Os familiares de uma criança de dois anos e seis meses, denunciaram o atendimento médico recebido no dia 14 de abril, no Pronto Atendimento Infantil (PAI). Segundo a mãe, Miriã Ribeiro Francisco, a filha tomou a vacina contra a gripe na Unidade Básica de Saúde da localidade de Fazendinha, porém apresentou febre alta no dia seguinte (15/04). Ela relata que levou a criança até o PAI e o diagnóstico foi uma dor de ouvido, retornando para casa com receita de Ibuprofeno e Dipirona. “Ela não apresentou melhoras e no sábado (17/04) retornamos com ela ao PAI, onde ficou internada com quadro de pneumonia grave. Recebeu os primeiros atendimentos e a equipe iniciou a medicação. Ela também fez o teste da Covid 19. Até esse momento, minha filha foi bem atendida, no entanto, no domingo (18/04) o quadro dela piorou. Ela gemia muito e decidi pegar ela no colo e deitá-la de barriga pra baixo, foi quando ouvi um barulho semelhante a bolhas de água no pulmãozinho dela. Chamei o enfermeiro de plantão e pedi que a avaliassem. A médica plantonista chegou na porta do quarto, olhou de longe e perguntou o que estava acontecendo. Respondi que minha filha estava gemendo e que eu teria ouvido um barulho estranho na respiração dela. A médica não fez sequer uma ausculta pulmonar e disse que ela estava bem no meu colo. Nem sequer avaliou a criança. Ainda foi questionada pelo profissional de enfermagem, se não iria fazer uma avaliação, e a resposta foi de que quando minha filha tivesse com dor de verdade, era para retornar e chamar. Depois disso saiu”, relembra Miriã.
A avó da criança, Clair de Fátima Ribeiro está revoltada e disse que se ao menos a médica tivesse examinado o pulmão da bebê, poderia ter percebido o derrame pleural que foi diagnosticado na sequência. “Se minha neta tivesse feito a drenagem no dia 18 mesmo, poderia não estar na situação em que se encontra hoje. A evolução da doença foi muito rápida devido à falta de atendimento. Na segunda-feira (19/04) a equipe que assumiu o plantão, vendo a preocupação da enfermagem, a levaram com urgência para a UTI do HMA e iniciaram a drenagem. Minha netinha teve que ser entubada. O acúmulo de água no pulmão agravou muito a situação e isso poderia ter sido evitado com uma simples avaliação. No dia 21/04 minha neta teve uma parada cardiorrespiratória de 20 minutos, e no mesmo dia, precisou fazer transfusão de sangue por causa da infecção que acarretou devido à evolução do derrame. Ainda no dia 21/04 ela foi transferida para o Hospital de Clínicas, em Curitiba”, conta a avó.
A garotinha de apenas dois anos e seis meses continuou em coma induzido, entubada e com um dreno no pulmão. Ela teve alta da UTI no 05/05 e a alta da enfermaria foi no dia 10/05. “Os médicos do HC explicaram que por causa da parada cardiorrespiratória, minha filha vai precisar de avaliações de especialistas para detectar as possíveis sequelas. Estamos com ela em casa há cerca de 20 dias, graças a Deus ela está reagindo muito bem. O problema é que eu tive que parar de trabalhar para cuidar dela, e hoje minha filha é submetida a vários tratamentos, como terapia ocupacional, fisioterapia, neuro psicologia fonoaudiologia, e tudo isso precisamos pagar. Não temos condições de manter o tratamento de alto custo. Estamos recebendo ajuda das pessoas. Minha filha não pode interromper o tratamento, ela está com sérios problemas de coordenação motora, com agravante do quadril para baixo, precisamos de uma solução para isso”, lamentou a mãe.
A avó da criança já fez reclamação na Ouvidoria do HMA e do Município, denunciando a postura da médica que teria se negado a avaliar a criança no dia 18/04. “Eles nos deram algumas respostas, mas não aceitamos. É impossível aceitar que uma médica tenha se negado a examinar o pulmão de uma criança. Essa falha quase custou a vida da minha neta. Graças a Deus, ela está conosco, mas as sequelas ficarão para sempre”, disse Clair. Ela ressaltou ainda que a neta foi submetida a três testes de Covid 19 e todos deram negativo.
O que diz a Saúde
Sobre as denúncias da família, a Secretaria Municipal de Saúde explicou que o quadro da paciente evoluiu de maneira muito rápida. A médica em questão foi ouvida a partir da denúncia na Ouvidoria e, segundo ela, em momento algum se recusou a prestar atendimento ou deixou de dar o acolhimento necessário, bem como avaliar e reavaliar a criança. A coordenação do serviço reafirmou que neste caso, foi realmente uma evolução natural da doença e não falha técnica.
Texto: Maurenn Bernardo
Publicado na edição 1264 – 02/06/2021