Acyr Torres, uma memória viva da história de Araucária

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Acyr Torres, uma memória viva da história de Araucária

EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO – 130 ANOS

Certamente o nosso leitor já conhece ou deve ter ouvido falar de Acyr de Almeida Torres, 87 anos, uma figura muito simpática e carismática, dono de uma memória invejável. Seu pai Archelau de Almeida Torres foi um grande empreendedor e visionário, que contribuiu para o desenvolvimento social e cultural da cidade, tanto que ruas e prédios públicos levam seu nome.

A família, que tinha como matriarca dona Maria Sávio Torres, veio para Araucária em 1929 e estabeleceu-se na região onde hoje é o Jardim Iguaçu, antes denominada Mato Grande. Dedicou-se ao cultivo de tomate e pimentão e com as expansão do negócio, construiu uma fábrica, uma pequena vila para moradia dos operários e suas famílias, além de um barracão para depósito e uma sala para alfabetização, onde aos 15 anos de idade, Acyr já dava aulas de alfabetização para os adultos.
Das antigas instalações ainda resta a chaminé no que era a fábrica de tomates, em um imóvel comercial localizado na Rua Miguel Bertolino Pizzato.

Acyr conta que seu pai prestigiava e apoiava todas as atividades culturais e sociais da cidade. “Lembro uma vez que ele se aventurou a plantar trigo, na estação experimental liderada pela família Gayer” realizava todo ano a Festa de Natal para as famílias carentes e a Festa Junina em Louvor a São João.

Archelau construiu uma nova fábrica para a produção de tomate, moinho de centeio, trigo e farinha de milho. Anos depois do fechamento da fábrica, o local foi desapropriado pela prefeitura para integrar o Parque Cachoeira, como sede do Museu Tindiquera.

Com espírito empreendedor, Archelau Torres foi o responsável pelos primeiros loteamentos da cidade. Acyr lembra que entre os inúmeros feitos, seu pai contratou o agrimensor Carlos Hasselmann para projetar a rua que hoje leva seu nome, e que liga o centro aos bairros Costeira e Campina da Barra. “Papai comprou diversas áreas para fazer loteamento, uma das primeiras ações urbanísticas que realizou foi o desdobramento das áreas próxima à praça”, destaca.

Archelau Torres doou 5 mil m² de área para o município construir uma escola e uma capela em honra a São Judas Tadeu, mas a prefeitura acabou desapropriando mais 5 m² e a capela não foi construída. Depois do seu falecimento, os cinco filhos se uniram e em homenagem ao pai construíram no Jardim Iguaçu a Capela Nossa Senhora De Fatima e São Judas Tadeu, com casa paroquial e salão de festas. Acyr foi o primeiro presidente da comissão da igreja e mandou instalar na obra uma placa com os dizeres “A Comunidade Constrói Aqui”

Das lembranças que tem da cidade, ele destaca que havia muitas famílias de imigrantes poloneses e italianos que se dedicavam à agricultura, principalmente ao cultivo da batata, com diversas olarias e na área central destacava-se a Fábrica de Tecidos de Linho São Patrício e a vila operária construída em um quarteirão na região do Cavalo Baio.

Quando jovem, Acyr foi locutor da rádio Cambiju, fez parte da diretoria do famoso Clube União, ex-clube Apolo que além do salão de baile, tinha uma área social com um bar e para boliche, jogos de baralho e sinuca. “Naquele tempo, embora pequena, Araucária tinha uma vida social muito intensa, eram mais de 30 agremiações no município”, conta saudoso, por já ter sido eleito por duas vezes o Rei do Carnaval. Acyr foi um dos primeiros sócios do Clube Operário, fundado por Máximo Cantador e Belarmino Dias da Costa.

Acyr era bom de bola, mas nunca se profissionalizou, jogou futebol no Araucária Futebol Clube, no Clube Esportivo Fanático em Campo Largo e no Coritiba, onde foi bicampeão nas categorias amador e juvenil “Foram uns 30 anos jogando futebol amador”.

