A pandemia da Covid 19 acabou trazendo mais reconhecimento aos profissionais da Enfermagem. Enfermeiros e enfermeiras ganharam a merecida visibilidade, conquistaram a admiração e respeito das pessoas, e também se tornaram importantes protagonistas da saúde. Quem não se lembra das homenagens que a população em todo o mundo fez a esses heróis? Seja na linha de frente ou mesmo em outros setores da saúde, todos os dias eles deixam suas casas, famílias, para estudar estratégias e planos, para atender pacientes nas unidades de saúde e hospitais e ainda imunizar e acalentar centenas de milhares de pessoas, passando pelas mais diferentes barreiras e desafios. São guerreiros, que doam suas vidas para cuidar do próximo. São profissionais, que como tantos outros, buscam mais reconhecimento, com jornada de trabalho e salários mais dignos.
A quarta-feira, 12 de maio, foi deles. Foi o Dia Mundial do Enfermeiro. E na data especial, eles nos contaram um pouco sobre suas rotinas de trabalho e nos trouxeram relatos apaixonados dessa profissão que escolheram, ou melhor, da profissão que os escolheu.
Conheça alguns profissionais
Patrícia Cordeiro Queiroz Clementi, 34 anos
Patrícia Cordeiro Queiroz Clementi tem 34 anos, é enfermeira há 11 anos. Casada e mãe de uma menina de 9 meses, ela mora em Curitiba e atualmente trabalha no Departamento de Atenção Primária à Saúde de Araucária. Para ela, a Enfermagem é a ciência do cuidar, é se dedicar integralmente a um paciente e entender suas limitações físicas e emocionais. “Ser enfermeira é fazer tudo da melhor forma possível, com respeito e conhecimento, tratar o outro como gostaria de ser tratado na situação inversa”, destaca.
Com uma jornada limitada a apenas um turno, por conta das restrições da creche da filha, Patrícia falou da dificuldade do dia a dia na profissão, dos muitos momentos em que se sentiu impotente diante de uma situação. “Acredito que esse seja o motivo de maior frustração, isso acontece também quando temos a esperança que o paciente se recupere, e o pior acontece. Na pandemia, principalmente, sofri com a perda de pessoas que amava e convivo com o medo de perder mais alguém. Mas a profissão tem muitos momentos gratificantes. No dia a dia, com a assistência direta ao paciente e familiares, sentimos que fazemos a diferença na vida daquelas pessoas que estão se curando, se recuperando ou mesmo no final da vida, quando fazemos o máximo para ajudar aquelas que estão num momento delicado e recebemos seu agradecimento e reconhecimento de retorno”, relata.
Elisa Baggio Soares, 26 anos
Exemplo forte de perseverança é a enfermeira Elisa Baggio Soares, 26 anos, noiva e sem filhos. Na profissão há quatro anos, atualmente ela trabalha na Prefeitura de Araucária, na Gestão da Atenção Primária e é coordenadora técnica do Departamento de Atenção Primária (DAP). Elisa mora em Curitiba e também é professora para concursos e residências e tem um instagram (@enfermeira.elisa) em que motiva milhares de pessoas da enfermagem. “Eu digo que não escolhi a enfermagem, pois ela me escolheu. Para mim, ser enfermeira é cuidar do próximo, com excelência e cientificidade. É estudar todos os dias e aprender com cada paciente, vendo o ser humano em sua totalidade e não apenas a sua doença ou condição”, comenta.
Elisa é tão dedicada que quando atende um paciente diabético, por exemplo, não cuida apenas da sua condição, a diabetes. Ela analisa o seu contexto social, histórico familiar, tenta identificar as suas vulnerabilidades, prescreve os cuidados necessários e está sempre em busca da promoção e prevenção à sua saúde. “Não é à toa que eu, como enfermeira, me considero extremamente criativa. Já tive pacientes com dificuldades de entender o horário das medicações e criei desenhos para colar em sua geladeira. Já tive pacientes pediátricos que não queriam de jeito nenhum que eu fizesse o curativo e me fantasiei do seu super herói favorito para que ele ficasse mais confortável e me deixasse realizar os cuidados necessários”, orgulha-se.
