Você sabia que entre os inúmeros golpes financeiros aplicados por estelionatários, há muitos que se repetem com muita frequência em Araucária? Segundo as polícias Militar e Civil, praticamente todos os dias, dezenas de araucarienses acabam sendo vítimas de golpistas. Um dos golpes envolve o roubo e furto de veículos. Através da internet, estelionatários conseguem ter informações sobre veículos roubados, entram em contato com as vítimas, prometendo a devolução do bem, mediante pagamento de uma quantia em dinheiro. As vítimas recebem telefonemas informando características do veículo roubado e prometendo que, a partir do pagamento de um valor, a pessoa terá de volta o bem roubado. A vítima efetua o pagamento, mas perde o contato com o autor da ligação e não obtém nenhuma informação sobre o carro. “O estelionatário procura a vítima, dizendo que viu o anúncio, e que na ingenuidade teria comprado o carro, sem saber que era roubado. Se dispõe a devolvê-lo, mas diz que não quer ficar no prejuízo e pede uma quantia em dinheiro. Na tentativa de recuperar o bem, a vítima acaba depositando o valor em uma conta “fake” e acaba perdendo o carro e o dinheiro. Por isso, alertamos para que não tentem recuperá-lo o carro por conta, porque em qualquer situação de localização, a polícia entrará em contato com o proprietário. É muito perigoso ele mesmo fazer a negociação, porque além de cair no golpe, poderá ser vítima de algo ainda mais grave”, alerta a PM.
Golpe da pedofilia
Outro golpe conhecido na praça é o da pedofilia. O golpista cria um perfil “fake” na internet, utilizando a imagem de uma menina jovem, bonita e atraente e ela inicia uma conversa com a pessoa. Ele pede o whatsapp da vítima e começa a mandar fotos, algumas bem sensuais. A conversa vai fluindo, até chegar a uma intimidade virtual. O golpista então, entra em contato com a pessoa que está mantendo a conversa com a suposta jovem, se apresenta como policial, utiliza imagens de delegacias do Rio Grande do Sul em seu perfil, para intimidar ainda mais a vítima, e diz que já sabe tudo sobre ela, das
suas intenções para com a menor (perfil fake), e pede uma quantia em dinheiro para não registrar queixa de pedofilia e não tornar o fato público. A vítima fica apavorada, e com medo se ser presa ou da exposição diante da família e da sociedade, acaba depositando o dinheiro. Em alguns casos o estelionatário ainda se diz pai da garota e também pede dinheiro para não denunciar a pedofilia. “Tivemos um caso em Araucária que chamou muita atenção sobre os perigos que as pessoas correm quando caem na mão desses bandidos. Um senhor acabou desaparecendo depois que o golpista fez várias ameaças de que ele seria preso e que toda a família e seus amigos iriam descobrir que conversava com uma menor de idade pela internet, com segundas intenções. A família do homem chegou a registrar boletim de ocorrência do seu desaparecimento e temia pelo pior, já que haviam encontrado em seu celular, as conversas com a jovem no perfil ‘fake’. Ele ficou dois dias sumido e os familiares chegaram a pensar que ele tinha tirado a própria vida. Felizmente ele foi encontrado e a situação foi resolvida”, relata a polícia.
Golpe da OLX
O golpe da compra e venda de veículos através da OLX, na verdade é um crime de estelionato (art. 171 do Código Penal) e ocorre da seguinte forma: a pessoa interessada em vender seu veículo posta o anúncio em sites especializados de revenda, como a OLX. O criminoso encontra o anúncio, se apodera das fotos e posta um novo anúncio, em outro site de vendas ou no Facebook. Neste novo anúncio, o veículo passa a ser ofertado por um valor bem abaixo da tabela FIPE, e contém um número de whatsapp. Uma pessoa interessada é atraída pelo anúncio e entra em contato com o criminoso, solicitando mais informações sobre o veículo. Diz, em alguns casos, que está vendendo o veículo para o seu cunhado, em troca de uma comissão pela venda. Nesse momento, três pessoas já estão envolvidas: o vendedor, o comprador e o golpista.
À medida que a negociação avança, o comprador demonstra interesse em conhecer o veículo, solicitando ao golpista uma vistoria presencial, para que possa ser concretizada a compra, caso se interesse. O golpista diz que irá agendar a visita do comprador com o seu cunhado (o vendedor), informa também que, no momento da vistoria, caso decida ficar com o veículo, o comprador deverá fazer o depósito bancário em contas de “laranjas”. Para agendar a visita, o golpista estabelece um primeiro contato com o vendedor pelo whatsapp (nunca presencialmente) e, munido de documentos furtados ou documentos falsos, se apresenta como empresário ou como advogado, ou através de qualquer outra profissão que passe
credibilidade. Neste momento, o golpe pode tomar rumos distintos, a depender da história que o golpista contar ao vendedor. Na versão mais frequente, ele diz ter interesse no carro e que precisa fazer um acerto trabalhista com um ex-funcionário seu e que este tem interesse em conhecer o carro pessoalmente, e caso goste, ele comprará o carro para pagar o acerto trabalhista. O ex-funcionário é na verdade o comprador, que quer vistoriar o veículo.
