A figura de João Batista é determinante neste período do Advento, como uma voz que clama no deserto, conclamando o povo à conversão e à mudança de vida. Ele se veste de modo muito rústico, e se alimenta de gafanhotos e mel silvestre. As pessoas vêm até ele para serem batizados e assim colocarem-se no caminho da conversão, buscando o perdão de todos os seus pecados. Ele se utiliza de palavras duras, dizendo que o machado já está pronto e toda árvore que não der frutos será cortada e lançada ao fogo. Aos fariseus ele alerta que não basta dizerem que são filhos de Abraão, chamando-os de raça de víboras. É uma linguagem que de certo modo coloca medo, exigindo de todos uma verdadeira transformação interior.

João Batista tem plena consciência da sua missão aqui na terra, como o precursor, que prepara a vinda do Salvador. Muitos foram ao deserto, imaginando que ele seria o Messias, o esperado redentor pelo povo de Israel. Mas ele é muito claro e consciente de que apenas está preparando o caminho daquele quer virá para salvar a humanidade. Ele afirma de modo transparente que batiza com água e aquele que virá depois dele batizará no Espírito Santo e no fogo e é muito mais forte do que ele. João Batista se considera apenas uma voz que clama no deserto, e não é nem digno de desamarrar as sandálias daquele que virá depois dele.

A conversão pregada pelo profeta requer uma mudança de atitude, produzindo frutos para mostrar a conversão. Não são apenas palavras bonitas, promessas vãs, mas, uma transformação através de gestos e ações, carregadas de amor pelos irmãos. Ele mesmo dá o exemplo, sendo sua vida um verdadeiro testemunho de tudo aquilo que prega, através do seu jeito simples e humilde, totalmente desapegado dos bens materiais deste mundo. É um verdadeiro asceta, que vive de modo muito disciplinado, sacrificando seus desejos humanos, em prol de uma causa muito superior. Ele não pensa em si mesmo, mas, naquele que há de vir para renovar e salvar a humanidade.

Neste tempo de Advento, a figura de João Batista nos conclama a uma verdadeira mudança de vida. Num mundo marcado por tanto consumismo, pelo desejo desenfreado de sempre ter mais e mais, ele nos ensina a sermos sóbrios e simples. Enquanto tantos se preparam para o Natal, voltados somente para a dimensão material, nós somos desafiados a nos embrenharmos no caminho da conversão espiritual. O Natal não é a festa do Papai Noel, mas, a festa do nascimento do Salvador. Podemos nos preparar cristãmente, frequentando todos os domingos a santa missa, participando dos encontros em família e através de um gesto concreto em prol do irmão que mais sofre.

O Natal já está chegando e Jesus quer nascer novamente num presépio, não no presépio de palhas, mas em nosso próprio coração. Vamos nos deixar guiar pelo amor, pela compaixão, pela misericórdia e pela solidariedade. Natal nos convida a sairmos de nós mesmos, do nosso egoísmo e a abrirmos o nosso coração a Deus e a quem mais necessita. Um gesto de carinho e de ternura, que pode se realizar em forma de um abraço ou de um ato concreto de partilha e solidariedade. Deixemos ecoar em nós as palavras de João Batista: ‘convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo’.

Edição n.º 1494.