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Padre André Marmilicz: Epifania - A manifestação da Luz

Na parábola contada por Jesus, a respeito dos trabalhadores do Reino contratados para trabalhar na sua vinha, floresce fortemente a bondade divina. Jesus apresenta um Pai que quer o bem de todos, pagando a mesma quantidade a cada um, não de acordo com os seus merecimentos, mas sim, de suas necessidades. Os que haviam trabalhado menos tempo, recebem o mesmo que aqueles que trabalharam o dia inteiro. Num primeiro momento, tem-se a impressão de que o patrão foi injusto, mas, ele tinha combinado antes com cada um o valor da diária. Na ótica humana, quem mais trabalha, mais direito tem de receber de acordo com o produzido. Na ótica divina, a preocupação é com o sustento e o necessário para viver com dignidade de cada família.

Esta parábola vem também de encontro a uma outra realidade, ou seja, dos que começaram a trabalhar na Igreja, pelo Reino, desde cedo, enquanto outros, talvez, chegaram bem mais tarde. A princípio, quem se doou a vida inteira pelo Reino, pode imaginar que terá mais privilégios do que aqueles que se decidiram em participar da vida de comunidade talvez ‘no apagar das luzes’. Longe de sentir-se mais merecedores do Reino dos céus os que passaram toda a vida trabalhando pelo reino, deveriam, isso sim, agradecer pelo privilégio de terem encontrado a beleza do trabalho pelo Reino, desde a mais tenra idade. Mas, no final, não haverá favorecidos pelo fato de terem trabalhado mais do que os outros.

A bondade divina ultrapassa a visão humana dos merecimentos, pois, para Deus, todos são iguais e tem a mesma dignidade e os mesmos direitos. Ninguém pode sentir-se maior ou melhor do que o outro, e, achar que tem mais méritos pelo tempo trabalhado. A lógica divina supera a visão fechada e limitada, tantas vezes, dos seres humanos. Para Deus, todos tem o direito de ter uma vida digna, capaz de responder às suas necessidades. Temos dificuldade de entender esse Deus tão bom, como a própria parábola conclui, quando o patrão assim se manifesta: ‘eu não fui injusto contigo. Paguei o combinado. Ou você tem inveja porque eu fui bom?’

Tantas vezes julgamos de acordo com a nossa ótica humana, e, gostaríamos de ver castigados ou diminuídos, aqueles que não participam da vida de comunidade, ou, começaram a frequentar bem mais tarde. Deus é muito paciente, e, a exemplo do bom ladrão que obteve a salvação na última hora, ele acredita na conversão e na mudança, mesmo que seja no final de sua vida. A paciência divina tantas vezes nos inquieta e nos coloca na atitude de quem se sente injustiçado. Tantos, muitas vezes, assim se manifestam: como, eu que sempre ajudei os outros, que sempre fui bom, terei o mesmo tratamento daqueles que erraram, se desviaram do caminho? Novamente, entra em jogo a questão do merecimento e não da misericórdia divina.

Deixemos Deus ser Deus, e, continuemos fazendo a nossa parte, ajudando a quem precisa, sendo construtores do Reino de Deus. O importante é cada um oferecer o seu melhor, deixando que Deus julgue como melhor lhe aprouver. Não somos nós que temos esse direito de julgar e condenar, mas, o próprio Deus. E eu creio que a misericórdia divina, a sua infinita bondade, fará de tudo, para salvar a todos.

Edição n.º 1381

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