Como todo profissional da enfermagem, Elisa vive altos e baixos na profissão. Na pandemia, já perdeu colegas e disse ter sido muito difícil. “Uma notícia muito triste foi a morte de um médico que tive a oportunidade de trabalhar em uma unidade de saúde aqui de Araucária. É muito triste perder um colega, pois sabemos que nosso trabalho é salvar vidas e faremos todo o possível, mesmo que isso custe a nossa vida, como custou a dele. Nos sentimos vulneráveis e precisamos continuar fortes pois há pacientes, famílias e doentes que continuam precisando do nosso cuidado”, lamenta. Mas a enfermeira destaca também os momentos gratificantes, que costumam ser rotina. Segundo ela, sempre que um paciente sai de uma condição de saúde complicada, se cura ou precisou do seu cuidado como enfermeira e ela vê a sua recuperação, é uma alegria e sensação de dever cumprido. “Um episódio específico que nunca vou me esquecer foi quando em uma consulta de enfermagem pedi para o paciente, que era um senhor diabético, retirar os sapatos pois eu iria avaliar seus pés (faz parte do exame físico do diabético a avaliação do pé por conta do risco de desenvolvimento de lesões). Esse senhor começou a chorar e eu perguntei a ele o motivo, e ele me disse: ‘Obrigada enfermeira por se preocupar tanto comigo nessa consulta. Nunca fui tão bem cuidado assim’”, relata Elisa, lembrando que um enfermeiro, mesmo com anos de experiência, nunca está preparado para perder um paciente. “Pois perder um paciente é perder o amor de alguém e isso nunca será fácil”, diz.
Juliana Telles dos Santos, 32 anos
Saber cuidar e ajudar as pessoas, com conhecimento científico, para proporcionar um cuidado de qualidade. É dessa forma que Juliana Telles dos Santos, 32 anos, descreve a profissão de enfermeira. Moradora do Capela Velha, ela é solteira, não tem filhos, e está na profissão há pouco mais de seis anos. Atualmente trabalha na Clínica de Diálise Araucária Eireli e na Prefeitura de Araucária, no Departamento de Atenção Primária. É apaixonada pelo que faz. “Eu sempre acreditei que eu tinha talento para cuidar das pessoas, então comecei fazendo o técnico de enfermagem e depois fiz a faculdade”, relata.
Juliana tem uma jornada de trabalho intensa, trabalha 6 horas na clínica e mais 6 horas na Prefeitura, nesta última gerencia a linha de cuidados da saúde da criança e do adolescente. Assim como os colegas de profissão, ela entende que a Enfermagem precisa de mais reconhecimento, com jornadas de trabalho e salários mais dignos. “Nosso desafio é diário e precisamos que isso seja reconhecido”, disse.
Juliana entende que toda profissão tem seus altos e baixos, e para ela, um momento emocionante que viveu na enfermagem foi quando viu uma criança que se encontrava em estado grave, se recuperar e voltar para o seu lar. “A perda de pacientes, sem dúvida, é sempre o momento mais difícil para nós enfermeiros, queremos que todos se recuperem”, comenta.
Priscila Berveglieri, 34 anos
Priscila Berveglieri, 34 anos, casada e sem filhos, é mais uma guerreira que se dedica todos os dias ao exercício da enfermagem. Ela reside em Curitiba, passou no concurso da Prefeitura de Araucária e iniciou seu trabalho como enfermeira em uma unidade de saúde. Não demorou e ela recebeu o convite para gerenciar a pasta da Saúde da Mulher e também para atuar como Responsável Técnica de Enfermagem. “Sou enfermeira há 6 anos, formada pela Universidade Estadual de Londrina, com residência em Enfermagem Obstétrica. A escolha da enfermagem veio de forma natural na minha vida, meu pai sempre trabalhou na área da saúde e foi um dos grandes influenciadores na minha decisão. Gosto do que faço e acredito que devemos lutar para que a carga horária do enfermeiro seja de 30h semanais para toda a equipe, e pela aprovação de um piso salarial justo, que está em pauta com o Projeto de Lei 2.564/2020”, comenta Priscila.
Para ela, a pandemia tornou ainda mais evidente a importância dos trabalhadores da área da saúde, sendo a maioria da enfermagem. “Infelizmente, muitos colegas perderam suas vidas tentando salvar outras, são verdadeiros heróis do nosso tempo. É recompensador na profissão ter a possibilidade de cuidar de algo tão sagrado, a vida! E quando a saúde do paciente é reestabelecida, torna-se uma grande conquista para nós também. A enfermagem é a categoria profissional que está mais envolvida com o paciente. Quando o desfecho é a morte do paciente, torna-se o momento mais difícil, e trabalhar com a perda é uma possibilidade de crescimento pessoal muito intenso, porque aprendemos a valorizar o tempo como algo precioso em nossas vidas”, explica.
