A vitória do filme Ainda Estou Aqui no último domingo (2) foi comemorada em todos os cantos do Brasil. E foi comemorada porque o Oscar está para o cinema assim como a Copa do Mundo está para o futebol.
Não enaltecer a vitória de um filme brasileiro numa disputa tão importante como é o Oscar é de um antipatriotismo absurdo e isso analisando o caso sem levar em conta o roteiro do filme. Novamente, fazendo uma referência com o nosso tão amado futebol, deixar de ficar feliz por uma vitória dessa magnitude seria como não comemorarmos o título de campeão mundial simplesmente porque não gostamos de um jogador em especifico, o Neymar, por exemplo.
Ou seja, você pode até não concordar com o roteiro, pode até não concordar com a fotografia, com a música, pode até não gostar dos atores, mas é mesquinho menosprezar o feito que Ainda Estou Aqui alcançou.
Agora, falando especificamente sobre o roteiro contado em Ainda Estou Aqui, ele é sim um convite para que todos nós reflitamos sobre esse momento da História brasileira.
E a reflexão é necessária porque não podemos considerar normal que uma pessoa seja levada de sua casa pelo Estado Brasileiro e simplesmente suma. Não podemos aceitar que esse mesmo Estado que entendeu que aquela pessoa eventualmente era partícipe de um crime não lhe oportunize a ampla defesa. Que essa pessoa não seja formalmente acusada. Não podemos considerar normal que a família dessa pessoa a veja sendo levada de casa para jamais voltar.
E não podemos considerar normal porque – independentemente da quantidade de sinapses neurais que seus neurônios sejam capazes de fazer – isso não é normal. Não é certo! Não é legal. Precisamos entender que a grande diferença entre o Estado e os bandidos é justamente a necessidade de que o primeiro haja de acordo com as leis, independentemente do regime vigente.
No caso de Rubens Paiva o Estado não agiu de acordo com as leis e, com isso, se tornou um criminoso. Eis aí uma constatação simples de se fazer. E hoje, algumas décadas depois de tão vergonhoso fato, só podemos ver um filme a respeito do assunto porque não vivemos naquele regime. Da mesma forma, eu só posso escrever esse texto porque vivemos num país democrático, com leis que precisam ser seguidas, mas democrático. E, da mesma forma, você só vai poder comentar esse texto, discordar ou concordar com ele, dar a sua opinião, porque vivemos numa democracia.
Por isso, é tão importante terminarmos esse texto com a frase que Walter Salles pensou em dizer ao receber o Oscar por Ainda Estou Aqui: Viva a Democracia! Ditadura Nunca Mais.
Edição n.º 1455.