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Professor Rafael Jesus: Carroções e arados

Carroções e arados foram duas inovações introduzidas pelos poloneses em nossas terras que contribuíram muito para o desenvolvimento econômico de Araucária.

Antes dos carroções, as mercadorias levadas e trazidas do litoral eram transportadas em lombo de mulas. Entre 1872-1873 o governo da província do Paraná finalmente concluiu a construção da Estrada da Graciosa que, como nos ensinou o professor Romão, deu ao planalto curitibano novo alento econômico. Os caboclos que aqui viviam sofreram por muito tempo com a falta de uma via de transporte adequada.

Por outro lado, os imigrantes que aqui se estabeleceram a partir de 1876 deram mais sorte. Some-se a isso a introdução dos Carroções Eslavos, também chamados de Carroças Polacas, feitos pelos imigrantes poloneses e alemães-russos. Eram veículos com quatro rodas, puxados por três parelhas de cavalos que substituíram, com grande vantagem, as tropas de mulas na ligação feita entre o litoral e as nossas terras. De acordo com o professor Romão:

“Durante mais de meio século esses veículos sustentaram a economia do estado, levando para as cidades os produtos interioranos e na volta trazendo produtos fabricados, tais como ferramentas agrícolas, utensílios caseiros, sal, açúcar, bebidas, tecidos, etc. (WACHOWICZ, p. 51).”

Com relação ao arado, muitos caboclos pareciam resistir à inovação trazida pelos polacos. Havia até mesmo aqueles que praticavam uma zombaria chamada aração, assim descrita pelo professor Romão:

“Segurava-se o sujeito pelas duas mãos, puxava-se as mãos para trás e batia-se com os joelhos na parte traseira, gritando: “eia, tordilho!” (Idem, p.42).”

É importante saber que o arado introduzido pelos imigrantes teve que ser adaptado às condições do solo e flora que aqui temos, e isso levou tempo, obrigando os colonos a passarem por experiências que muitas vezes não foram bem-sucedidas, traumáticas até. Outras ferramentas introduzidas e adaptadas pelos imigrantes foram os ancinhos, foicinhas, gadanhas, grades, manguais, moinhos manuais, rastelo, soterrador, ventiladores para limpar cereais dentre tantas outras ferramentas, que hoje podem ser conhecidas numa visita ao museu Tingui-Cuera que, por uma feliz coincidência, até o dia 24 de setembro nos brinda com a ótima exposição A Colônia de Thomaz Coelho.

Para nosso deleite reproduzimos nos parágrafos abaixo o belíssimo trecho do livro Homens da Terra sobre o trabalho de um agricultor polonês com o arado puxado por cavalos, que naquelas circunstâncias eram seus grandes aliados na luta pela sobrevivência.

“Depois do almoço reforçado, Wachadlo pôs a mão ao arado e encostou o ferro ao eito. Os animais resistiam, gemiam, chiavam e paravam. O arador ajudava. Empurrava. Torcia o leme para todos os lados. As raízes rachavam. O bico do arado saltitava de pedra em pedra. Os cavalos tropeçavam. O operário tinha seus ombros sacudidos.

Os gritos constantes de vamos, oi!, fasta!, avança!, espalhavam-se pela floresta.

O sol fustigava impiedoso, os animais transpiravam e o mesmo acontecia com Wachadlo. O arador soltou a camisa, que se agitava ao sopro do vento. O ar estava abafado, prenúncio de chuva próxima.

Wachadlo continuava atarefado em arar, pulando para a esquerda e para a direita, rasgando sulcos na terra e levantando raízes. Com um andar de formiga, rasgava o seio do solo.

Cada palmo da terra conquistada pelo arado era regado com o suor dos homens e dos animais.

O sofrimento, com as raízes e com as pedras, sob o fio do arado, o calor do sol, os multiformes mosquitos, pernilongos, cobras, aranhas… todos estes e muitos outros obstáculos, em conjunto, bombavam o sangue e a energia do agricultor, para espalhá-los pelo sertão.

Wachadlo sentia desde há muito tempo que seus pés começavam a pesar, que saltava desajeitadamente da terra arada para as cinzas. Já não era da mesma forma que antigamente…. Seria cansaço? Talvez velhice?… Esgotamento?… Havia boa vontade, mas as forças estão se esvaindo. Os ossos estão preguiçosos… e assim decaem as energias da gente (Idem, p. 160-1)”.

Edição n. 1374

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