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Vando da Fortuna: O Carnaval é salvação
Foto: Luiz Pacheco/FCC

Quem samba, seus males espanta! E não há dúvidas de que dançar é divino—movimentos corporais ritmados com a própria alma, na percussão de uma vida que decide chacoalhar tudo: tristeza, melancolia, euforia, amor ou dor. O samba é isso: um misto de gentes que, ao som de instrumentos como tamborim, ganzá, cuíca e agogô, celebram suas próprias existências, resistências e vidas. Mas como o samba pode elevar nossa energia espiritual?

O samba ecoou nas ruas cariocas e em tantas outras pelo Brasil com mais força a partir do século XIX, como um ritmo de liberdade. E não apenas no sentido metafórico ou ilustrativo, mas literalmente: um festejo originalmente dos corpos pretos, após a queda das correntes escravagistas em nosso país. Um poderoso grito de liberdade, rompendo o silêncio eclesiástico que encobriu o massacre coletivo nas senzalas brasileiras. Para os libertos, a dança misturava alegria e choro, coberta por um manto vermelho sangue, o sangue invocado pelos ancestrais africanos que não sobreviveram ao período. Talvez uma forma do povo preto proclamar: Ainda estou aqui!

Sem direito ao Oscar ou às menções honrosas da nossa branquitude que jamais reparará ou sentirá na pele os efeitos da ditadura do “Preto e Branco”, vozes negras continuam sendo demonizadas. E não apenas pelo som que emitem, mas pela tessitura da cor e da descendência. Para alguns ouvidos, o samba e o Carnaval são ensurdecedores. “Para quê investir dinheiro público nisso?” alguém sempre dirá.

Enquanto sinfonias são orquestradas por maestros para premiações das “Fernandas” (nada contra), os “Miltons Nascimentos” fazem pausas musicais forçadas. Milton, cantor negro de sambas e tantos outros ritmos, teve uma cadeira negada na fila A do Grammy 2025, onde concorria na categoria Melhor Álbum Vocal de Jazz. Onde termina, então, o reconhecimento por sua obra? No samba, ao som de boas macumbas da Portela—porque macumba é percussão daqueles que ainda estão aqui para dizer o que realmente acontece.

Não se trata de “mi-mi-mi”! Paulo Barros, carnavalesco não preto, que se sentiu cansado das temáticas das religiões africanas nas escolas de samba, meu conselho: encontre seu altar e faça seu som! Porque o samba sempre invocará Xangô, Oyá, Exu, Yemanjá… para darem movimento e abrirem caminhos aos que nunca encontraram tapetes vermelhos desde os navios negreiros.

“Carnaval e samba são obras do diabo!”—dizem algumas mentes. Mas quem é o “diabo” na história brasileira? Há um grande perigo nas sentenças coletivas criadas a partir de uma única narrativa, sempre contada por uma única perspectiva de cor, crença e posição social. A função espiritual do samba é soltar-nos das algemas—incluindo as da ignorância—e trazer cor, ritmo e liberdade a todos os corpos que encontram, na folia da rua, um espaço para celebrar-se sem julgamentos.

Desejo muito samba na veia e na alma! Curtiu? Segue-me no @tarodafortuna.

Edição n.º 1455.

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