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Os rabinos, os guias espirituais de Israel insistem na necessidade de estabelecer relações pacíficas entre as pessoas. Eles condenam a vingança, a ira, o rancor e exigem reconciliação. Quem errou – ensinam, deve reconhecer o próprio erro e pedir perdão, e a pessoa ofendida tem a obrigação de aceitar as desculpas. Segundo estes mestres, porém, a obrigação de perdoar é restrita aos membros do povo de Israel, e não é ilimitada. No máximo perdoar três vezes. Depois disso, a pessoa deverá ser condenada. Observem que o perdão é somente para os seus, para os da sua raça e da sua religião, e não para os estranhos, os de fora, os pagãos. É um perdão seletivo e limitado.

Pedro, um dos apóstolos de Jesus, diante das falas amorosas de Jesus, quis aumentar este número, ou seja, sete vezes. Por isso pergunta para o Mestre: ‘Quantas vezes eu devo perdoar? Sete vezes?’ E Jesus lhe responde: ‘não lhe digo sete, mas setenta vezes sete’. Ou seja, sempre. Esta é a grande novidade trazida por Jesus, e revolucionária, pois ele sabe que somente o perdão pleno e total, pode libertar o ser humano de toda mágoa e ressentimento. Jesus, com suas palavras e ações, nos mostra o caminho da verdadeira felicidade e da realização plena do homem. A sua mensagem é provocadora, questionadora, mas transformadora.

Uma das melhores definições que eu encontrei sobre o perdão, diz o seguinte: ‘perdoar é não dar poder aos pensamentos e aos sentimentos do outro’. No dia em que li esta análise sobre o perdão, confesso que minha vida mudou para melhor. Quando damos muito poder ao que o outro pensa e sente ao nosso respeito, facilmente nos magoamos, nos fechamos, prometemos dar o troco ao outro e nos vingarmos de algum jeito. Parece que a vingança alivia a dor pela ofensa recebida. Ledo engano! Nada provoca tanto mal estar e a possibilidade de uma guerra maior, do que dar o troco por causa de uma ofensa recebida.

Quando eu dou poder para as palavras do outro ao meu respeito, eu acabo me tornando refém daquilo que ele pensa sobre mim. Ele acaba mandando em minha vida e provocando desejos de vingança. Esta atitude é nociva e causa uma espécie de câncer interior. Com certeza, poucas coisas fazem tanto mal ao ser humano, e são uma espécie de tóxico psicológico do que a mágoa e o ressentimento. Quando damos poder ao outro, ele se torna dono da nossa vida e das nossas ações. Já não agimos mais movidos por aquilo que acreditamos, mas movidos pelo ódio ou vingança, que nos empobrece, e nos torna escravos das palavras e das decisões do outro sobre a minha pessoa.

O perdão significa exatamente isso: não dar poder aos pensamentos e palavras do outro a meu respeito. Quando perdoo, dissolvo este poder que o outro quer impor sobre mim, e me sinto livre para agir e viver de acordo com a minha consciência. O mundo das fofocas que tanto destrói o ser humano, no fundo significa exatamente isso: o outro me domina e me destrói, porque eu permito que isto aconteça. Dizia um grande escritor: ‘ninguém pode lhe fazer mal sem o seu consentimento’. Se alguém me destrói por dentro, é porque eu permito que ele mande e me domine. No fundo, eu tenho o grande poder de dirigir a minha vida, sendo dono dos meus próprios passos e das minhas decisões. Jesus, realmente, foi maravilhoso, quando pediu que perdoássemos sempre. Quem ama e quer ser feliz, perdoa e não guarda mágoas ou ressentimentos. O perdão liberta e cura, transforma e nos salva.

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