Não seria exagero dizer que Rosane Ferreira é a maior expoente da política local de todos os tempos. Foi uma das candidatas a vereadora mais votadas na eleição de 2000, mas não se elegeu. Porém, ganhou visibilidade. Em 2004 foi candidata a prefeita. Perdeu, mas ganhou musculatura.
Em 2006 disputou sua primeira eleição estadual. Candidata pelo nanico PV, conseguiu se eleger numa daquelas circunstâncias tão raras como o alinhamento de planetas, sol e lua que nos possibilitam os eclipses.
Em 2010, novo alinhamento de planetas, sol e lua e a estrela de Rosane brilhou novamente. Foi eleita deputada federal. A primeira da história do PV. A primeira deputada federal da história de Araucária. Passados quatro anos, Rosane surge candidata a vice-governadora na chapa encabeçada por Roberto Requião. Não ganhou. Mas não perdeu.
Sem mandatos depois de oito anos, Rosane voltou para a casa: uma unidade básica de saúde. Enfermeira concursada da Prefeitura de Araucária, por lá ficou. Em 2016 voltou aos pleitos eleitorais. Agora novamente candidata a prefeita. Perdeu. E não tinha como ser diferente. O alinhamento de planetas, lua e sol naquele ano fez surgir um novo astro: Hissam Hussein Dehaini (Cidadania).
Rosane, porém, ao contrário de outros políticos locais, aceitou bem a derrota. Desejou sorte ao vencedor e voltou à sua unidade básica de saúde. Por lá ficou mais um tempo e se aposentou do serviço público de carreira.
Em 2018, ela se desintoxicou de campanhas. Não foi candidata. Em 2020, esperta, não se arriscou numa disputa majoritária. Hissam estava ainda mais forte. E disputar aquele pleito era se sujeitar a passar a vergonha eleitoral que Albanor José Ferreira Gomes (Podemos) acabou passando.
Rosane então voltou as origens. Foi atrás do cargo que inicialmente almejou. Candidatou-se a vereadora! Eleição complicada, pandemia, distanciamento social, chapas puras, longe de mandatos há quatro anos. Tudo poderia ter dado errado. Mas alinhamentos de planetas, lua e sol não acontecem apenas uma vez. E Rosane já fora beneficiada por eles em outras duas oportunidades. Uma terceira não seria impossível. E não foi. Ela se elegeu! Conseguiu o cargo que primeiro almejou.
Na Câmara teria a oportunidade de fazer aquilo que sempre cobiçou: ajudar a cuidar da casa que escolheu para viver, a cidade de Araucária. É preciso, porém, ter cuidado com aquilo que se deseja. Rosane não se encaixou. Era um peixe fora d’água naquele plenário.
A Rosane que poderia contribuir com a Câmara era aquela da eleição de 2.000. E não a experimentada Rosane com quatro anos de Assembleia Legislativa, que conviveu com 54 deputados estaduais, que não pertenceu ao alto comando do parlamento paranaense, mas que teve espaço para discutir políticas públicas voltadas ao meio ambiente, direitos das mulheres e por aí vai.
A Rosane que poderia contribuir com a Câmara era aquela dos 791 votos e não há que passou quatro anos em Brasília, dividindo o salão verde do Congresso Nacional com outros 512 parlamentares. Na Capital Federal Rosane foi baixo clero, mas era respeitada. Assídua, aprendeu muito em termos de políticas públicas. Propôs projetos importantes, mas ampliou demais seus horizontes. Participou de missões diplomáticas mundo afora. Discutiu carbono zero, desenvolvimento sustentável, conversou sobre políticas para mulheres com Marta Suplicy, Luiza Erondina e por aí vai. Participou de cúpulas da ONU, conheceu soluções em saneamento básico implantadas em Berlim, na Alemanha. Visitou a China e se assustou com o modo como eles tratam seus dependentes químicos. Participou da Rio + 20, coordenou grupos de trabalho sobre clima e por aí vai. Gente, como depois de ter toda essa vivência, você volta para um plenário com outros dez edis para discutir colocação de lombada, instalação de semáforos, tapa-buracos, entre outras demandas tão comezinhas como as de uma cidade de 150 mil habitantes?
A Rosane que voltou para Araucária não era a mesma que foi à Assembleia e posteriormente à Câmara dos Deputados. E talvez tenha sido este o maior erro político da vida dela. Ter pensado que poderia contribuir como vereadora depois ter sido deputada estadual e federal. A política municipal é muito diferente da estadual e nacional.
Embora seja preciso respeitar a decisão de Rosane de renunciar ao cargo. Embora seja preciso elogiá-la por ter tido essa coragem, já que não se sentia capaz de ser contributiva em seu exercício, é preciso dizer também que a renúncia é sempre um ato covarde. Libertador, mas covarde. Afinal, quem votou em Rosane para vereadora não queria ver Fábio Pavoni ocupando aquela cadeira por três anos e meio de um total de quatro. A renúncia de Rosane é sim uma traição aos seus eleitores. Todas as 1.244 pessoas que votaram nela podem até perdoá-la, mas isso não fará com que a traição não tenha sido cometida.
No mais, a renúncia de Rosane deve servir de alerta para todos aqueles que almejam servir ao Município como vereadores. Cuidado com o que desejam! Não há glamour no exercício da vereança. Vereadores não executam políticas públicas, não ordenam despesa e pouco podem legislar. A tarefa é muito mais fiscalizatória do que qualquer outra coisa. E fiscalizar uma cidade que vai razoavelmente bem torna o trabalho muito mais tedioso e muitas vezes, desestimulador.
Texto: Waldiclei Barboza
Publicado na edição 1268 – 01/07/2021