Vivemos num tempo em que a privacidade deixou de existir. Ao carregarmos junto ao corpo a mais aprimorada extensão dele que a cultura humana já produziu, ou seja, a extensão do nosso cérebro, mais conhecida como smartphone, passamos a deixar rastros de onde passamos, do que fazemos, com quem nos comunicamos, etc… tudo isso rastreável pelas operadoras, empresas de segurança e, quiçá, por hackers… Tudo isso é possível pois a extensão do nosso cérebro, esse supra sumo de nossa cultura, possui qualidades que o nossamassa encefálica não tem e que gostaríamos que tivesse. A principal dessas qualidades é a de realizar a ‘telepatia’, ou seja, a extensão do nosso cérebro se comunica com as extensões dos cérebros dos outros.
As novas gerações são tão dependentes de suas extensões cerebrais, que um dos maiores castigos que você pode infringir a um adolescente, é privá-lo da extensão de seu cérebro… É como se você tivesse ‘cortado’ uma parte de seu corpo, tamanha a dor e o padecimento de um jovem da era pós-moderna submetido a essa situação.
Além do monitoramento virtual a que nossa vida é submetida hoje, há também uma facilidade de exposição na praça pública virtual das redes sociais, dos fatos que ocorrem no dia-a-dia. As pessoas postam fotos e imagens do que ocorre, expõem sua vida, curtem a vida dos outros, compartilham de tudo um pouco, relatam a sua visão do ocorrido, tecem opiniões, rebatem a opinião dos outros, comentam, se posicionam, acompanham o que é virtualizado, etc.
No caso do serviço público, cada vez mais os cidadãos estão de olho na forma que a coisa pública é tratada, na forma como são tratados pelos servidores públicos, e expressam, especialmente, suas indignações nas redes sociais, fazendo com que estas se tornem uma Ouvidoria constante que contribui com o administrador público na gestão de seus serviços.
Se nossa vida tem cada vez menos privacidade, em tese, deveríamos nos tornar cada vez mais éticos, e por consequência, teríamos uma sociedade cada vez mais ética. No entanto, ao que parece não basta, como diria Foucault, ‘vigiar e punir’. A sociedade pós-moderna evidencia cada vez mais a necessidade de se atentar para a máxima ética de Aristóteles:não somos éticos por natureza, precisamos ser educados para a prática do bem comum.