Para não ocorrer nenhuma suspeita por parte do comprador de que se trata de um crime, o golpista solicita ao comprador que, no momento da vistoria, não comente nada com o vendedor sobre o valor que ele irá pagar pelo veículo e que também não diga nada sobre o fato de o golpista ser cunhado do vendedor. O comprador, muito interessado na compra, pois o veículo está muito barato, acaba acreditando no golpista, este então golpista solicita ao vendedor que não trate de valores do veículo com o ex-funcionário dele que irá vistoriar o veículo; diz que o acordo trabalhista é um assunto dele com seu ex-funcionário, que é comprador. Caso contrário, ele não teria interesse na compra do veículo; diz ainda que, caso seu ex-funcionário goste do veículo no momento da vistoria, o vendedor poderia entregar as chaves ao seu ex-funcionário, pois faria imediatamente um depósito do valor anunciado para a conta do vendedor.
Neste momento do golpe, o comprador está indo vistoriar o veículo, achando que a pessoa que está com o carro é cunhada da pessoa que está lhe vendendo (golpista). Por outro lado, o vendedor está achando que quem está indo vistoriar o seu carro é um ex-funcionário da pessoa que irá comprar o seu carro. Neste ponto, nenhum dos dois, nem vendedor nem comprador, sabem das versões que o golpista tem separadamente com cada um deles.
No momento do encontro e da vistoria do veículo, apenas comprador e vendedor estarão presentes. Nem o comprador e nem o vendedor entram em detalhes sobre o golpista, pois ele assim solicitou separadamente a cada um deles. Caso o comprador decida ficar com o veículo, ele imediatamente avisa ao golpista pelo telefone/whatsapp que fará a compra, fazendo a transferência ali mesmo (pelo telefone celular) para a conta bancária que o golpista tinha fornecido. O golpista imediatamente entra em contato com o vendedor e diz que seu ex-funcionário gostou do carro e pede para aguardar 30 minutos, que ele fará o pagamento/depósito para a conta do vendedor. Comprador e vendedor ficam aguardando os 30 minutos.
O golpista então deposita um envelope vazio na conta do vendedor, e lhe envia comprovante de depósito. Ou
o vendedor com muita boa-fé já entrega o veículo ao comprador e este vai embora para casa (ficando o vendedor sem veículo e sem o pagamento); ou o vendedor aguarda para ver se o depósito foi compensado e, ao notar que o envelope foi vazio e que o dinheiro não caiu em sua conta, não entrega o veículo ao comprador (e este fica sem o seu dinheiro transferido e sem o veículo). O golpe “perfeito” é aplicado e o golpista bloqueia comprador e vendedor de seu whatsapp e desaparece impune e sem nunca ter sido visto presencialmente.
O Jornal O Popular conversou com um araucariense que foi vítima desse modelo de golpe. Ele, que preferiu não se identificar, fez o seguinte relato: “Em agosto do ano passado anunciei meu carro na OLX, pelo valor de R$ 64.500,00. Apareceu uma pessoa interessada, dizendo que seu ex-sócio queria comprar um carro igual ao meu e que ele teria interesse em comprar o carro pra ele e dar como pagamento de uma dívida. Se dispôs, inclusive, a pagar à vista e até baixei o preço para R$ 62.000,00. O golpista disse que era gerente de um banco em Santa Catarina e que estaria em Curitiba a trabalho. Mandou todos os seus dados, é claro que todos falsos, mas como eu estava ansioso para vender o carro, não investiguei muito e acabei acreditando. Marcamos o dia para ele e o ex-sócio virem ver o carro, mas ele ligou minutos antes do encontro, dizendo que o pai estava internado com Covid e que ele não poderia vir, mas que o ex-sócio viria e se gostasse do carro, ele faria a transferência do valor e mandaria uma foto do comprovante e então eu deveria mandar uma foto do recibo preenchido. Eu disseque só faria o recibo após ver o dinheiro na minha conta e ele não gostou muito, mas depois concordou. O suposto ex-sócio chegou, olhou o carro e gostou. Ele também confirmou algumas informações repassadas pelo golpista, que se identificava o tempo todo como Eduardo. Pedi que ele entrasse em contato com o tal Eduardo, para que ele fizesse a transferência do dinheiro e que depois eu iria buscar os documentos para ir até o cartório e providenciar a transferência. O comprador perguntou o que eu era do Eduardo, daí começamos a conversar mais e começamos a suspeitar, já que o cara disse que nem conhecia o Eduardo, que apenas teria comprado um carro seu e que teria pago R$ 50 mil, nesse caso, o meu carro. O comprador então se desesperou, queria que eu entregasse o carro. Acabei chamando a Polícia Militar e expliquei tudo que havia acontecido. Foi então que descobri que estava dentro de um golpe. Quanto ao comprador, disse que iria até o banco tentar estornar o depósito, mas naquele momento eu já nem sabia mais em quem acreditar”.