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Coluna Professor Rafael de Jesus: O que é ser cidadão em Araucária?

Gente de todo o Brasil, dos quatro cantos do mundo! Migrantes de um número incontável de cidades brasileiras e obviamente de muitos outros países, convivendo, divergindo, trabalhando, debatendo, sobrevivendo, enriquecendo, casando, construindo, fabricando, comprando, vendendo, escrevendo, militando, estudando, vivendo e conjugando muitos outros verbos no gerúndio.

Pessoas de lugares tão diferentes entre si, que seria inimaginável até o final da década de 1960, que, num único município, tanta diversidade étnico-racial, tantos sotaques, hábitos alimentares e visões de mundo se fariam presentes de uma só vez, em uma escala de tempo tão breve. Num único colégio, como no caso do Colégio Estadual Professor Júlio Szymanski, 1 dezena de nacionalidades chegaram a dividir o mesmo espaço acadêmico.

De uma cidadezinha com um pouco mais de 17 mil habitantes em 1970, Araucária, em pouco mais de meio século se converteu numa cidade industrial, com mais de 166 mil habitantes. Para se ter uma ideia, ano passado, ou seja, em 2022, as estimativas apontavam equivocadamente para 146 mil habitantes, uma diferença de 20 mil seres humanos que não estavam sendo consideradas pelas estatísticas. Uma diferença de mais de 13%, impactando todos os serviços públicos, impactando as nossas relações sociais, econômicas, políticas e culturais e, ainda assim, não sendo consideradas pelas estatísticas do IBGE. Araucária é maior do que imaginávamos.

Nas últimas décadas dezenas de bairros, conjuntos habitacionais e loteamentos surgiram no rastro do progresso industrial. Infelizmente nem todos os munícipes conquistaram o sonho da casa própria ou conseguiram a regularização dos seus imóveis. Atualmente, há quem aponte que são mais de 30 mil araucarienses, mais de 7.500 famílias, vivendo em moradias com algum grau de irregularidade, isso sem contar o déficit habitacional que aflige tantas outras famílias.

A Terra Prometida dos imigrantes europeus continua como promessa para muitos migrantes que aqui se estabeleceram desde a década de 1970. O sonho de um bom emprego ou da abertura de seu próprio negócio, que garanta condições dignas de vida, para que pais e mães possam criar seus filhos e filhas com algum conforto, parece distante para muitos.

Em Araucária muitos serviços públicos que normalmente estão sob a responsabilidade do governo do estado são mantidos pela prefeitura municipal, como o caso de escolas e hospital. Ao longo dos anos isso acabou sobrecarregando o orçamento municipal. Antigos combinados entre estado e município estão sendo revistos visando enxugar a máquina pública municipal.

Os desafios são imensos: qualificação profissional que garanta empregabilidade aos nossos munícipes, regularização dos imóveis irregulares, melhorias da infraestrutura urbana, criação de novos espaços de moradia, construção de escolas e CMEIs, cuidados com o meio ambiente e incremento dos investimentos em saúde, educação e segurança públicas, são apenas alguns dos principais desafios que deveremos enfrentar nos próximos anos.

Outro desafio importante tem sido a maior participação decisória dos moradores dos novos bairros na política municipal. Apenas muito recentemente esses bairros tem conquistado maior espaço político por meio de representantes eleitos da própria comunidade.

Os nossos irmãos imigrantes, vindos de países como Venezuela e Haiti, têm sido as maiores testemunhas do que a combinação entre precariedades materiais, preconceitos enraizados e negligências veladas pode causar sobre a vida em sociedade. Todos perdem.

Sociedades mais cosmopolitas tendem a construir soluções mais criativas. Onde a diversidade é vista como algo positivo, as possiblidades apresentadas pelos mais diversos segmentos são consideradas, colocadas à mesa. Quando se tem um rol maior de soluções possíveis, a chance de acertar é maior.
Apenas uma cidade de migrantes, que assim se reconheçam, pode se converter numa cidade inteligente, criativa, sustentável e com justiça social. Uma Smart City melhorada, que pensa para além dos recursos tecnológicos, que pensa de maneira inclusiva.

Ficam as reflexões, provocações e esperanças!

Edição n. 1355

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