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De acordo com as historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, no livro Brasil: uma biografia, durante mais de três séculos foram transportados para o continente americano entre 8 e 11 milhões de africanos, sendo que quase 5 milhões tiveram como destino certo os portos do Brasil.

Reduzidos invariavelmente à escravidão, esses seres humanos passaram a ser considerados mercadorias, cabendo aos seus donos decidir sobre sua vida e morte.

Inferno dos negros, o Novo Mundo se converteu para essas pessoas em sinônimo de trabalho forçado nas lavouras, minas, transporte, serviços domésticos e tudo aquilo que fosse muito, muito pesado.

Durante séculos o tráfico negreiro foi a atividade econômica mais lucrativa do Brasil. Transportados em navios que ficaram conhecidos como tumbeiros, em condições tão precárias, que hoje em dia até os animais têm regras mais dignas de condução. A mortalidade era altíssima!

Por tratar-se de uma relação forçada de trabalho, a escravidão sempre esteve ligada à violência. Os castigos físicos eram comuns e qualquer tentativa em descrevê-los causa náuseas naqueles que têm o menor respeito pela dignidade humana.

Mesmo em regiões pobres do Brasil, como o Paraná, havia pessoas escravizadas. De acordo com o historiador Fábio Bacila Sahd: “Em 1798, nas cidades de Antonina, Castro, Curitiba, Guaratuba, Lapa, Paranaguá e São José dos Pinhais foram relacionadas “20.999” almas, das quais 4.273 eram escravos, aproximadamente uma em cada cinco pessoas (SCHMIDT, 2008, p. 25).” Naquela época Araucária ainda era chamada de Tindiquera e fazia parte de Curitiba.

No Arquivo Nacional do Rio de Janeiro é possível conhecer uma antiga petição elaborada pelos moradores de Tindiquera em 29 de outubro de 1823. Naquele tempo nossa terra contava com 1.128 almas, sendo que dessas, 78 eram escravizadas. Um dos fazendeiros relacionados possuía 13 escravizados.

É preciso esclarecer que Araucária nunca teve muitas pessoas escravizadas. No censo populacional realizado em 1854, por ocasião da emancipação do Paraná (19/12/1953), dos 1652 habitantes da capela do Yguassú, 71 eram negros escravizados. Por ser relativamente pobre, poucos possuíam recursos para adquirir a mercadoria mais cara do país. Sabe-se, contudo, que desde tempos remotos recorria-se à escravização dos povos indígenas. Como bem observou Romão Wachowicz:

No primeiro livro do Cartório da Freguesia do Iguaçu encontramos na elaboração do inventário que os escravos eram incluídos no patrimônio como objetos. Numa das certidões lemos que Candido José Mendes vendeu uma escrava de cor parda, Margarida, moça de 15 anos, a Euzebio Cardoso, por mil cento e trinta mil-réis. Antes da venda, o proprietário pagou sobre ela o imposto (sisa) na Coletoria em Curitiba, na importância de quarenta mil-réis, para as despesas da Província. O documento leva o número 24. Pela primeira vez encontramos a definição da cor de um escravo. É possível que se tratasse de uma índia, pois os índios eram de cor escura-bronzeada (WACHOWICZ, p. 23).

Atualmente, além do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres, outros dois lugares em Araucária mantêm documentos históricos esclarecedores sobre a vida dos negros em nossas terras no século XIX, os arquivos do 1º Tabelionato de Notas de Araucária (o antigo Cartório Pimpão) e os livros de batizado da Capela do Yguassu.

Conhecer essas folhas amareladas é compreender um pouco melhor a história dos negros em Araucária, sem máscaras, sem censuras.

Explicação histórica adaptada do livro Araucária, nossa história.

Citação: WACHOWICZ, Romão. A Saga de Araucária: Curitiba: Gráfica Vicentina Ltda, 1975.

Edição n.º 1398

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