Tudo como antigamente

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A professora de Educação Física entrou na sala de aula com o seu saco de bolas: uma de vôlei, outra de borracha e a última de futebol de salão. “Vamos todos para a quadra”, decretou. Foi aquela alegria. Todo mundo saiu correndo, só eu fiquei para trás. Alcancei a professora e a questionei: “a professora nunca dá aula, só dá a bola pra gente jogar na quadra?”. Pra quê fiz aquilo. A mulher ficou possessa. Mandou todos os alunos de volta pra sala e avisou que como eu queria “aula”, ela passaria um texto para “copiarmos” sobre a história do futebol de salão. Quase fui linchado pelo resto da turma. Como se não bastasse, a querida professora ainda mandou chamar a pedagoga e disse que eu a tinha desrespeitado. A pedagoga não ouviu minha versão da contenda, mas mandou que eu pedisse desculpas à professora pela minha falta de educação. Contrariado, pedi a tal das desculpas. A ordem foi restabelecida: a professora venceu, o aluno foi posto no seu lugar, a pedagoga cumpriu o seu papel e a turma toda passou o restante daquela tarde copiando do quadro verde aquele imenso texto sobre a história do futebol de salão.
 
A história acima aconteceu quando cursava a terceira série do Ensino Fundamental. Mais de dez anos se passaram desde então. Hoje, aquela professora é coordenadora de um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei), a pedagoga é diretora de uma escola e eu sou um trabalhador como qualquer outro existente nesta cidade. Nossas vidas continuaram, mas, confesso, nunca esqueci o episódio. Até hoje ele volta a minha mente sempre que ouço algum relato envolvendo professores de Educação Física. E foi isto justamente que me fez relembrar o caso. Dia desses ouvi – por acaso – um menino comemorando que teria aula de Educação Física no próximo dia. Era uma terça-feira. A aula seria na quarta-feira. A felicidade do sujeito era justamente porque ele e a turma passariam a tarde inteira jogando bola na quadra de futebol de salão da escola.
 
Que coisa!, pensei. Será que as práticas existentes nas escolas públicas de nossa cidade não mudaram muito em relação ao que acontecia no meu tempo?, perguntei-me e imediatamente voltou a minha cabeça a imagem daquela pedagoga me obrigando a pedir desculpas por uma “malcriadeza” que não cometi. Balancei a cabeça, olhei para os lados, para ver se nenhuma outra pedagoga havia ouvido os meus pensamentos, e segui caminhando. Melhor assim. Afinal, se os alunos estão contentes com o futebolzinho quem sou eu para questionar?

E você o que pensa sobre o assunto?

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