Em meio a uma crise de reputação nunca antes vista em sua história, o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária (Sismmar) decidiu suspender a deflagração de um movimento grevista que estava marcado para começar na próxima quarta-feira, 25 de junho, e que prometia prejudicar milhares de famílias araucarienses que dependem da rede municipal de ensino.

A decisão de suspensão da greve foi tomada na última quinta-feira, 12 de junho, em assembleia extraordinária convocada pela direção do Sismmar. Do total de professores que participaram da reunião, 355 votaram pelo cancelamento da greve. Outros 19 defenderam sua manutenção e 3 se abstiveram de votar.

A assembleia da semana passada, inclusive, teve que ser realizada virtualmente porque as funcionárias que trabalham no sindicato e que são quem organizam os atos presenciais do sindicato, estão afastadas por razões médicas. O motivo desse afastamento seria justamente o assédio moral que estariam sofrendo por parte da direção da instituição. Um dos diretores, inclusive, foi acusado de assediar sexualmente uma dessas trabalhadoras. As várias acusações de violações de direitos praticadas dentro das quatro paredes da sede do Sismmar foram divulgadas pelo O Popular na semana passada.

COMISSÃO DE ÉTICA

Também durante a assembleia o sindicato aprovou a criação de uma comissão de ética para apurar as acusações de assédio moral, violação de direitos e assédio sexual feitas contra diretores do Sismmar. O grupo será composto pelos professores Jorge Galarce, Kathleen Schmidlin Marczynski, Rosane Purkot, Maristela Meira Goinski e Lisiane Ribas. A escolha dos membros do grupo de trabalho gerou controvérsias, já que a maioria deles é ligada a diretoria que teria praticado os assédios.

Entenda as acusações contra o Sismmar conforme mostrou matéria de O Popular veiculada na semana passada, são pelo menos sete as funcionárias diretas do Sismmar que teriam sido vítimas de assédio moral, violação de direitos trabalhistas e até assédio sexual praticados por diretores da instituição. Destas, quatro permanecem formalmente contratadas pela entidade e três já se desligaram.

O ambiente hostil dentro da entidade seria tanto que nas últimas semanas o Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Sindicais do Paraná (Sesocepar), que representa as trabalhadoras, apresentou denúncia contra o Sismmar ao Ministério Público do Trabalho (MPT), por assédio moral. As denúncias são de não pagar o piso da categoria, negar equiparação salarial, desvio de função, assédio moral e sexual.

Em audiência de mediação realizada pelo MPT, as partes não chegaram a um acordo global sobre as demandas e agora o Sismmar tem até o dia 20 de junho para se defender das denúncias.

MANIFESTO

As sete trabalhadoras do Sismmar chegaram a divulgar um manifesto nos últimos dias em que pedem respeito a direção do sindicato. “Estamos há mais de uma semana afastadas do trabalho devido ao adoecimento psicológico e nesse tempo pensamos que poderíamos descansar, o que não ocorreu em um dia sequer. Desde que optamos por lutar na Justiça contra o assédio moral e sexual não tivemos nenhum dia de paz”, escreveram.

Elas ainda se dizem aterrorizadas com a tentativa da direção do Sismmar de querer transformar a dor que elas estão sentindo numa guerra política. “Ficamos aterrorizadas ao saber o que houve na assembleia. Aterrorizadas com tanta difamação por parte da direção do Sismmar e assustadas em ver como dizem essas mentiras em público com tanta normalidade. Horrorizadas por ver a forma como o nosso sindicato Sesocepar foi atacado pelo próprio advogado da categoria. Não é normal sindicalistas falando que todas as trabalhadoras são mentirosas. Não somos mentirosas, somos trabalhadoras que se cansaram de salário baixo, falta de respeito e assédio moral. Somos quem se rebelou com a tentativa de acobertamento de assédio sexual e favorecimento do agressor em detrimento da vítima. Temos todas as provas de diversos episódios de assédio moral que, na hora certa, esperamos que possam vir à tona. Enquanto isso, seguiremos atendendo às orientações jurídicas e agindo de forma correta e justa”, escreveram.

Elas ainda convidam a direção do Sismmar a uma autocrítica e passarem a praticar aquilo que dizem defender. “O Sismmar não cobra que a Prefeitura pague o piso? Então pague o piso! Não cobra equiparação? Dê equiparação! Não cobra o fim do assédio moral? Pare de assediar! Não faz campanha contra o assédio sexual? Combata quando ele ocorre dentro do Sindicato também! Repudiamos a narrativa elitista de que não somos capazes de nos organizar e lutar por nossos direitos. Temos inteligência e capacidade para exigir o que é nosso direito. É a direção que nos deve, e não o contrário. Não estamos pedindo nenhum favor, só cobramos o que é nosso. Nos deixem em paz”, pontuaram.

Edição n.º 1470.