Nas últimas décadas, o mercado de trabalho evoluiu bastante no que diz respeito à igualdade entre os gêneros. Porém, ainda existem grandes desafios pela frente, já que a discriminação ainda existe e muitas empresas não pautam a igualdade entre seus principais valores.
Atualmente, no Brasil e no mundo, muitas famílias são sustentadas por mulheres. Diferentemente do que ocorria há 50 anos, por exemplo, quando as mulheres estavam muito mais restritas ao trabalho exclusivamente doméstico. Hoje, vemos a atuação da mulher em qualquer área do mercado e constantemente em busca de qualificação para alcançar cargos e vagas de emprego cada vez melhores e com mais benefícios. Inclusive, há diversas profissões no mercado de trabalho, onde as mulheres são maioria.
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher – 8 de março, o Jornal O Popular conversou com algumas trabalhadoras, que praticamente são maioria em suas profissões. Elas nos trazem relatos incríveis sobre os desafios que enfrentaram para chegar onde estão hoje. Acompanhe.
A pedagoga Rosilei da Silva Zwiegicoski, de 46 anos, moradora do bairro Passaúna, atua na profissão há 17 anos, e conta que a opção veio por influência de uma pedagoga que teve. “Eu estava na antiga 2ª série da Escola Municipal Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira e embora fosse muito dedicada, tinha muita dificuldade com operações matemáticas, o que me causava vergonha e angústia. Um dia a professora me encaminhou para a pedagogia e comecei a chorar. Com receio, entrei na sala da pedagoga, fui recebida com muito carinho, ela falou que iria me ajudar e me matriculou na aula de reforço, então me acompanhou e me orientou, e deu certo. Desde então, sempre quis ser pedagoga, sem ao menos saber do que realmente se tratava a profissão”, relembra.
O sonho se concretizou anos depois, quando Rosilei se tornou mãe e teve força para correr atrás do que queria. “Nunca esqueci da pedagoga Ana, procuro sempre replicar o cuidado e atenção que ela teve comigo. Na formatura de 2024, recebi uma linda homenagem dos meus alunos, sinto que estou no caminho certo”, declara.
Rosilei diz que não teve dificuldade de trabalhar por ser mulher, já que elas são maioria na profissão. “Acho que é natural sermos maioria, devido ao cuidado, a sensibilidade e o afeto. Hoje eu diria para as futuras pedagogas, que a Pedagogia é uma profissão muito importante, de responsabilidade e transformação social, que orienta, direciona, compartilha saberes, com um compromisso direto com a aprendizagem e superação das dificuldades”.

Rosângela Ribeiro Cardoso, de 44 anos, é cabeleireira e mora no bairro Capela Velha. Está no ramo de salão há 11 anos e decidiu entrar para essa profissão após deixar 10 anos de emprego CLT. “Queria participar mais da vida dos meus filhos que na época estavam com 7 e 10 anos. A dificuldade foi me tornar conhecida e reconhecida pelo meu trabalho, depois fluiu. Por ser mulher não sofri nenhum tipo de preconceito, pelo contrário, acabei por me especializar em atendimentos só femininos, então foi bem tranquilo”, conta.
Ela acredita que o fato de existirem menos homens nesta profissão é pelas qualidades que as mulheres tem, principalmente por serem mais fiéis ao que a cliente quer e deseja. “Infelizmente em algumas profissões as mulheres ainda se deparam com o preconceito, mas estamos vencendo a cada dia”, comemora.

Antonia Rozelene Woidaleski Lourenço é diarista há 18 anos e mora no bairro Capela Velha. Aos 59 anos, ela já não tem uma rotina tão puxada, faz apenas uma diária por semana, devido a problemas de saúde. Mas isso não quer dizer que no restante da semana ela descansa, pelo contrário, faz trabalhos manuais e também cuida da sua mãe. “As dificuldades que encontrei ao longo da minha profissão não foram por eu ser mulher, mas sim por patrões que achavam que por eu estar limpando sua casa, tinha o direito de me humilhar. Mas não aturei isso por muito tempo, porque passei a optar somente por patrões que me valorizavam”, diz.
Rose, como é mais conhecida, lamenta que ainda existam profissões onde as mulheres não são respeitadas como deveriam. “Muitas ainda ouvem piadinhas, sofrem assédio, e isso precisa mudar. Por isso, mulher, especialmente você diarista, nunca deixe que te humilhem, não é porque você está limpando privada que tem que admitir humilhação. E isso vale para qualquer profissão, nunca admita gracinhas de patrões. Eu sofri assédio e imediatamente saí da casa da mulher que já estava me explorando. Tome atitude!”, aconselha.

