Carregados de histórias e mistérios, os cemitérios são espaços sagrados que nos convidam a refletir sobre a natureza da vida, da morte e da espiritualidade. Esses locais já passaram por transformações e adaptações, conforme às necessidades da sociedade. Originalmente, os mortos eram enterrados próximos às igrejas ou em pequenos cemitérios comunitários. No entanto, com o crescimento das cidades e o aumento da população, essa prática se tornou insustentável.

Com o passar dos anos e a evolução da sociedade, os cemitérios passaram a apresentar tendências arquitetônicas e alguns se tornaram verdadeiras obras de arte, com esculturas, mausoléus e monumentos impressionantes.

O fato é que, quanto mais exploramos os segredos e curiosidades dos cemitérios, mais nos damos conta da importância de preservar esses locais históricos e culturalmente significativos. São verdadeiros tesouros que nos conectam com o passado e nos ajudam a entender melhor a nossa própria história.

Ao longo do tempo, muitos cemitérios tornaram-se patrimônios históricos, refletindo estilos arquitetônicos, tradições e personagens importantes na formação da cidade. É fundamental que sejam preservados como parte do patrimônio cultural.

Em Araucária, há quatro cemitérios no perímetro urbano: Municipal Central, Municipal Jardim Independência, Thomaz Coelho e Memorial Santa Rita. Os dois primeiros são mantidos pela Prefeitura Municipal, o Thomaz Coelho é mantido pela Paróquia Nossa Senhora das Dores – fica na Vila Angélica, e o Santa Rita, inaugurado recentemente, é privado – está localizado na Av. Pref. Romualdo Sobocinski, no Campo Redondo. Na área rural estão os cemitérios da Capela de São Miguel, da Capela Senhor Bom Jesus no Tietê, da Capela Nossa Senhora Imaculada Conceição no Campestre, da Colônia Cristina, Cemitério Ucraniano na Colônia Ipiranga, e Cemitério Polonês.

Por trás de cada túmulo, cemitérios de Araucária escondem histórias interessantes
Foto: Carlos Poly – acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres. Cemitério Municipal Central, foto de março de 2018.

Muitos desses cemitérios carregam histórias, tradições e valores de uma comunidade, além de exercerem uma função social importante para o Município. Uma dessas histórias é a da Capela São Miguel, na antiga colônia ‘Tomás Coelho’. A igreja da localidade foi construída em 1882, e o primeiro registro no livro de óbitos é de 1883, porém, não existem lápides dessa época porque até aproximadamente a década de 1970, os sepultamentos eram feitos diretamente na terra, somente depois foram construídos os túmulos em concreto.

Segundo consta na “Coleção História de Araucária”, que faz parte do acervo do Arquivo Histórico Municipal Archelau de Almeida Torres, após uma epidemia de tifo que ocorreu entre 1910 e 1911, o cemitério de São Miguel teria ficado lotado e, então, os mortos passaram ser sepultados em um “cemitério de brasileiros” que já existia na região, mas do qual não existe nenhum vestígio. Também menciona a existência de outro cemitério na região do Capela Velha, próximo à estrada que ligava Araucária a Curitiba, do qual também não existem registros e nem vestígios. Este último, provavelmente foi iniciado pelas famílias Andrade, Melo e Gaspar, conforme consta na obra A Saga de Araucária, de Romão Wachowicz.

A Igreja de Nossa Senhora das Dores, também na antiga colônia ‘Tomás Coelho’, foi construída em alvenaria, em 1886, em substituição a uma pequena construção em madeira. Somente em 1897 consta no livro de óbitos o primeiro sepultamento no cemitério dessa capela.

Sobre o Cemitério Municipal, não existem informações sobre quando exatamente foi construído. O que se sabe é que antes da atual área central de Araucária ser povoada, já existia uma capela na região chamada de Tindiqüera, que recebeu inicialmente o nome de Capela Nossa Senhora da Luz de Tindiqüera. No ano de 1837, essa capela tornou-se Capela Curada, sendo transferida em 20 de março de 1848 para o local onde hoje encontra-se a matriz, com o nome alterado para Capela Nossa Senhora dos Remédios do Yguassu. Em 28 de fevereiro de 1855, o curato foi elevado à categoria de paróquia, que mantém até hoje, e a última parte do nome foi eventualmente suprimida pelo desuso. Não constam informações sobre os sepultamentos realizados por essas capelas, mas supõe-se que em suas proximidades foram estabelecidos cemitérios.

Sabe-se que em 1955, já sendo de propriedade municipal, o cemitério central foi ampliado, através da Lei 175/55, com compra de terrenos próximos. Segundo Romão Wachowicz, na praça Vicente Machado foi construída uma capela em forma de uma concha oval e em frente ficava o cemitério dos nativos.
Algumas casas circundavam a praça retangular, os imigrantes ainda conseguiram presenciar o ritual dos enterros dos primitivos brasileiros. O cadáver era envolvido em panos, amarrados com embira a uma trave comprida e transportado para fora do mato. Diante do cemitério era desamarrado, e a seguir depositado solenemente para a eternidade. Havia o costume de colocar nos túmulos cruzes de aroeira verde.

Em 30 de outubro de 1986, foi inaugurado na região do bairro Boqueirão, o segundo cemitério de Araucária, o Jardim Independência e, a partir deste mesmo ano, o Cemitério Central parou de receber novos jazigos, passando a realizar apenas sepultamentos nas gavetas já existentes. O primeiro sepultamento no Cemitério Jardim Independência ocorreu em 3 de novembro de 1986 e foi o de Eliete Alves da Silva.

‘CEMITÉRIO FANTASMA’

Bastante curiosa e intrigante é a história do Cemitério dos Palhanos. Antes da chegada dos imigrantes europeus, o Município era habitado por luso-brasileiros e descendentes de escravos e indígenas. Entre os luso-brasileiros, havia a família Palhano, que possuía propriedades de terras em Araucária, onde se estabeleceu esse cemitério.

Após a chegada dos ucranianos, na segunda metade do século XIX, é que esses começaram a utilizar esse cemitério para fazer seus sepultamentos, empregando escrita cirílica. Muitas famílias de descendentes desses ucranianos permanecem na região, especialmente em Ipiranga, onde existe uma igreja de estilo ortodoxo, e dois outros cemitérios contendo sepulturas com escrita cirílica. O cemitério dos Palhanos encontra-se em área particular, circundado por mata, e ano após ano tem sido degradado e vandalizado.

A vegetação envolve uma porção de túmulos em ruínas totais, construídos de tijolos e cal, às vezes até de cimento. Nos túmulos, estão os nomes quase apagados, com escritas em língua ucraniana, onde constam datas mais distantes de 1803, 1808, 1885, 1910, 1912. Essas informações constam no livro ‘A Saga de Araucária’, de Romão Wachovicz.

Edição n.º 1474.