“Até que a morte os separe” não pode ser uma sentença literal.

O amor não é uma prisão com paredes invisíveis, onde a dor vira rotina e a humilhação é justificada por promessas feitas no altar ou nos altares da fé.

Relacionamentos abusivos não começam com gritos ou tapas. Eles se instalam no silêncio dos constrangimentos públicos, nas piadas com sua dor, nas respostas frias às suas lágrimas, na ironia constante que desacredita sua voz.

Energeticamente, uma relação termina no momento em que o amor deixa de ser abrigo e se torna ameaça.

Não espere que uma relação te mate — por dentro ou por fora — para se sentir autorizada a sair.

Não naturalize a dor. Não espiritualize o abuso.

Muitas mulheres que vieram antes de nós carregaram caladas suas feridas. Ancestrais que foram forçadas a se submeter, estupradas dentro do casamento, anuladas em nome de uma fé distorcida, doutrinadas a servir, a obedecer, a “suportar como boas esposas”.

Fizeram isso em nome de Deus. Mas Deus nunca foi opressão.

Esse pacto demoníaco — travestido de espiritualidade — precisa ser rompido.

Deus é liberdade. Deus é dignidade. Deus não compactua com a violência, não exige silêncio diante do sofrimento, e jamais ordenaria a perpetuação de uma relação que anula a alma.

A liberdade de amar começa no direito de existir plenamente dentro de uma relação. De se sentir segura, acolhida, escutada. Espiritualmente respeitada. Socialmente valorizada. Psicologicamente amparada.

E quando isso não acontece, é preciso buscar ajuda. É preciso romper.

Sair de uma relação abusiva não é um ato de egoísmo — é um ato sagrado. É preservar o templo que você é.

A melhor forma de ajudar um agressor não é ficando. É encerrando o ciclo que o fortalece.

Romper com a cadeia da violência é o primeiro passo para não perpetuá-la.
Inclusive para ele.

Se você está vivendo algo assim, saiba que não está só.
Você não está louca. Nem fraca. Nem ingrata.
Você está sendo violentada — e isso precisa parar. Agora.

Procure apoio especializado. Denuncie. Ligue. Sobreviva. Recomece.

  • Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher
  • Disque 100 – Violência contra pessoas LGBTQIAPN+
  • Ligue 190 – Emergência policial
    Para reflexões como esta e conteúdos sobre espiritualidade e cura emocional, estou também no Instagram e TikTok: @tarodafortuna.

Edição n.º 1470.