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Além de viver em constante tensão por causa da pressão que sofrem no trabalho, os motoboys muitas vezes se obrigam a conviver com a falta de respeito e ofensas pesadas por parte de algumas pessoas. Na grande maioria são agressões verbais, mas infelizmente, existem os que decidem partir para a ignorância. Foi exatamente isso que aconteceu recentemente com um entregador do Rio de Janeiro, que foi vítima de injúria e lesão corporal por parte de uma ex-atleta de vôlei.

Proferindo xingamentos, a mulher chegou ao extremo de utilizar a guia da coleira do cachorro para dar uma espécie de chicotada nas costas do entregador, que era negro. Revoltado, o motoboy disse que foi tratado como um escravo. As imagens gravadas por câmeras de segurança repercutiram por todo o país e vieram parar em Araucária.

O motoboy araucariense Marcos Geraldino, que é negro, disse que a falta de educação e as agressões verbais por parte de alguns clientes estão presentes na sua rotina de trabalho, porém ele não se deixa abater.

“Na verdade, me sinto meio diferenciado, sou aquele que leva tudo na esportiva. Se o cara me trata mal, eu nem ligo, procuro levar tudo na brincadeira, tudo na base do sorriso. Já aconteceu de eu chegar no comércio e o pessoal estar super estressado, mas é aquela história, você dá aquilo que você tem no coração. Daí com dois ou três sorrisos e uma pequena brincadeira, a gente consegue quebrar o clima negativo. Sobre racismo, eu nunca sofri, às vezes até brinco que não vivo nesse mundo, porque se sofri, nem me dei conta. Esse sou eu, mas tenho colegas que quando agredidos verbalmente, se deixam abater”, relata Marcos.

Expostos à violência

O motoboy José Mizael Moletta, mais conhecido como Miza, afirma que há vários tipos de casos envolvendo agressões contra os entregadores, mas são raros os que acabam em agressão física. “A maior parte das confusões se formam a partir da demora na entrega do pedido. Muitos clientes acabam descontando a raiva na gente, eles não querem saber se o pedido já saiu atrasado do próprio delivery. Precisamos ter sangue frio pra não provocar uma discussão maior”, conta.

Miza lamenta que o maior tipo de violência sofrida pelos motoboys é a falta de segurança para trabalhar. “Somos vítimas de assaltos constantes e muitos delivery’s não tem uma estrutura adequada para acolher os motoboys enquanto aguardam os pedidos, ficando estes à mercê dos assaltos”, aponta.

Da mesma forma o motoboy Hernan Lopreiato afirma nunca ter sofrido e nem presenciado nenhum caso de violência extrema contra a classe, a exemplo do que aconteceu com o entregador do Rio de Janeiro. Ele conta que os motoboys convivem com muitos percalços da profissão, como endereços errados ou o cliente do condomínio que faz o entregador andar longas distâncias com uma mochila pesada nas costas para entregar o pedido na sua porta, porque não tem a capacidade de descer para buscar o lanche.

“Sem contar que enquanto nos dirigimos até o apartamento, nossa moto fica exposta na portaria. Isso também não deixa de ser um tipo de violência que enfrentamos com frequência na nossa profissão. Mesmo diante de tudo isso, graças a Deus não tivemos casos de entregadores que apanharam aqui em Araucária, embora estejamos expostos diariamente à violência, podendo sim, nos tornarmos vítimas dela a qualquer momento”, lamenta Hernan.

Edição n. 1359

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