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Padre André Marmilicz: Os ossos secos revitalizados (ez 37,1-14)
Foto: Divulgação

É desta passagem que vem o lema do mês da Bíblia deste ano: ‘Porei em vós o meu espírito, e vivereis’. O profeta Ezequiel foi levado para o Exílio da Babilônia ainda jovem, na primeira deportação, em 609 a.C. A visão de Ezequiel ocorreu no vale, junto ao rio Cobar, no mesmo locar em que ele recebeu seu chamado e sua vocação. Ele recebe de Deus essa missão de ajudar o povo a perceber que Deus não os abandonou, e, por isso, eles não podem perder a esperança e nem se acomodar. O exílio pode durar um certo tempo, mas não será para sempre.

Na visão, Ezequiel é conduzido pela mão do Senhor que o transporta em espírito para fora, à planície cheia de ossos secos. Ezequiel passa em meio a esses ossos, que são muitos e estão bem ressequidos. Ezequiel profetiza de acordo com a ordem recebida do Senhor e ouve um estrondo. Primeiro os ossos se enchem de nervos, que terão a importante função de ligá-los uns aos outros, rompendo com o isolamento. Então os ossos começam a ser aproximar e articular uns com os outros. Em seguida, começa a crescer a carne sobre os ossos, ela fortalece, dá força, dá vigor. Por último, recebem a pele, que reveste os ossos, os nervos e a carne, criando a proteção. Com isso, os ossos deixam de ser secos e isolados, deixam de ser cadáveres mortos e sem serventia. Mas ainda falta o espírito, falta o sopro de vida.

Diante da visão, a voz do Senhor explica qual o seu significado. ‘Esses ossos são a casa de Israel. Eles dizem: nossos ossos estão secos, nossa esperança acabou, estamos exterminados’. Tal a situação como o povo se vê: estão desunidos (sem nervos), fracos e esgotados (sem carne), desprotegidos (sem pele), como mortos (sem espírito). O povo se sente como se estivesse no vale da morte. Os ossos devem sair dos sepulcros, tal é a situação desesperadora dos exilados.

O espírito vem depois que os ossos recebem nervo, carne e pele. É o espírito que faz a transformação vital dos ossos. O espírito insere vida nova, forma um povo, um exército, que se coloca de pé, com vigor e esperança. Nervos, carne e pele se movimentam, mas não há ainda nenhum espírito vivente. É o ‘ruah’ que dá vida a todos os seres. Assim como os ossos secos, o povo foi despojado da sua dignidade, dos seus direitos e da sua esperança. Os ossos ‘reviveram’ e retornaram à sua condição natural. Assim também o povo deve retornar à sua posição original, ser povo vivo, colocar-se em movimento, ficar em pé.

É a mão do Senhor que conduz o profeta, é a Palavra do Senhor que cria, renova e tudo transforma. É a ação de Deus que resulta na criação do ser humano e na infusão do Espírito. Ezequiel nos mostra que Deus está presente na vida do povo onde quer que ele esteja, sobretudo, naquelas situações de dor e de sofrimento. Deus continua sendo o Deus da vida e vida em abundância. Mesmo em meio às cinzas, Deus pode fazer brotar a semente da esperança. A visão de Ezequiel é a vitória da vida sobre a morte. Assim também nós, tantas vezes nos parecemos como ossos ressequidos, desanimados, fragilizados por tantas situações inesperadas no nosso cotidiano. Precisamos deixar que o ‘ruah’, o espirito do Senhor sopre sobre nós e nos reanime para a vida.

Edição n.º 1434.

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