escrevia, ele atuava, dirigia, construía figurino, o cenário, a sonoplastia e mexia com a mesa de som, era meio eclético, totalmente eclético, diga-se de passagem. Mas eu não procurei desenvolver uma tendência assim não, já ministrei oficinas de teatro que desempenhei esses papéis, mas posso dizer que o que faz parte em mim no teatro é atuar e é isso que eu tento fazer”.

Dificuldades
Conforme as vivências e experiências de Cida, existem alguns pontos que comprometem Araucária quanto classe artística: “É a compreensão do valor cultural que tem o teatro, assim como outros valores culturais. As coisas aqui demoram um pouco mais para acontecer, sabe? A vida toda a gente se manteve tentando caminhar. Primeiro lugar, Araucária parece uma cidade que está longe da capital, a classe artística é muito velada, muito fechada, ensimesmada e isso é muito complicado, porque, as vezes, deixa de lado outras pessoas que poderiam estar no contexto. E pra se inserir ou você tem que se impor, que é meu caso, e aí você não é bem visto e bem quisto, ou você se insere nesse grupinho”, reflete ela apontando que em Curitiba, por exemplo, é diferente, já que o pessoal se organiza quanto categoria artística, eliminando intenções ou relações pessoais.

De acordo com Cida, a música é o movimento mais democrático que existe em Araucária já que é produzida por atores sociais que nem sempre tem qualquer vínculo com políticas públicas. “Então as duas coisas que acontecem aqui são: o elitismo e a falta de compreensão de como manejar quanto população para que as políticas públicas funcionem. O que falta para nós hoje, para que a gente possa se inserir nesse contexto, é que a gente saiba muito bem qual é nosso papel enquanto classe artística, o que queremos e o que temos direito de ter”, concluiu destacando que, em sua opinião, Eliseu Voronkoff foi o maior mobilizador da cultura da cidade.

Projetos para o Teatro
“Todas as coisas que acontecem e se tornaram tradição aqui no Teatro da Praça vão continuar, porque em time que ta ganhando não se muda. Por exemplo, as oficinas de teatro e dança, e como sempre elas vão começar no período escolar”. Acreditando que bons profissionais para ministrar os cursos são parte essencial do desenvolvimento das oficinas culturais, Cida garante que o corpo dos profissionais está sendo escolhido categoricamente ou, pelo menos, assim sugerido para a administração. “Assim os saberes se difundem, os saberes culturais inclusive, e podemos preparar um pouco mais as pessoas que já têm seu talento nato”.

“Tenho interesse em dizer para a classe artística que esse espaço é de todos, para o talento de todos e que todos terão o mesmo direito de concorrer às vagas e utilizar esse espaço para fazer arte. Porque eu sofri com isso, era triste ver que naquele dia que a gente tinha pedido para utilizar esse espaço – o teatro – e foi negado, passava aqui na frente e via as portas fechadas, não estava acontecendo nada, porque não gostavam da cor dos nossos olhos. Para mim a classe artística não tem olho, não tem partido político, para mim a classe artística tem que ser respeitada. Esse espaço é da cidade”. Porém, o que vem de novo por aí, para atender os pontos que Cida reconhece que devem ser melhorados estão sendo definidos, ainda serão sentidos, pensados e depois, se tudo der certo, experimentados: “Agora as novidades… isso a gente vai ter que ir elaborando conforme vai se estendendo nossa relação com a comunidade. Não adianta a gente vir com um pacote pronto e não haver a receptividade que a gente espera”, conclui;

O público
Levantando o problema de formação de público na cidade, Cida aponta sua opinião: “Uma das coisas que é muito necessária é que a gente ouça o que as pessoas têm a dizer, a opinião delas. Eu até sugeri que fizesse um senso cultural para dessa forma a gente conhecer o povo de Araucária. Até a construção da Petrobrás a população tinha uma característica, hoje ela já assumiu uma outra característica. (…) As nossas práticas culturais foram se modificando e a gente não deu conta”. Cida afirma que o teatro é para o povo e, como aponta, o URRA (União Resistência Rock de Araucária), foi um dos movimentos mais expressivos na cidade: “O URRA veio de lá para cá, do povo para o teatro”. Para finalizar, Cida propõe descentralizar as atividades, as oficinas, para tentar formar um público que tenha interesse em vir para o teatro e assim, as apresentações no teatro da Praça ganhem sentido, já que terão público para apreciar, criticar e aplaudir. “Temos que sair fora da casinha e ir lá na comunidade ver o que eles pensam, como eles entendem, como eles se expressam, que tipo de construção artesanal que eles gostam. Me resta dizer para a classe artística contribuir para esse espaço aberto”, finaliza.
 

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