Um levantamento recente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) indicou as cidades do Paraná que terão uma “explosão populacional” até 2050, e Araucária está entre elas, com taxa de crescimento de 28%. Mas será que esse crescimento também poderá influenciar no desenvolvimento industrial da cidade?
Para o engenheiro civil Walter Emílio Voss, secretário municipal de Urbanismo, a explosão populacional é uma situação que precisa ser vista com muita cautela. Para que se torne positiva, no que tange a ampliação do Parque Industrial, o município precisa investir pesado na qualificação de seus habitantes. “A formação do indivíduo começa no ensino fundamental e, teoricamente, deveria terminar com o ensino superior. Mas infelizmente sabemos que grande parte da população não tem condições de frequentar uma faculdade, por isso é importante que quando o estudante termine o ensino fundamental, já possa ingressar no ensino médio em um curso profissionalizante de nível técnico. Nesse contexto, o que vimos hoje, é que Araucária, por ser um município industrializado, peca na questão de mão-de-obra capacitada, e isso é perceptível em conversas com a maioria dos empresários”, diz Walter.
O secretário acredita que o município tem que voltar a investir pesado na formação dos moradores, porém precisa focar essa qualificação no que seria o carro-chefe da cidade industrial: área de metalmecânica, plástico, agroindústria, entre outras. “Essa população que será agregada ao município com o crescimento populacional previsto pelo Ipardes, só será benéfica se receber um treinamento. Sabe-se que hoje, boa parte da população de Araucária, cerca de 58 mil pessoas, depende de algum programa do governo, está inscrita no CadÚnico, e isso é algo que mancha a cidade. Portanto, precisamos avaliar o que precisa ser feito para que essa pessoa passe a contribuir com a sociedade. Acredito que não só Araucária, mas toda a região metropolitana de Curitiba deverá passar por isso. E cabe a cada prefeito pensar além do seu mandato, pensar no futuro, caso contrário, o problema não será resolvido”, avalia.
LEGISLAÇÃO EQUIVOCADA
Araucária hoje é destaque no Paraná em relação à industrialização, no entanto, deixou de ser um dos destinos mais promissores para receber novos investimentos industriais. Isso porque, de acordo com o secretário de Urbanismo, o Plano Diretor vigente foi constituído de forma equivocada, uma vez que os pormenores dessa legislação municipal acabam sendo um impeditivo. “Vamos citar o exemplo do eixo de desenvolvimento industrial da BR 476, que compreende o trecho após a ponte do Rio Iguaçu até a divisa com Contenda. Na legislação antiga ali era uma zona industrial, com parâmetros mais flexíveis em relação à instalação de indústrias, mas com a mudança de zoneamento, foi instituído o lote mínimo, que agora é de 20.000 m². Me colocando como morador de Araucária, sei que nesse eixo, especificamente, a maioria das propriedades é menor. Daí podemos imaginar como seria possível instalar uma indústria de frente para BR 476, sendo que não se atinge o terreno mínimo de 20.000 m²”, analisa o secretário.
Outro agravante apontado por Walter Voss é a determinação da taxa de ocupação de 35%, ou seja, o investidor que comprar o terreno de 20.000m², só poderá ocupar uma área construída de 7.000 m². “Sabendo que Araucária é uma das cidades com o valor do metro quadrado mais caro, este é outro impeditivo. Basta analisar a quantidade de novos empreendimentos que foram instalados nesses setores, praticamente zero. É por isso que temos vários profissionais da Engenharia e da Arquitetura tentando regularizar alguns imóveis já existentes, até por conta de não conseguir atrair novas indústrias, respeitando a legislação da forma como foi instituída. Resumindo, o desenvolvimento de Araucária se concentra atualmente na BR 476 e na PR 423”, avalia Walter. Ele lembra ainda que, para tornar a situação mais complicada, desde fevereiro do ano passado essas duas vias se tornaram concessões. “Hoje, qualquer empreendimento que esteja de frente para essas duas vias, precisa da anuência da concessionária de pedágio, o que acaba sendo mais um impeditivo para atração de novas indústrias”.