Aos 16 anos, Acyr tornou-se um dos primeiros e o mais jovem bancário de Araucária, atuando como contínuo no antigo Banestado. Tempos depois foi convidado para ser gerente de uma nova agência na cidade de Rolândia e depois em Santa Isabel do Ivaí, ambas no norte do estado. “Em 1960, meu pai faleceu e o governador Moisés Lupion, pela amizade que tinha com ele, mandou um avião ir me buscar para que eu viesse me despedir”.

De volta a Araucária, Acyr foi eleito vereador por três mandatos consecutivos de 1973 à 1988, sendo que nesse tempo ele também trabalhou em diversos departamentos na prefeitura municipal, destacando-se como assessor de eletrificação junto à Copel. “Nesse período foram instalados mais de 60 km de extensão de energia elétrica em toda a cidade”.

Quando da vinda da Petrobrás, ele foi designado para acompanhar os prepostos da Estatal, Ronald Licha e Renato da Gama, em todas as visitas para a desapropriação dos terrenos onde seria construída a refinaria, ficando combinado que além das indenizações, os ex-donos poderiam levar tudo que fosse possível das propriedades. Com representante do legislativo, Acyr junto aos seus pares, esteve na recepção ao presidente Geisel, para a inauguração do monumento ao expedicionário.

Solteiro convicto, Acyr tinha 42 anos quando conheceu sua esposa Liana Walendowski e não resistiu aos encantos da jovem catarinense no dia em que a viu em uma partida de futebol no estádio do Coritiba. O casal teve três filhos, Archelau Neto, Ana Carolina e Ana Paula.

Uma tragédia marcou a vida do casal que perdeu seu filho mais velhos Archelau de Almeida Torres Neto aos 18 anos, no acidente com o Edifício Atlântico, em Guaratuba, em 1995, quando morreram 29 pessoas, inclusive outros membros da família Torres e deixou a cidade consternada.

Urbanização

Acompanhando de perto o crescimento da cidade e a demanda por habitação com a instalação da Refinaria Getúlio Vargas, Acyr tornou-se sócio em 1978 da empresa Torres Kumer Ltda. para a realização de loteamentos, venda e construção de imóveis. Foi um dos responsáveis pela criação de importantes bairros como o Dalla Torre, Jardim Petrópolis entre outras dezenas de loteamentos.

Quando deixou a política, Acyr sentiu que havia cumprido sua missão, pois honrou os votos que recebeu “Acredito que contribui em todas as áreas com a cidade, e sinto falta das agremiações, as pessoas não se reúnem mais, não convivem mais em sociedade, há muito individualismo, falta trabalhar pelo bem comum”. As entidades sociais sempre foram de suma importância pois nelas, mesmo que num ambiente informal e descontraído, se discutiam os problemas da cidade, assuntos comuns a todos os cidadãos e se buscavam soluções, local de debate troca de ideias, hoje em dia nada disso mais existem tudo faliu, ninguém quer se envolver e discutir os problemas sócias”, desabafa.

Acyr é avesso a era digital e redes sociais, utiliza o celular do jeito antigo e para falar com a filha e netos que moram fora. “A vantagem é que aproxima e ajuda a matar a saudade. A juventude tem que se envolver mais na política e assumir com prazer esse legado, sempre respeitando a lei e os demais pontos de vista”, analisa.

Hoje nosso ilustre personagem mora com sua esposa em uma chácara, próximo à Colônia Cristina, junto com seus 15 cachorros, sendo que 10 foram resgatados da rua e adotados pelo casal, uma de suas filhas mora com a família e a outra na Alemanha. Embora residindo no interior, Acyr não deixa de visitar os empreendimentos da família e passear pela cidade que tanto ama para visitar e reencontrar conhecidos de longa data. “É sempre bom ter um tempo para sentar e conversar com os amigos”

Texto: Rosana Claudia Alberti

Foto: Everson Santos

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