“Agosto Lilás” é uma campanha de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, cujo objetivo é intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha, sensibilizar e conscientizar a sociedade sobre o necessário fim da violência, divulgar os serviços especializados da rede de atendimento às vítimas e os mecanismos de denúncia existentes.
Em Araucária, paralelamente as campanhas de conscientização, existe uma ampla rede de proteção às mulheres vítimas de violência doméstica. Esta rede envolve o Poder Judiciário, Ministério Público, Polícia Civil (Delegacia da Mulher), Guarda Municipal, Secretaria de Assistência Social (Centro de Referência de Atendimento à Mulher – CRAM), Assistência Judiciária, Conselho da Comunidade e secretarias municipais de Educação e Saúde.
Rompendo o ciclo
Ainda que os casos de violência doméstica façam parte da rotina de muitas mulheres araucarienses, há casos onde as vítimas conseguiram romper esse ciclo de violência. É o caso da Evelin, 44 anos, que viveu com seu companheiro durante 11 anos e há cerca de um mês conseguiu se separar. No caso dela, a violência era psicológica, o marido a ofendia, xingava, diminuía, fazia ela se sentir um “lixo”. Apesar de nunca ter encostado a mão em Evelin, o companheiro dizia palavras horríveis e tão pesadas, que a machucaram profundamente. Também quebrava coisas dentro de casa fazendo com que ela vivesse em constante medo e tensão, acreditando que a qualquer momento as agressões, até então psicológicas, pudessem se tornar físicas também.
“Sou uma pessoa que serve a Deus, faço minhas orações e campanhas e isso me ajudou a suportar tudo. Com o apoio dos meus irmãos e da igreja, depois de muitos anos de sofrimento, consegui me libertar disso. Ao longo dos 11 anos em que vivemos juntos, teve uma ocasião em que nos separamos e por um ano ele viveu nas ruas, pois é usuário de drogas. Me pediu perdão, disse que tinha mudado e o aceitei de volta, acreditando que estava sendo sincero. Não demorou pra perceber que era tudo mentira, e as agressões psicológicas recomeçaram. Um dia a situação saiu do controle, ele chegou em casa drogado, fiquei com tanto medo que chamei a polícia. Então consegui uma medida protetiva. Hoje, mesmo estando separada do meu companheiro, me sinto culpada por muitas coisas, talvez de tanto ter ouvido ele me culpar por tudo. Às vezes me pego pensando onde eu errei. Ele pediu para eu não desistir dele, mas não tínhamos mais condições de ficar juntos. Perdi três empregos por causa das nossas brigas, não comia mais, não dormia, só cochilava, sempre com medo que ele pudesse me agredir. Eu tentava conversar, mostrar o quanto estava seguindo por um caminho sem volta, mas nessas horas ele dizia que eu queria dominá-lo, que eu parecia ser a mãe dele, porque eu tinha 10 anos a mais que ele, me chamava de velha e ainda pegava meu dinheiro para comprar drogas. De tanto meus irmãos, meus amigos e meus vizinhos me alertarem que a situação poderia sair do controle e que eu corria risco de vida estando com ele, decidi colocar um ponto final em tudo. Hoje, ao mesmo tempo em que estou livre dele, vivo presa às lembranças de tudo que sofri. Ainda tenho medo, muito medo”.
Cicatrizes que ficarão para sempre
Analu*, 31 anos, viveu com o companheiro por 6 anos, com quem teve quatro filhas. A primeira nasceu quando ela tinha apenas 12 anos de idade. Separada há 10 anos, ela conta os momentos de terror que viveu. “De tanto sofrer nas mãos dele, teve um dia que decidi dar um basta, ele não aceitou a separação, ameaçou a mim e a minha família e por isso vim embora pro Paraná, só com a roupa do corpo. Não foi fácil, por muito tempo dormi nas ruas, passei necessidades. Sofri demais. Mas apesar de tudo isso, eu sabia que estava livre do meu companheiro, meu algoz, que me espancava e me xingava. Minha liberdade veio porque um dia, felizmente, acordei do pesadelo e percebi o quanto precisava lutar pela minha vida. Batalhei muito pra conseguir me sustentar, hoje tenho minha casa e graças a Deus vivo bem. Todas as mulheres que apanham de seus maridos deveriam fazer o mesmo, criar coragem para abandoná-los, mesmo que isso pareça impossível. Não precisamos passar por isso, viver uma relação frustrante, não temos que nos submeter a tanta violência. Muitas vezes me pego lembrando dos dias que acordava com pontapés, socos, apanhando muito. Ainda carrego muitas marcas e cicatrizes, uma delas, inclusive, feita no dia em que ele veio pra cima de mim com um machado. Graças a Deus sobrevivi a esse inferno. Hoje tenho saúde e muita disposição para trabalhar e criar minhas filhas”.
Onde denunciar casos de violência doméstica
Guarda Municipal
de Araucária – fone 153
Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAM) – 3614-1507
Texto: Maurenn Bernardo