O possível corte de 70 árvores ao longo da avenida Victor do Amaral, ação que segundo a Secretaria do Meio Ambiente faz parte do Plano Municipal de Arborização Urbana de Araucária (PMAA), provocou revolta entre os moradores da região e está dando o que falar. Tanto que a retirada nem bem começou, e já teve que ser paralisada.
Mobilizações no local e nas redes sociais demonstram o repúdio da população contra a atitude da PMA. Em algumas árvores ao longo da avenida, os moradores também amarraram laços pretos nos troncos, simbolizando “luto”. Teve ainda moradores que “peitaram” a equipe da SMMA, impedindo que as motosserras entrassem em ação. “É um crime ambiental o corte dessas árvores, que estão aqui há décadas, e nunca incomodaram ninguém. Não sabemos qual o impacto ambiental dessa ação”, disse uma moradora.
O fato é que a ação da Prefeitura e o impacto negativo que a mesma causou diante da comunidade, chegaram ao conhecimento do Ministério Público Municipal, que disse estar tomando todas as providências sobre o caso. A promotora Rita de Cassia Pertussatti Ribeiro, da 1ª Promotoria de Araucária, alegou que vai solicitar ao Executivo Municipal, esclarecimentos sobre o corte das árvores.
A Prefeitura disse que até o momento já efetuou o corte de quatro árvores, mas por questões de segurança o projeto foi interrompido e será realizado apenas o trecho A, que contempla as duas primeiras quadras, com o corte de oito árvores. Explicou ainda que para dar continuidade ao serviço, convocará uma audiência pública para discutir novamente a questão.
Ambientalista condena a ação
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) explicou que o Plano Municipal de Arborização Urbana de Araucária (PMAA) alcançará toda a cidade, mas inicialmente priorizará as vias centrais, começando pela Victor do Amaral, que hoje tem ao longo de seus quase dois quilômetros de extensão, 197 árvores.
Estudos da SMMA mostraram que destas 197 árvores existentes na Victor, 97 deveriam ser substituídas e doze removidas por não atenderem critérios estipulados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ANBT). Porém, embora 109 das 197 não atendam os critérios da ABNT, a ideia é retirar cerca de 70 árvores que apresentam maior risco e incômodo a fiação, comércios, pedestres e veículos.
Para o ambientalista José Paulo Loureiro, nada justifica a medida. Ele disse que sempre que pode defendeu a sobrevivência das tipuanas existentes na avenida. “Venho fazendo isso desde 2004, antes da reforma da rua, quando quiseram abater as 70 tipuanas e tive que recorrer aos mais variados recursos para impedi-los. Dessa vez entrei com um laudo técnico meu, analisando os erros cometidos no manejo das árvores e mostrando os mais diversos erros cometidos na condução destas e de outras árvores pela SMMA”.
Loureiro denunciou que todos os anos a Prefeitura faz podas erradas para deformar e desestabilizar as árvores, para mais tarde ter motivos para o seu corte. “Primeiro você planta, aguarda três anos, e depois corta as que tem risco. Estão atropelando o processo. As mudas tem que sobreviver aos vândalos de todas as categorias sociais, e isso leva três anos. Fico triste com essa situação, pois amo essa cidade. Há mais de 10 anos doei e plantei 110 quaresmeiras com 2,0 m na Victor, durante um mutirão na semana do meio ambiente. Muitas das tipuanas foram cortadas de madrugada e em fins de semana. Essas que foram cortadas nunca mais foram replantadas no mesmo ou próximo do lugar original. A Victor está perdendo sistematicamente sua arborização de tipuanas. Agora querem plantar aroeira salsa, que tem a metade do porte. Mas é uma espécie pioneira de vida curta. Não duram vinte anos, pois ela vai secando aos poucos. Minha sugestão é o plantio de sibipirunas, leguminosas de grande porte para fazer a função de filtrar e refrigerar o clima urbano”, disse Loureiro.
Texto: Maurenn Bernardo / Foto: Everson Santos