Uma das tarefas mais trabalhosas do jornalismo profissional é fazer com que parte dos leitores entendam que o principal compromisso de uma reportagem é com o fato e não com os personagens que eventualmente são alcançados pela notícia.
É justamente por isso que a tarefa de noticiar, de assinar uma matéria, não é pra qualquer um. É justamente por isso que existem dois tipos de liberdades sagradas – mas distintas – em nossa legislação: a de expressão e a de imprensa. A primeira é algo que mistura coração e cérebro. A segunda precisa ser exercida somente com o cérebro.
E nessa jornada de produzir conteúdo de qualidade para gente de verdade, O Popular é especialista. E, fazer isso numa cidade razoavelmente pequena como Araucária, nos obriga a sempre ter que dar esclarecimentos adicionais, como é o caso deste editorial.
Recentemente, por exemplo, trouxemos algumas matérias acerca de possíveis irregularidades cometidas no âmbito da administração pública municipal. Todas notícias calcadas em apurações bem feitas e incapazes de ser questionadas pelos personagens nelas envolvidas. Tanto é que – confrontados – preferiram o silêncio.
O alcance de todas essas matérias foi espetacular, mas sempre há aqueles que misturam “lé com cré”, fazendo com que eles cheguem a uma conclusão míope do que é administração pública e daquilo que é permitido ou não nela.
Da mesma forma, há quem tenha uma forma muito própria de recepcionar esse tipo de conteúdo, como se na administração pública as coisas boas feitas pelo gestor (seja qual for ele) o autorizasse a fazer coisas erradas. Funcionaria mais ou menos assim na cabeça dessas pessoas: o gestor pavimentou parte da área rural, então ganhou dez pontos. O gestor contratou cargos em comissão de forma irregular, então perdeu seis pontos. Saldo: 4 pontos. Resultado: parabéns, você foi aprovado!
Na administração pública e na vida não funciona assim. Não estamos autorizados a fazer algo errado porque fizemos outras tantas coisas certas. E, da mesma forma, sempre que fizermos algo legal seremos elogiados e, quando fizermos algo ruim, seremos criticados. Esse é o jogo da vida! É assim que as coisas funcionam, ainda mais quando os personagens em questão são pessoas públicas eleitas!
Edição n.º 1443.