Walter Voss volta a reforçar que para Araucária se tornar novamente atrativa e receber novos empreendimentos, terá que fazer uma revisão da lei de zoneamento, buscando o consenso entre os profissionais de Engenharia e Arquitetura e também do próprio empresariado. “Temos uma zona industrial consolidada, mas com um potencial limitado de expansão. O Parque Industrial em Araucária ocupou praticamente todas as áreas, sendo assim, é urgente a necessidade de melhorar os eixos de desenvolvimento no Município”, constata.
Pelo atual Plano Diretor Municipal, explica o secretário, as regiões da cidade que ainda possuem grande potencial para receber novas empresas seriam a Zona Industrial 1 (ZI 1) – voltada às indústrias mais pesadas; Zona Industrial 2 (ZI 2) – voltada às indústrias menos pesadas e às atividades logísticas. “Temos ainda na região do Tomaz Coelho, a Zona de Desenvolvimento Tecnológico. E para dificultar ainda mais, Araucária não tem uma companhia de desenvolvimento ou uma Secretaria de Indústria e Comércio. O prefeito Gustavo (Botogoski) já está buscando a estruturação desta secretaria, porque entende que o empresário quando chega no município, precisa de um endereço onde possa buscar informações e ser atendido. Este é um compromisso da atual gestão”, afirma.
EVOLUÇÃO CONSTANTE
O secretário de Urbanismo ainda aponta que Araucária é uma cidade em constante evolução, uma promessa para todo o estado do Paraná. “Minha família chegou aqui no século XIX, então a gente acompanha a história de Araucária. A cidade teve um pico de industrialização até meados do início dos anos 2000, daí sentimos que houve uma certa acomodação. É como se houvesse um contentamento com o que já se tem, e cito como exemplo a refinaria da Petrobras. Acho que os gestores pensaram: ‘Já temos a Repar, então tá tudo bem!’. Queremos que a cidade continue linda, mas que volte a industrializar, que faça este resgate. Uma obra industrial gira o mercado todo”, aponta.
Walter reforça que, depois de uma indústria implantada, que tenha um valor salarial substancial, onde o trabalhador ganhe bem, ele deixa de utilizar o sistema público. “Podemos pegar como exemplo uma indústria metalmecânica, praticamente todas elas oferecem planos de saúde aos seus funcionários, que consequentemente deixam de utilizar o sistema público. Com uma renda salarial mais elevada, muitas vezes esse trabalhador também tem condição de pagar uma escola particular para o filho. Ainda tem condições de pagar um financiamento, ou tem casa própria e lhe sobra um dinheirinho para fazer uma reforma, então ele gasta no material de construção. Quando a gente pensa em trazer indústria para o município, precisamos focar em indústrias primeiramente limpas, porque existe a grande preocupação com a questão ambiental, que é primordial, e temos que agregar quantidade de postos de trabalho, mas com uma renda que a pessoa se torne independente do estado. Não adianta focar em negócios que trazem quantidade de empregos, mas com baixo salário. A pessoa não consegue muitas vezes nem pagar um aluguel. Então, basicamente, para Araucária crescer, precisa investir pesado nisso”.
NECESSIDADE URGENTE
O secretário voltou a falar da importância da qualificação da mão-de-obra local, e mencionou as paradas que sempre acontecem nas grandes empresas que estão instaladas em Araucária, quando milhares de trabalhadores de fora são contratados. “Sabemos que haverá uma parada na FAFEN e, certamente, pelo fato de não termos trabalhadores qualificados, milhares virão de fora. Serão cerca de 6 mil pessoas que irão atuar nessa parada, e se analisarmos os contratos, veremos que serão pouquíssimos trabalhadores de Araucária. Basicamente, virão pessoas de outros estados, ou seja, mão-de-obra extremamente especializada, que virá dos polos petroquímicos do restante do país. Eles virão da Bahia, do Rio de Janeiro, de São Paulo, onde ficam as sedes dessas empresas terceirizadas. Quando a empresa ganha a concorrência, já tem um quadro próprio e transfere para o local da obra. Isso não quer dizer que a empresa não deseje contratar trabalhadores de Araucária, porque mesmo que queira, não vai conseguir encontrar a mão-de-obra necessária”, explica Walter.
Edição Especial – Aniversário de Araucária: 135 anos.