Neste sábado, 28 de junho, celebramos o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, data que conscientiza a população sobre a importância do combate à homotransfobia para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e igualitária. É um dia que também deveria ser de comemoração, mas não quando a homofobia ainda impera em nossa sociedade.

A homofobia se revela nos lugares mais inesperados, como na recente publicação nas redes do Jornal O Popular da coluna Vando Fortuna, cujo tema foi “LGBTQIAPN+: Sobreviver já é o Milagre!” O tema gerou inúmeros comentários que podem caracterizar homofobia. Alguns deles, mais amenos, criticaram o próprio jornal, como se ao abordar o assunto estivéssemos perdendo credibilidade, tachando o texto de opinião de um colunista como ‘baixaria’, e fruto da falta de ‘conteúdos relevantes’.

Outros foram mais agressivos, de pessoas dizendo ter ‘nojo da comunidade LGBT’, chamando de ‘povinho de bosta’, alegando que ‘os homossexuais se fazem de vítimas, que querem ser diferentes e devem procurar sua turma’. O ódio destilado em cada comentário parece demonstrar o medo patológico que algumas pessoas sentem em relação à homossexualidade e aos homossexuais.

Para o tarólogo Evandro, autor da coluna “Vando Fortuna”, os comentários dão a entender que as pessoas se sentem autorizadas a odiar em nome de Deus, protegidas por uma justiça que raramente pune a homofobia. “O discurso religioso que nos demoniza alimenta um ‘ódio santo’, que fere e depois se esconde atrás da fé. Já processei agressores e não obtive resposta. A única justiça infalível que conheço são as preces que faço aos meus Exus e Pombagiras. É cruel, mas real: ser LGBTQIAPN+ ainda é um ato de coragem, sobreviver é um milagre, diante de um sistema que nos empurra pro abismo e constrói seus paraísos em cima de nosso sangue derramado”, argumenta.

Evandro também disse que as pessoas hoje polarizaram muito o discurso da comunidade LGBTQIA+, juntamente com questões políticas. “Existem hoje bandeiras extremistas de direita que pregam contra tudo que represente o LGBTQIAPN+. Quando na verdade, as nossas vidas e as nossas causas não estão ligadas e amarradas a partidos políticos”.

Ele ressalta que os comentários na sua coluna são maldosos e criminosos. “Na verdade, tudo aquilo que está sendo escrito ali representa o que a maioria que dizem estar com Deus e com a lei pensa a respeito dessas vidas. Escrever e estar num jornal é um milagre. E isso agride muito as pessoas que leem com os olhos do ódio, porque na verdade, a gente poderia estar na lista do obituário, que talvez seja o espaço de respeito”, lamenta o tarólogo.

A reportagem do Jornal O Popular entrou em contato com algumas das pessoas que deixaram comentários na postagem da coluna “Vando Fortuna”, para ouvir suas versões. Acompanhe algumas respostas.

“Indignação. Uma pauta desnecessária, eles utilizam do pressuposto ‘inclusão’ para roubar os direitos de quem realmente deveria ser incluído, que são os PCDs. E demais, esse pessoal apenas faz bagunça e deturpam os valores cristãos que nossa sociedade brasileira construiu. Se fosse apenas respeitar, ok, mas eles querem obrigar todos a aceitarem os valores morais e anti família deles”.

“Pela minha idade, 70 anos, tenho a visão que antes o povo não tinha discriminação racial, preto era preto, branco era branco, velho era velho, criança era criança, cada um era respeitado. Hoje em dia, criam tantas divisões que acabam criando discriminações (…). Hoje temos pessoas que se dizem homens e amanhã já se dizem mulheres e querem que a gente aceite tanta coisa, mas eles não aceitam o nosso pensar. Desculpem pela maneira de expressar, mas é o que eu vejo e sinto”.

APOIO IMPORTANTE

Segundo a assistente social e coordenadora do Centro de Referência Especializado da Assistência Social de Araucária – CREAS, Josiane Ferreira, a homofobia pode se manifestar de diversas formas, tanto de maneira explícita quanto velada. Isso inclui agressões físicas, ameaças, ofensas verbais, xingamentos, piadas preconceituosas, exclusão social, recusa de atendimento, demissão no ambiente de trabalho, discriminação no acesso a serviços públicos ou privados, além de violências psicológicas e simbólicas, que reforçam estigmas e marginalizam pessoas LGBTQIAPN+.

Desde 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a homofobia e a transfobia foram equiparadas ao crime de racismo, previsto na Lei nº7.716/1989. Isso significa que atos de discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero são considerados crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Além disso, podem ser enquadrados em outros tipos penais, como injúria, lesão corporal, ameaça ou até tentativa de homicídio, dependendo do caso.

“A homofobia produz impactos significativos tanto no âmbito individual quanto coletivo. Para quem sofre, gera danos emocionais, traumas, ansiedade, depressão, isolamento social, evasão escolar e até risco de suicídio. No coletivo, perpetua a cultura de intolerância, desigualdade e violência, fragilizando os princípios de direitos humanos, da convivência democrática e do respeito às diversidades”, afirma Josiane.

A assistente social explica que o CREAS atua na proteção social especial de média complexidade, prestando atendimento especializado às pessoas que tiveram seus direitos violados, incluindo situações de violência motivada por homofobia. O serviço oferece acolhida, escuta qualificada, orientação sobre direitos, fortalecimento de vínculos comunitários e familiares, articulação com a Rede de Proteção (Delegacia, Defensoria Pública, Ministério Público, Judiciário, Saúde, Educação, entre outros), além do acompanhamento psicossocial visando a superação das situações de violência.

“Embora a busca espontânea deste público no serviço seja baixa no território, o CREAS está preparado, dentro de sua competência, para acolher, orientar e acompanhar casos de violação de direitos relacionados à população LGBTQIAPN+. Apesar de identificarmos, nos últimos três anos, uma baixa procura espontânea dessa população pelo serviço, com registro de apenas dois casos, entendemos que isso não necessariamente reflete a ausência de situações de violência. Isso pode estar relacionado à subnotificação, ao medo do preconceito, ao desconhecimento sobre os serviços ou à desconfiança na efetividade da rede de proteção”, comenta.

Araucária conta com o Comitê Intersetorial de Atenção Integral à População LGBT, oficializado pelo Decreto nº 40.765, de 13 de maio de 2024, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde. Este Comitê tem como atribuição acompanhar, avaliar e propor estratégias para a efetivação da Política Municipal de Atenção Integral à População LGBTQIAPN+. As reuniões ordinárias ocorrem uma vez ao mês, no Núcleo de Educação Permanente e Eventos em Saúde (NEPES), localizado na Rua Estanislau Grebos, s/n, Centro (entrada do antigo Hospital São Vicente), das 10h às 12h. A participação é aberta a todas as pessoas interessadas na pauta. Próximas reuniões agendadas: 08 de julho, 09 de setembro, 14 de outubro, 11 de novembro e 09 de dezembro.

O CREAS está localizado na Rua Félix Klechovicz, 555 – Porto das Laranjeiras. Telefone: (41) 3614-1497 / e-mail creas@araucaria.pr.gov.br

Edição n.º 1471.