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Foto: Raquel Kriger

“Não gosto de me lembrar daquele dia: 8 de dezembro de 1988!” Foi com estas palavras que a dona Tereza Nalepa Czaikowski, 78 anos, referiu-se à tragédia que mudou completamente a vida dos moradores de Guajuvira, na área rural de Araucária. Trinta e cinco anos se passaram desde que um trem carregado de combustível descarrilou, tombou e explodiu, deixando várias pessoas feridas e duas em óbito.

O descarrilamento também culminou em um incêndio de grandes proporções, que destruiu toda a área central da localidade, atingindo o cartório, a hospedaria, a agência dos Correios, o açougue e a fábrica de cerâmica. Daquele cenário de destruição, restou apenas a chaminé da fábrica, que permanece em pé até hoje e volta e meia traz à memória dos guajuvirenses, a triste lembrança.

35 anos da explosão do trem em Guajuvira: a triste lembrança de quem presenciou o acidente
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

Dona Tereza, a matriarca da Família Nalepa (donos do Comercial Iguaçu), lembra que eram por volta de 16h30 daquele dia 8 de dezembro quando ouviu um barulho ensurdecedor vindo dos trilhos do trem. “Olhei rapidamente para os trilhos e levei um susto tão grande quando vi os vagões tombando. Eu estava lá na loja sozinha. Minha mãe, meu esposo e minha irmã estavam na casa nos fundos. Todos vieram ver o que tinha acontecido, depois corremos apavorados, para fugir do perigo. Fomos para o outro lado da ponte (do Rio Iguaçu). Fico triste só de lembrar do que vi naquele dia, de presenciar as construções pegando fogo e as pessoas aterrorizadas tentando se salvar. Lamento muitíssimo que ainda tivemos duas mortes – perdemos a filha e o neto do açougueiro aqui de Guajuvira, sem contar as inúmeras pessoas que ficaram feridas. Difícil não se emocionar quando falamos desse dia”, relata a comerciante, com a voz embargada.

35 anos da explosão do trem em Guajuvira: a triste lembrança de quem presenciou o acidente
35 anos da explosão do trem em Guajuvira: a triste lembrança de quem presenciou o acidente 1

Lembranças que machucam

Na época do acidente dona Tereza tinha 43 anos, ela conta que era um dia de semana e todos estavam trabalhando normalmente nos seus comércios, quando foram surpreendidos pela explosão. “Lembro que houve muito pânico e correria. Os trabalhados na fábrica de cerâmica fugiram em direção ao Rio Iguaçu, enquanto as chamas consumiam tudo. Meu filho servia o Exército e naquele dia pegou folga para vir para casa, veio de carona até a rodovia, e quando desembarcou, logo ficou sabendo do incêndio perto do armazém. Ele ficou assustado, tratou logo de conseguir outra carona para chegar rapidamente até aqui. Felizmente se tranquilizou quando viu que as chamas não chegaram a atingir nosso comércio. Ainda assim tivemos que deixar tudo e fomos nos abrigar na casa de parentes, onde passamos aquela noite. Por questões de segurança, o armazém ficou interditado por mais um dia devido à grande quantidade de combustível que ainda estava queimando. Depois conseguimos reabrir”, disse Dona Tereza.

Outra lembrança que a comerciante mantém viva do dia do acidente é a grande movimentação de bombeiros vindos de várias cidades para reforçar no atendimento. “Tinha muita gente aqui para ajudar, foi um trabalho de muitas mãos para apagar o fogo e socorrer as vítimas. Depois do acidente, Guajuvira demorou muito para se reconstruir e nunca mais foi a mesma. Nenhuma construção foi permitida próximo à rede ferroviária e hoje o que vemos no local da tragédia é um espaço vazio, que guarda apenas aquela chaminé, que nos faz lembrar de tudo, sempre que olhamos para ela”, lamenta.

Reconhecimento aos heróis

Muitas foram as histórias que surgiram ao longo desses 35 anos, mas uma delas, sem dúvida, jamais deve ser esquecida: a dos dois heróis, que em meio a tanta dor, desespero e pânico, ajudaram a amenizar a dor daquelas pessoas. Dirceu Leal foi o maquinista aposentado designado para retirar 22 vagões carregados de combustíveis antes que fossem atingidos pelo incêndio e os levasse até o pátio de manobras da cidade. Sua atitude e coragem salvou centenas de vidas e dezenas de construções da destruição total. Já o Senhor Estevão Wagner, da Cerâmica Guajuvirense, enfrentou fumaça e fogo para auxiliar amigos e vizinhos, com a atitude de salvar vidas, ele colocou sua própria vida em risco, mostrando o valor do ser humano que surge nos piores momentos da história.

Edição n.º 1401

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