Cozinheira e chefe de cozinha há 32 anos, Solange Liserio dos Santos de Oliveira, 49 anos, trabalha atualmente na unidade Central do Grupo Risotolândia. “Já liderei várias cozinhas e estou na Risotolândia há 3 anos, comando os pratos congelados. Uma área diferenciada que nunca tinha comandado, mas foi uma novidade para mim e, graças a Deus, é um sucesso”, festeja.
Moradora do bairro Thomaz Coelho, Solange conta que a cozinha não foi sua primeira opção. Ainda jovem, começou o curso de auxiliar de enfermagem, pois era o que os pais queriam para ela, porém não era sua vontade. Acabou desistindo e foi para o Senac fazer um curso de chef de cozinha. “Adorei, amei! Aos 19 anos iniciei um estágio e aos 20 anos comecei a trabalhar na cozinha. Foram muitos obstáculos. Chorei muito. Pensei até em desistir, mas este era o meu sonho e como sou uma mulher guerreira, eu não desisti”, orgulha-se.
O Grupo Risotolândia possui mais de 5.200 colaboradores e 86% são mulheres. “Tenho orgulho de fazer parte deste time e, por meio do meu trabalho, transformar vidas através de uma alimentação gostosa, saudável e equilibrada, em diferentes fases da vida das pessoas”.

Agente comunitária de saúde, Iraci Marques de Lima, de 48 anos, mora no bairro Thomaz Coelho e está prestes a completar 22 anos na profissão. Tudo começou quando ela fez uma prova seletiva para a função, porque realmente estava precisando trabalhar. Mas depois que se tornou agente comunitária, se apaixonou. “Além de fazer meu trabalho, aprendi muito como pessoa. Hoje posso dizer que sou uma pessoa melhor, com outra visão, porque você dentro das famílias que visitamos, nos tornamos aquela pessoa que escuta o idoso, que escuta as mães e dá um conselho num momento difícil (psicóloga), conversa com a gestante e ouve seus medos. É maravilhoso nos tornamos família”, diz emocionada.
Trabalhar e aprender a lidar com o público foi a maior dificuldade que Iraci encontrou na profissão. Já pelo fato de ser mulher, ela diz que não teve problemas. “Para lidar com certos homens, é preciso ter jogo de cintura e fazê-lo entender que ali está uma profissional de saúde, que veio pra ajudar, que quer ver todos bem. Tudo com muita responsabilidade e ética, principalmente”.
A agente reforça que hoje não existe mais tanto tabu no mercado de trabalho, uma vez que homens e mulheres podem ter a profissão que quiserem. “Hoje em dia a mulher faz serviço de pedreiro, de caminhoneiro, e tantos outros, então provamos para todos que o lugar da mulher e onde ela quiser”.

Rosa Cacilda do Carmo (Cassia) é cozinheira há 18 anos – ela tem 46. Mora no bairro Campina da Barra e diz que iniciou na profissão por necessidade. “Comecei como auxiliar de cozinha, e peguei amor pela profissão, tanto que fui promovida a cozinheira. Tive dificuldades para chegar até aqui, principalmente porque eu não tinha noção alguma na área da culinária, não tinha feito curso e tive que aprender na prática, felizmente com ótimos chefes de cozinha”, relata.
Cassia reforça que a determinação e a vontade de sempre aprender mais é o que garante a permanência e o sucesso das mulheres em muitas profissões. “Ainda não somos respeitadas em certas profissões como deveríamos, principalmente na questão salarial, onde os homens, na maioria, ganham mais. Mas para quem quer seguir na profissão de cozinheira, tem que amar o que faz, porque cozinhar é um ato de amor ao próximo. O salário conta e é importante, porém este amor é 100% importante. Na cozinha, me sinto realizada!”, festeja.

Na enfermagem, Divair de Paula (Diva), de 50 anos, se encontrou. Moradora do bairro Campina da Barra, ela optou pela profissão, onde está há 9 anos, para poder ajudar o próximo. “Sempre achei uma profissão muito bonita, como todas as demais, têm seus desafios. Aprendemos na teoria, mas o que vivenciamos na prática, é bem diferente. Nesta profissão as mulheres são maioria, e acredito que é pelo fato de os homens não terem tanta paciência com os doentes como deveriam. As mulheres demonstram mais profissionalismo, paciência e empatia”, explica.
Diva deixa um conselho para quem se tornar uma técnica de enfermagem: “Aquelas que querem seguir esta mesma profissão, precisam saber que não é fácil, porém, é gratificante demais, principalmente quando vemos que aquele paciente que cuidamos à beira da morte, recebeu uma nova chance de vida”.

