Se existe uma carta no tarô que sempre me chama profundamente a atenção, é a Torre. Ela não é apenas impactante pela imagem que apresenta; ela é um espelho poderoso dos momentos em que nossas próprias estruturas internas entram em colapso. Uma torre rígida, orgulhosa, tomada pelo fogo, e figuras saltando para se salvar. É o retrato cru da vida quando insiste em nos despertar, mesmo que pela dor.

A Torre fala sobre aquilo que mantemos de pé à força. Sobre as paredes que insistimos em sustentar, mesmo quando já estão trincadas há anos. É a negação, o apego, o medo do que existe do lado de fora.

E, de repente, algo acontece — uma palavra, uma decisão, um rompimento, um acontecimento inesperado — e tudo aquilo que parecia sólido se desfaz diante dos nossos olhos. E nós nos apavoramos, porque fomos ensinados a acreditar que desabar é fracassar.

Mas a verdade é outra. A vida não derruba o que está vivo; ela derruba o que já morreu dentro de nós, mas que continuamos tentando manter em pé. Por isso, quando relacionamentos se rompem, quando carreiras mudam, quando casamentos chegam ao fim, quando postos são deixados para trás, não estamos diante de uma sentença. Estamos diante de um realinhamento. De um convite à honestidade profunda — aquela que dói, mas nos devolve para o nosso próprio eixo.

Virar a carta da Torre não é um decreto de derrota. É o chamado para enxergar sem filtros. É perceber que, muitas vezes, o ego tenta sustentar uma narrativa que não combina mais com quem estamos nos tornando. E quando o ego colide com a realidade, é a Torre que aparece para lembrar que nada se mantém de pé quando deixa de ter verdade.

Agora estamos no último mês do ano, um período natural de balanço interno. É um tempo em que a alma pede silêncio, reflexão e coragem. Então faça-se perguntas que talvez você tenha evitado o ano inteiro: Em que eu desabei neste ano? O que eu tentei sustentar além do limite? O que a vida já mostrou que está indo a ruínas, mas eu ainda insisto em segurar? Há situações, vínculos, hábitos ou versões minhas que já pedem para ser deixadas para trás?

Não há problema algum em soltar um cargo, uma história, uma dinâmica ou até um sonho antigo. O verdadeiro problema é arrastar consigo sua paz na tentativa de preservar uma estrutura que já não suporta seu crescimento. Segurar o que está desmoronando é levar junto a possibilidade de ser feliz. Soltar é permitir que algo mais alinhado possa ser construído.

Desejo que, neste fim de ano, você não lute contra a Torre. Que você permita a queda do que não sustenta mais sua alma. Que você compreenda que, por trás do colapso, existe libertação. Que você transforme ruínas em terreno fértil. E que o novo encontre espaço para nascer, porque você teve a coragem de aprender com aquilo que caiu.

Edição n.º 1494.