Bastam uns minutinhos de conversa com a dona Antonina Clementina Derevecki, 94 anos, para querer levá-la pra casa como nossa vó. Ela é uma querida e as histórias que conta sobre a cidade são encantadoras, de deixar qualquer ouvinte hipnotizado. Dona Antonina, com um sorriso no rosto, recebeu a equipe do Jornal Popular em sua casa, no Jardim Iguaçu.
Sentada no seu sofá preferido, usando um lenço na cabeça (adereço que não dispensa), com riqueza de detalhes, nos contou desde sua infância até a atualidade. Lembrou das várias cidades onde morou até encontrar Araucária, segundo ela, o melhor dos lugares que conheceu. “Quando cheguei em Araucária eu tinha 40 anos. A cidade parecia uma pequena vila. Eu e meu marido Daniel tínhamos vendido nossa casa em Guaraniaçu e eu quis vir para Curitiba procurar outro imóvel. Encontramos este aqui em Araucária. Dia 14 de maio de 1978 (que memória invejável tem Dona Antonina!) fomos à imobiliária com o dinheirinho da venda da casa em Guaraniaçu e fechamos o negócio. Eu tinha pressa em comprar uma casa nova, não queria correr o risco de gastar o dinheiro com outras coisas. Havia outros lotes no mesmo terreno, mas eu e meu marido escolhemos este que era 5 metros mais comprido que os outros… sempre fui muito esganada por terras”, descreve.
Antonina e o marido acertaram toda a papelada, deram entrada no terreno. Ele ficou para cuidar da construção da casa e ela voltou para Guaraniaçu, pois fazia escola Normal naquela cidade.
Dona Antonina prossegue o relato, sempre com os fatos na ponta da língua, poucas vezes precisou ser interpelada pelo filho Elias Derevecki, que acompanhou toda a entrevista. “Fiz magistério, depois comecei a cursar a faculdade de História. Eu tinha certa idade já, era professora, mas não me conformava em não ser formada. A ideia era me aposentar melhor, só que logo fechei meu tempo de serviço e acabei me aposentando antes mesmo de concluir a faculdade”.
O marido de dona Antonina era construtor, faleceu em 1980, inclusive foi ele quem construiu a casa da família no terreno comprado em Araucária. “Meu pai tinha o dom de construir, ele fez uma casa de madeira, só depois de alguns anos fizemos esta de alvenaria”, completou Elias.
A chegada na cidade
Ao desembarcar em Araucária, dona Antonina lembra que só existia uma casinha do outro lado do quarteirão, o resto era apenas terrenos vazios. “Praticamente fomos os primeiros moradores, mas logo que cheguei já gostei muito e disse: aqui é meu lugar. Estou há 46 anos neste endereço que será minha última morada no mundo”, afirma.
Sempre que se refere à cidade que a acolheu, ela deixa transparecer muito carinho. “Essa cidade cresceu muito, está bonita! Morei em tantos lugares que até perdi a conta, mas sem dúvida, o melhor deles foi Araucária”, relata.
O filho Elias completa: “Minha mãe nasceu em 1929 e casou em 1946, com apenas 17 anos. Teve cinco filhos (quatro homens e uma mulher), 12 netos, 11 bisnetos e um tataraneto. Além dos filhos biológicos, também criou duas filhas adotadas. A mãe se aposentou após dar aulas por 25 anos, ainda assim continuou lecionando, inclusive montou duas turmas do antigo programa Paraná Alfabetizado. Ela fez o projeto e apresentou para o Estado, que custeou tudo. Após o fim do projeto, a mãe continuou dando aulas, até que um dia a chamaram, ela estava com mais de 70 anos, e disseram que era chegada a hora dela parar de trabalhar. Dona Antonina ficou frustrada”, falou o filho Elias. E ela confirma: “Eu amava estar em sala de aula e ensinar crianças, mas também tive muitas turmas de adultos. Aqui em Araucária eu lecionei no Colégio Dias da Rocha, onde me aposentei”, descreve.
Nesse momento da entrevista, Elias pediu um aparte para dizer que a mãe fazia todo o trajeto de casa até a escola, e vice-versa, sempre a pé. Ela interrompe: “Às vezes eu ganhava carona de algum aluno, mas meu objetivo era sempre caminhar, e só não vinha correndo porque tinha receio que alguém achasse aquela minha atitude estranha (risos). Também cansei de trabalhar à noite para um programa de alfabetização de adultos. Saía do colégio por volta das 22 horas, vinha no escuro porque não tinha luz na rua. Na maioria das vezes fazia o trajeto sozinha, só eu e Deus, não tinha medo de nada. A Avenida Victor do Amaral era feita de paralelepípedos, e quando chegava na Avenida Archelau de Almeida Torres, até minha casa, era tudo estrada de chão e sem iluminação. Muitas vezes andei amassando lama debaixo de chuva, pois nem sempre lembrava de levar a sombrinha. Hoje estou aqui, com 94 anos nas costas e feliz por ter vivido tudo isso”, recorda.
Dona Antonina sempre foi uma mulher de fibra, tanto que seu exemplo foi seguido pela filha mais velha, ela também quis ser professora. “Hoje meu maior sonho é poder viajar muito, amo passear”. O filho complementa que, apesar de algumas limitações da idade, a mãe gosta de caminhar, passear no shopping, mas o que ela mais ama de verdade, é conversar com as pessoas.
“Eu gosto mesmo é de passear, comer e conversar muito. Lembro bem da minha mãe dizendo o tempo todo enquanto administrava minhas tarefas: ‘O que estraga essa menina é a palestra (conversa)!” conclui dona Antonina.
Edição n.º 1401