No “Janeiro Branco”, movimento que destaca a importância de cuidarmos da nossa saúde mental, é imprescindível falarmos de um problema que afeta milhares de trabalhadores: a Síndrome de Burnout. Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, a Burnout foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID), pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A síndrome atinge cerca de 32% dos trabalhadores no Brasil e está relacionada ao esgotamento profissional em virtude de estresse crônico não administrado adequadamente. Anteriormente, a síndrome era descrita de forma ampla e genérica como um problema relacionado a dificuldades de gerenciamento da vida, ou seja, a versão antiga tinha uma descrição vaga sobre o que era Burnout. Os sintomas, por exemplo, poderiam ser facilmente confundidos com outras condições, como a depressão. Com a atualização, isso não acontecerá mais, pois há uma especificidade maior.
Na CID-11, o Burnout é reconhecido como um fenômeno ocupacional, ou seja, algo que ocorre exclusivamente no contexto do trabalho. Para a OMS, a síndrome passa a ser definida com base em três características principais: exaustão, distanciamento mental em relação ao trabalho e às pessoas do trabalho, e redução da eficácia profissional e pessoal.
A psicóloga araucariense Mariana Torres, acredita que a inclusão da Burnout na edição da CID, que começou a valer a partir de 1º de janeiro, poderá trazer mudanças práticas em relação ao diagnóstico e tratamento da doença. “É no ambiente de trabalho que passamos grande parte das nossas vidas, em outras palavras, convivemos mais com nossos colegas de trabalho do que com as pessoas da nossa família. Considerando que os ambientes em que vivemos possuem um impacto significativo na nossa saúde mental, investir na qualidade dos espaços profissionais se torna essencial. Lembrando que apesar de não termos controle sobre quem são nossos colegas de trabalho, podemos nos esforçar para sermos pessoas agradáveis e respeitosas. Esse esforço em desenvolver um local acolhedor e saudável também deve ser uma preocupação das empresas. Afinal, uma mente descansada, é uma mente mais criativa e mais capaz de resolver desafios de maneira equilibrada”, compara.
A psicóloga afirma que atualmente prêmios de reconhecimento têm sido comuns para incentivar instituições que adotam medidas para contribuir com a saúde mental. Essas práticas podem ser ofertadas de diversas formas, como disponibilizar acesso a profissionais da área através de palestras e/ou de parcerias com psicólogos, garantindo atendimentos com valores reduzidos aos colaboradores. “A empresa também precisa respeitar a carga horária prevista nas leis trabalhistas; oferecer um ambiente de trabalho limpo e confortável; incentivar a atividade física e alimentação saudável (pois também são aspectos essenciais para a qualidade de vida); reconhecer os esforços dos colaboradores através de prêmios, promoções e treinamentos contínuos; promover a diversidade e inclusão e criar espaços destinados à áreas de descanso, estimulando a boa convivência e respeitando os intervalos”, exemplifique.
Marina lembra que é importante destacar que além da Síndrome de Burnout, existem alguns Transtornos que não são necessariamente causados pelo trabalho, mas podem ser significativamente influenciados pelas condições dele, como os Transtornos de Ansiedade e Transtornos Depressivos. “Especificamente no caso da Burnout, os principais sintomas são o esgotamento físico e/ou mental e o aumento de sentimentos negativos em relação ao trabalho e sua produtividade. Alguns sintomas podem se sobrepor a sintomas dos Transtornos Depressivos, a diferença entre eles é que o Burnout é específico para o ambiente profissional”, ilustra.
A psicóloga lembra ainda que aposentados também devem ter cuidado com a saúde mental. “A aposentadoria é um momento importante para grande parte das pessoas, representando uma transição de rotina e de papeis sociais. Esse momento pode trazer à tona questionamentos sobre o sentido da vida, objetivos na sociedade, oportunidades passadas e dúvidas sobre o futuro. Essas reflexões podem gerar uma série de emoções, como tristeza, nostalgia ou alegria e satisfação. Novamente, depende de como cada indivíduo interpreta e sente as situações vivenciadas”, declara.
Principais causas da burnout
As causas do Burnout estão frequentemente ligadas ao estresse contínuo e a exigências excessivas no ambiente de trabalho. Quando as demandas profissionais são muito altas e os recursos disponíveis para enfrentá-las são insuficientes, o risco de desenvolver a síndrome aumenta consideravelmente. Situações como sobrecarga de trabalho, falta de reconhecimento e a sensação de impotência no trabalho contribuem diretamente para o esgotamento.
Outro fator importante é o desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Profissionais que negligenciam o tempo de lazer e descanso, focando exclusivamente no trabalho, estão mais propensos ao Burnout. Além disso, ambientes de trabalho tóxicos, com conflitos interpessoais ou falta de apoio, também têm grande impacto no desenvolvimento dessa condição.
Sintomas físicos e psicológicos
Os sintomas da Síndrome de Burnout podem ser tanto físicos quanto psicológicos. Entre os sinais físicos, destacam-se a fadiga constante, dores musculares, distúrbios no sono, problemas digestivos e um sistema imunológico enfraquecido, que torna a pessoa mais suscetível a doenças.
No aspecto psicológico, os sintomas incluem exaustão emocional, sensação de vazio, humor depressivo, ansiedade e dificuldades de concentração. Essas manifestações podem comprometer o desempenho no trabalho e nas atividades diárias, levando à sensação de incapacidade de lidar com as demandas da vida profissional. “É fundamental que indivíduos que apresentem sintomas de Burnout busquem apoio médico para um diagnóstico adequado e orientações sobre tratamento e prevenção”, orienta a psicóloga.
Edição n.º 1450.