Crise obrigou transportadores escolares a buscarem novos meios de renda
São poucos os transportadores escolares que ainda se mantém na atividade. Foto: Marco Charneski

Com a chegada da pandemia, muitos setores da economia foram afetados e paralisaram suas funções. As escolas ficaram entre as primeiras a suspenderem as atividades presenciais, instalando uma crise sem precedentes para os motoristas de transporte escolar. Os veículos deixaram de circular e a categoria, sem obter renda, se viu diante de um cenário desesperador.

A empresária Roseli Ferreira, proprietária da empresa Energia Tur, viu de uma hora para outra a sua renda diminuir. Então ela decidiu trabalhar com confeitaria, passou a fazer bolos e doces finos para festas, além de salgados assados e tortas. “Muitos transportadores, assim como eu, estão trabalhando em outro ramo de atividade, foi muito tempo parado sem poder trabalhar. Alguns venderam seus veículos e fecharam a empresa, porque não conseguiam enxergar perspectivas de melhora. No ano passado, com o retorno parcial das aulas, uma parte até retornou, mas a crise se manteve. Este ano, com a volta das aulas 100% presenciais, era para a categoria se animar, porém foram poucas as empresas que retomaram as atividades. Eu mesma este ano decidi não voltar”, disse Roseli.

Segundo ela, mesmo antes da pandemia, a gratuidade do transporte coletivo para estudantes em Araucária já havia contribuído para uma crise no setor. “Quando o projeto foi lançado, pensamos que teria algum critério para o aluno ser contemplado com o benefício, por exemplo, ter baixa renda. Mas vimos que não precisaria necessariamente ser uma criança de família carente, até mesmo alunos de escolas particulares poderiam ter acesso ao benefício. Tentamos conversar com o prefeito, porém não fomos recebidos. Quando nos demos conta, a lei já estava aprovada. Não somos contra nenhum benefício para a população, porém acho que faltou bom senso por parte dos governantes. Eles nem sequer pensaram nos transportadores escolares. Com todos esses fatores, e ainda o fato de algumas escolas estarem disponibilizando transporte próprio para seus alunos, está quase impossível sobreviver apenas do transporte escolar”, lamentou a empresária.

Dinheiro do bolso

O transportador escolar Laersio Mendes da Rosa, dono da empresa Transmikuska, viveu um drama semelhante. No início da pandemia ele tinha acabado de comprar um veículo novo porque o antigo tinha esgotado a vida útil (10 anos para transporte escolar) e com ele chegou a trabalhar cerca de duas semanas apenas, até o início da paralisação. “Fiquei sem poder emplacar o carro, sem poder fazer nada porque até o Detran tinha fechado. Pra piorar ainda mais, tinha assumido uma prestação alta, já que nem sequer imaginava que tudo aquilo iria acontecer. Eu não tinha mais renda com o transporte escolar, não estava conseguindo nem pagar os impostos da empresa. Me obriguei a usar recursos da minha aposentadoria para pagar as dívidas. Tudo desmoronou, porque nosso ramo foi um dos mais prejudicados com a pandemia”, relatou.

Laersio disse que agora, após dois anos, as escolas estão voltando ao normal, porém é tarde demais para alguns transportadores. Muitos perderam seus veículos para os bancos, fecharam suas empresas. “É triste porque não tivemos ajuda, a Prefeitura simplesmente ignorou a gente, mesmo sabendo que nossas empresas contribuíam com o pagamento de seus impostos. Tivemos que pagar o IPVA, mesmo com os veículos parados nas garagens. Esse ano, com o retorno das escolas, os poucos que voltaram ainda se depararam com o preço absurdo dos combustíveis. Resumindo, a atividade do transportador escolar ficou praticamente inviável”, lamentou Laersio.

Pais estão na bronca

A crise no transporte escolar já começou a ter reflexos negativos na volta das atividades presenciais nas escolas, CMEIs e faculdades. Muitos pais estão tendo dificuldades de contratar os serviços por conta do número reduzido de empresas que ainda estão em atividade. Estudantes do Colégio CTI, no bairro Thomaz Coelho, por exemplo, procuraram a reportagem do Jornal O Popular para reclamar que não conseguiram encontrar nenhuma empresa disponível para atender aquela região. “Os pais estão enlouquecidos sem o transporte escolar. Mas não há perspectivas de solução para este problema. Pra se ter ideia, além de todas as dificuldades que foram obrigados a enfrentar, os transportadores ainda estão tendo que cobrar o mesmo valor de 2019, pelo fato de os pais não terem como pagar um valor reajustado. É lamentável”, frisou Roseli.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1298 – 10/02/2022