O Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Araucária (Sismmar) vive uma crise de reputação sem precedentes. Isso porque pelo menos quatro funcionárias que trabalham no setor administrativo da entidade acusam a diretoria de violar uma série de direitos trabalhistas a que têm direito, como pagamento de piso salarial mínimo, desvio de função, horas extras em excesso, ambiente inóspito com a prática de assédio moral recorrente e, pasmem, até uma acusação de assédio sexual contra uma dessas trabalhadoras.

A situação nos corredores do Sismmar é tão grave que o Ministério Público do Trabalho (MPT) foi acionado pelo Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais Profissionais do Estado do Paraná (SESOCEPAR), que representa as trabalhadoras, para tentar mediar a situação.

Uma reunião de mediação chegou a ser realizada no último dia 5 de junho, na sede do Ministério Público do Trabalho, sendo que a diretoria da entidade não reconheceu boa parte das denúncias feitas pelas funcionárias. O representante dessas trabalhadoras pontuou, inclusive, que o ambiente dentro do Sismmar é de trabalho hostil e prejudicial à saúde mental das trabalhadoras, o que foi refutado pelos representantes do Sindicato dos Professores. Ao final, a mesa de mediação foi concluída sem um completo acordo.

Para que possamos entender um pouco melhor as denúncias feitas contra o Sismmar, separamos os itens por tópicos.

QUESTÕES TRABALHISTAS

Segundo apurado por nossa reportagem as trabalhadoras reclamam que num primeiro momento o Sismmar estaria se negando a pagar o piso salarial mínimo a que elas teriam direito. Já com a intervenção de sua entidade sindical, as funcionárias conseguiram esse direito, mas o Sindicato dos Professores teria se recusado a implantar a chamada equiparação salarial à empregada com mais tempo de casa.

Sismmar é acusado de cometer assédio moral contra as próprias funcionárias
Reunião de mediação entre as partes chegou a ser realizada na sede do Ministério Público do Trabalho.

Outro ponto levantado por elas seria o fato de algumas das profissionais estar em desvio ou acúmulo de funções sem receber por isso. Seria o caso, por exemplo, de uma trabalhadora do setor de Comunicação da entidade.

ASSÉDIO MORAL

Também conforme apuração feita pelo O Popular a prática do chamado assédio moral teria se tornado uma regra no dia a dia do Sismmar, com pelo menos três membros da diretoria constrangendo as trabalhadoras. As práticas se materializariam em falta de urbanidade no trato com essas profissionais, castigos velados quando elas se negam a fazer algo que não estaria dentro de suas atribuições e constantes ameaças, que teriam se intensificado a partir do momento em que passaram a exigir melhorias salariais neste ano de 2025.

O clima hostil dentro do Sismmar seria tanto que atualmente quatro funcionárias estariam afastadas do trabalho por razões médicas. Parte delas está com data de retorno para a próxima semana e elas temem que o assédio continue. Os relatos contabilizam ainda que ao longo dos últimos anos a diretoria da entidade teria praticado sete omissões de socorro contra suas trabalhadoras, que teriam tido crises de ansiedade e até desmaiado nas dependências da entidade sem que fossem acolhidas pelo comando do Sindicato.

Sismmar é acusado de cometer assédio moral contra as próprias funcionárias
Sindicato que representa estas trabalhadoras teve que acionar o Sismmar junto ao Ministério Público do Trabalho

ASSÉDIO SEXUAL

Como se não bastasse as denúncias no âmbito das relações trabalhistas, uma das funcionárias também acusa um dos diretores do Sismmar de assédio sexual. Segundo apuração de O Popular, as investidas teriam acontecido ao longo de oito meses, sendo que somente agora no mês de abril o comando da entidade teria tomado algum tipo de atitude, com uma espécie de conversa com o acusado de assédio em que ele teria optado por renunciar ao seu cargo na diretoria. As razões que levaram a essa renúncia, no entanto, teriam sido abafada para não “manchar” a imagem do sindicato.

