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Desconectando para conectar: Nova lei proíbe o uso de celulares em ambiente escolar
Foto: Divulgação

A nova lei que proíbe o uso de celulares nas escolas do Brasil, sancionada em janeiro de 2025, traz à tona o debate sobre o uso consciente da tecnologia na educação. A medida pretende minimizar distrações, aumentar a concentração dos alunos e estimular a interação social, além de proteger a saúde física e mental dos estudantes. A equipe do jornal O Popular entrou em contato com alguns colégios de Araucária, para entender como eles estão implementando a nova lei e como está sendo a receptividade dos alunos em relação a essa proibição.

A direção do Colégio Metropolitana adotou uma abordagem pedagógica para implementar a nova lei, priorizando a conscientização dos alunos e professores. “Em reunião com os docentes, ficou decidido que a melhor estratégia seria o diálogo. No primeiro dia de aula, os alunos foram orientados a manter os celulares desligados dentro das mochilas, só podendo usá-los após sair da escola” afirmou a direção. Ainda segundo eles, a adaptação tem ocorrido de forma tranquila, com os estudantes respeitando as regras e os professores seguindo a mesma conduta.

O Colégio Adventista também adotou uma abordagem estruturada para a implementação da nova lei, promoveu treinamentos com professores e funcionários, além de reuniões com os pais para reforçar a importância do controle do uso da tecnologia. A direção enfatiza que mesmo nos primeiros dias de aula, algumas mudanças comportamentais dos alunos já foram notadas, como maior interação e concentração nas aulas. “Eles ficam ali mais em grupinhos conversando. Fazem algumas brincadeiras e há uma interação maior entre eles. E isso acaba refletindo também na aula. Dentro daquilo que o professor está trabalhando, daquilo que ele está abordando, o aluno tem uma participação maior e acaba prestando atenção, mesmo que não queira. Se tivesse a concorrência do celular, talvez tentasse olhar alguma. Com essa questão da proibição do celular, ele acaba automaticamente tendo que olhar para o professor.” afirmou a direção do Colégio Adventista de Araucária.

A lei não estabelece uma forma com que a escola deve controlar o uso, mas como ela define a proibição do uso e não do porte do celular, tanto o Colégio Metropolitana como o Colégio Adventista preferiram o caminho do diálogo e da orientação, indicando que os alunos devem deixar os celulares desligados durante todo o período escolar.

Além disso, situações como o uso do celular para pagamentos na cantina exigem adaptações rápidas. “No entanto, consideramos que a medida tem sido positiva, notando maior interação entre os alunos e um aumento na atenção durante as aulas. Apesar da resistência inicial, os estudantes têm colaborado e compreendido a importância da mudança, especialmente devido ao apoio e à orientação das famílias”, reforçou a direção.

Nossa equipe também entrou em contato com colégios da Rede Estadual de Ensino, incluindo o Colégio Guajuvira, na área rural, e o Colégio Estadual Júlio Szymanski. No entanto, devido à diferença no calendário letivo entre as redes pública e privada, as instituições não puderam dar um parecer sobre o tema.

Um mundo off-line

Para entender melhor as questões psicológicas, a reportagem do O Popular também conversou com a psicóloga Mariana Kirchner.

Ela explicou que a proibição do uso de celulares nas escolas pode ter impactos tanto positivos quanto negativos, dependendo da forma como é implementada. “É importante entender que toda proibição, quando imposta de forma rígida, carrega um tom de punição, e é justamente essa abordagem punitiva que pode trazer efeitos negativos. As crianças e adolescentes de hoje cresceram imersos na tecnologia, e a simples retirada do celular sem uma explicação clara e sem alternativas atrativas pode gerar frustração e resistência”, afirmou Mariana.

Nesse contexto, ela reforça que a escola desempenha um papel fundamental. “Antes de tudo, é primordial entender que a simples proibição não resolve o problema por completo. O papel das escolas vai muito além de restringir; é necessário reensinar crianças e adolescentes a como se relacionar de forma saudável com o mundo ao seu redor. Isso significa criar oportunidades para que eles desenvolvam habilidades sociais, emocionais e cognitivas fora do ambiente digital”, completou.
Apesar disso, Mariana destaca que a medida pode ser benéfica para a concentração e o aprendizado.

“Sem as distrações constantes das notificações e redes sociais, os alunos conseguem se dedicar de forma mais plena aos estudos”, afirmou. No entanto, ela reforça que se a restrição for imposta de maneira autoritária, pode gerar resistência e uma sensação de punição. Para evitar esse efeito negativo, é fundamental que a mudança seja feita de forma gradual e dialogada, explicando aos estudantes os motivos da medida e oferecendo alternativas atrativas que tornem a escola um espaço mais dinâmico e envolvente.

Os pais e educadores têm um papel fundamental nesse processo, e Mariana sugere que, em vez de apenas punir o uso excessivo do celular, é mais eficaz adotar estratégias de reforço positivo. Ela explica que elogiar e valorizar comportamentos saudáveis, como escolher participar de uma atividade off-line, pode incentivar os alunos a se desvincularem da tecnologia de forma natural.

A psicóloga enxerga a nova lei como uma oportunidade para beneficiar o desempenho escolar dos estudantes, desde que acompanhada de estratégias que envolvam os estudantes e os incentivem a enxergar o mundo off-line como um espaço rico em possibilidades.

Edição n.º 1451. Nina Santos.

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