Moradora de Botiatuva, a professora Josline Aparecida Caroleski Hitner, 44 anos, está na profissão há 26 anos, ou seja, mais da metade da sua vida. Atuou por 13 anos na Prefeitura de Fazenda Rio Grande e há 13 atua na Prefeitura de Araucária. Decidiu ser professora porque o Magistério era o único curso do ensino médio com aulas à tarde. “Meus pais não me deixavam estudar de noite. Mas acabei gostando muito do curso e resolvi seguir a profissão”, diz.
omeçou a carreira, recém tinha completado 18 anos, e os profissionais com mais tempo de serviço tentavam desmotivá-la. Recebeu algumas ameaças de alunos também. “Hoje somos maioria na profissão, porque acredito que ainda se faz ligação do magistério com a maternidade. Dizem que as mulheres tem mais habilidades com as crianças. Se sabem educar e cuidar de um filho, sabem ensinar um aluno. Só lamento que ainda exista o machismo e muita desmotivação com as mulheres em certas profissões”, afirma.

Há 30 anos Jussara Lacerda Silva Resolen é professora, ela tem 64 anos e mora no bairro Iguaçu. Escolheu esta profissão no momento em que se tornou mãe, pelo simples fato de trabalhar apenas um período e assim ter mais tempo para acompanhar e contribuir na aprendizagem do filho. “Como toda profissão, no início não é fácil, tem suas dificuldades, porém fui em busca de referências educacionais e pessoais, além da minha formação. Fiz especializações, as quais são aplicadas na educação”, argumenta.
lheres são maioria na educação por sua facilidade, paciência, instinto maternal, os quais contribuem para o caminhar do estudante. “Atualmente a mulher está ganhando seu espaço, demonstrando sua competência. Ela busca se especializar na profissão. Entretanto, ainda é um desafio, principalmente em cargos de chefias. No caso a mulher professora, precisa ter dedicação, ser movida pela missão de fazer a diferença na vida dos seus alunos e até mesmo das famílias. É uma profissão que permite aprendizados diários e troca de experiências de forma dinâmica com o aprimoramento das competências educacionais e pessoais”, afirma.

Motivada pela mãe, Sara Faradje Araujo de Queiroz, 47 anos, decidiu ser pedagoga, profissão que exerce há 24 anos. Ela mora no bairro Porto das Laranjeiras e completa que apesar de ser pedagoga há 24 anos, é professora há 33. “Iniciei aos 14 anos quando ingressei no Magistério. No primeiro ano de estágio já fui contratada. Minha mãe admirava muito a profissão, era na época uma espécie de ‘status’ ter uma filha professora, principalmente porque ela tinha pouca escolaridade, devido ser imigrante libanesa, de um país em que não era permitido estudo para mulheres. Quando chegou ao Brasil, minha mãe foi matriculada na primeira série aos 12 anos. Foi ótima aluna, mas deixou a escola para cuidar do comércio do pai”, relembra.
Sara afirma que ao longo da sua carreira sofreu assédio por parte de um diretor e também por estudantes maiores de idade do Ensino Médio. “Precisei me impor como profissional, exigir respeito em todas as relações, precisei provar minha competência, pois na época aos vinte e poucos anos, tinha que ouvir assobios no pátio e comentários desagradáveis na sala dos professores. Fui julgada por ser muito jovem para a função de pedagoga e também pela aparência. Foi uma fase difícil, eu já tinha alguns anos de magistério, mas optei por mudar de escola, mesmo após pedidos de desculpas”, recorda.
Para a pedagoga, avançamos muito, mas ainda existem muitas desigualdades a serem superadas. “Lutamos diariamente por direitos iguais, temos inúmeras habilidades, somos capazes de atuar em diferentes áreas e até temos acumulado inúmeras funções que acabam por nos sobrecarregar com jornadas duplas e até triplas. Enquanto mulheres, precisamos ser valorizadas não só profissionalmente, mas como pessoas totalmente capazes de ser protagonistas de suas vidas e também de incentivar nossas crianças na construção e valorização dessa identidade para uma sociedade mais justa e igualitária no futuro”.

Edição n.º 1455.