Posteriormente a renúncia, a funcionária vítima de assédio teria registrado boletim de ocorrência, isto em 15 de maio, e solicitado medida protetiva, a qual foi deferida pela Justiça. Hoje, o agressor precisa manter uma distância mínima da ofendida.

Essa medida protetiva, no entanto, motivou novos problemas na rotina do sindicato. Isso porque a trabalhadora que teria sido vítima de assédio foi impedida de auxiliar na paralisação que aconteceu em frente à Prefeitura no dia 4 de junho justamente para que o professor acusado de assédio pudesse estar presente. A direção, inclusive, teria permitido que essa pessoa usasse várias vezes o microfone durante o ato, reforçando uma imagem de liderança perante a classe, que é formada majoritariamente por mulheres.

A trabalhadora que acusa o professor de assédio teria entendido a postura como uma opção pelo agressor e isso desencadeou nela uma crise de ansiedade num momento em que ela estava sozinha na sede administrativa do Sismmar. O pânico teria sido tanto que ela chegou a desmaiar, sendo socorrida por outra funcionária que chegou algum tempo depois ao local.

O Popular procurou o professor acusado de assédio para ouvir o que ele tinha a dizer sobre as acusações. Num primeiro momento ele disse que daria sua versão. Mas até o fechamento desta matéria não enviou nenhuma nota.

ACOMPANHAMENTO

As trabalhadoras que acusam a direção do Sismmar estão sendo acompanhadas pelo Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM) e por comissões internas da OAB Araucária. Elas também estão recebendo apoio do sindicato que as representa.

Elas dizem que a direção do Sismmar não as procurou oferecendo algum tipo de acolhimento desde que tiveram que se afastar por razões médicas. Pelo menos uma dessas funcionárias apresentou um agravamento de sua condição de angústia profunda. Felizmente ela foi socorrida a tempo.

O QUE DIZ O SISMMAR

Questionado sobre o assunto, o Sismmar emitiu nota em que se defende das acusações, afirmando, entre outras coisas, que repudia qualquer tipo de prática de assédio moral, que sempre negociou com as funcionárias e que tem preocupação especial com a saúde de suas trabalhadoras.

“O Sismmar repudia a prática de assédio moral em qualquer instância e especialmente em sua sede, considera que esta questão foi tratada no Ministério do Trabalho e refutada a partir das provas apresentadas e consignadas em ata. O sindicato tem uma preocupação pública com esta pauta, inclusive realizou Seminário no ano passado para todas as unidades escolares, em conjunto com a administração. Quanto a possível denúncia de assédio sexual na sede do sindicato, o Sismmar prontamente acolheu a denúncia e o dirigente acusado foi afastado. Sendo que uma dirigente acompanhou a funcionária até a delegacia da mulher para amparo e registrar o boletim de ocorrência e pedido de medida protetiva. O dirigente não participa das instâncias de direção desde que pediu seu desligamento, sendo realizada ata deste afastamento. Em relação a participação das funcionárias em atos externos, as funcionárias necessitam de gratificação. Na ocasião do ato estávamos discutindo um valor retroativo da funcionária e atribuição, por isso permaneceu na sede, para não caracterizar desvio de função. Na mesa de negociação no Ministério do Trabalho, o Sismmar reforçou que as tratativas estavam ocorrendo na sede do sindicato com a presença das funcionárias, dando abertura a presença do representante do sindicato das funcionárias e também manifestou sua estranheza de ser provocada essa mediação no Ministério. A reivindicação do pagamento do piso estadual foi acolhida, ficando valores retroativos a janeiro e forma de atribuição a servidores mais antigos de casa para uma nova rodada, pois ainda estamos em negociação do acordo coletivo. Diariamente o sindicato busca contato com as funcionárias em atestado e no dia que a servidora passou mal, inclusive, em busca de notícias e amparo. Temos uma preocupação séria com a saúde de nossas funcionárias, por isso custearmos plano de saúde que abrange a todas as especialidades, devido a nossa preocupação com saúde. Também foi realizado recentemente o exame periódico que determinou estarem aptas para o trabalho”.

Edição n.º 1469.