Ariane Sossela Zanlorenzi Cardoso, 39 anos
Superando dificuldades diariamente vive também a enfermeira Ariane Sossela Zanlorenzi Cardoso, 39 anos. Ela é casada e tem dois filhos. Mora em Campo Largo e trabalha na Prefeitura de Araucária, no Departamento de Atenção Primária, como Gerente das Doenças Crônicas. Ao todo, ela está há 18 anos na Enfermagem. “No início da minha carreira, em 2003, trabalhei em uma UTI particular. Em 2006 iniciei no serviço público em outra prefeitura, e lá trabalhei por 15 anos, tempo de muito aprendizado, porém neste tempo eu ainda não era enfermeira graduada, trabalhava como técnica de enfermagem. Estou formada há apenas 2 anos, e no ano passado passei no concurso público em Araucária para atuar como enfermeira, como era o meu sonho. Creio que a Enfermagem que me escolheu, e através desta profissão posso expressar meu carinho, amor ao próximo”, compara.
Ariane cita ainda que a Enfermagem é a ciência do cuidar, é se dedicar integralmente a um paciente e estar atenta em todos os pontos e limitações físicas, é saber ouvir e dar atenção. Ser enfermeira é saber humanizar, se interessar pelo problema, preocupar-se em encontrar soluções mais adequadas. Também necessita da prudência, cautela, zelo, responsabilidade e preocupação. “Ser enfermeira é um dom de Deus”, completa.
Para a enfermeira, além das dificuldades inerentes à profissão, a pandemia trouxe novos desafios. “Profissionais na linha de frente, principalmente em hospitais, enfrentam a desvalorização e defasagem salarial, isso faz com que muitos assumam mais de um vínculo empregatício, tornando sua jornada de trabalho cansativa, porém também temos várias dificuldades no serviço público, como a falta de comprometimento de alguns profissionais, que não ‘vestem a camisa’”, pontua. Ela já viveu momentos de grande emoção na profissão, mas lembra de um deles que a marcou de forma negativa. “Minha mãe, de apenas 46 anos, morreu em meus braços, em 2005. Ela teve uma embolia pulmonar, e eu presenciei, sendo uma profissional capacitada para o atendimento, fui realizando a ressuscitação até o local hospitalar, porém foi fatal. Pensei em desistir de tudo, porque me senti impotente em não conseguir trazê-la de volta. Mas tive muitas pessoas ao meu lado que me apoiaram, e o sonho de minha mãe era me ver formada/graduada”, disse.
Márcio Souza dos Santos, 26 anos
Morador do bairro Vila Nova, o enfermeiro Márcio Souza dos Santos, 26 anos, é casado e não tem filhos. Seu atual local de trabalho é a Unidade Básica de Saúde da Família São José (jardim Tupy). Está no comando da UBS e sua função é gerenciar o cuidado da saúde em nível da Atenção Primária, para mais de 15 mil habitantes atendidos pela unidade. Há quatro anos na Enfermagem, ele conta que sua história com a escolha da profissão iniciou após conversas com os pais sobre a sua vida. “Assim que nasci, meus pais relatam que precisei ficar internado, não se recordam o motivo, mas lembram dos cuidados que recebi durante o período de internação. Além desse fato, houveram outros momentos que o cuidar me fez refletir a sua importância, complexidade e como eu poderia apoiar as pessoas neste aspecto. Quando foi se aproximando o final do ensino médio, tive a oportunidade de ir em algumas feiras de profissões e foi em uma delas que decidi fazer o curso de Enfermagem”, disse o enfermeiro.
Ser enfermeiro para o Márcio é desempenhar o exercício da profissão, respeitando os preceitos éticos, com toda a competência técnica e científica que se aprende durante a graduação, ter raciocínio crítico, epidemiológico e muitas vezes, pensamento rápido para agir nas inúmeras adversidades nos atendimentos prestados. “Penso que muitas pessoas associam a enfermagem como a arte do cuidar, intimamente relacionada ao amor, no entanto, ressalto que é uma profissão regulamentada, que tem suas atividades norteadas pela ciência. O ser enfermeiro, além da atuação em unidades básicas de saúde, também é presente nas instituições de ensino (docente), pesquisador, em empresas, hospitais, Unidades de Pronto Atendimentos e outros inúmeros pontos de trabalho”, comenta.
Márcio também lembra que a profissão tem seus momentos ruis. “Como é de conhecimento de todos, por mais que fomos homenageados em praças, aviões, ainda não somos uma profissão com piso salarial estabelecido e esse seria um dos grandes avanços e reconhecimentos para nossa categoria”, reforça.
Texto: Maurenn Bernardo
Publicado na edição 1261 – 13/05/2021