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Uma das imagens que continuam vivas em minha memória, dizem respeito às aulas que tive em Roma sobre Deus, como educador. Ao longo do Antigo Testamento, encontramos diversas passagens onde Javé corrige o seu povo, orienta a sua caminhada, mas sempre com muita ternura e compaixão. Algumas características próprias de Deus são a paciência, a misericórdia, lento na cólera, aguardando a mudança daquele povo de cabeça dura. Ele nunca desista do seu povo, o povo de Israel, apontando caminhos, através dos seus enviados, Moisés, Josué e todos os profetas. É um Deus que intervém, como um grande educador, um pedagogo, cheio de amor, com firmeza e muita ternura.

Jesus diversas vezes, intervém como educador, mostrando aos discípulos e ao povo em geral, o caminho da vida, da salvação. Exemplo emblemático é o da mulher pecadora, quase apedrejada pelos judeus, seguidores implacáveis da lei. Jesus se dirige para ela como um grande pedagogo, de modo terno e firme ao mesmo tempo. Quando ele lhe diz: ‘eu também não te condeno’, demonstra uma grande ternura por ela; mas, em seguida ele admoesta: ‘vai em paz e não peques mais’. Esta atitude é de firmeza, de correção fraterna, pensando somente e unicamente no seu bem e na sua recuperação.

Em outra passagem, Jesus pede aos seus seguidores que utilizem da correção fraterna com aquele que peca, erra e se desvia do caminho. Claramente ele nos orienta no sentido de que somos responsáveis uns pelos outros. A atitude de Caim que diz: ‘porventura sou guarda do meu irmão?’, não é compactuada pelo mestre. Sou, sim, responsável pelo meu irmão, chamado a corrigi-lo quando se afasta do rumo certo. No entanto, esta correção não pode ser dura, violenta, rancorosa, pois a verdade dita com ódio se torna uma mentira. Por detrás de uma correção, deve estar o desejo sincero e profundo do bem querer, do amor, que quer o bem e a salvação do outro. Quem diz ser amigo daquele que erra, mas não o corrige, por medo de perder a sua amizade, não é um verdadeiro amigo.

Na educação dos filhos, a correção é fundamental para o crescimento sadio, através de gestos de ternura e firmeza ao mesmo tempo. Muitos pais deixam de fazer o seu papel de educador, de pedagogo, alegando que chamar a atenção ou corrigir o filho, pode criar traumas. Nada mais enganador do que isso! Os limites são necessários, sobretudo, nos primeiros anos de vida. Se uma criança não é podada, ela dificilmente saberá distinguir o certo do errado, o bem do mal, e, naturalmente, seguirá os seus caprichos, aquilo que lhe convém e que lhe é mais prazeroso. Uma árvore para dar bons frutos, precisa ser podada todos os anos, do contrário, com o tempo ela ficará estéril. Assim também uma criança em crescimento necessita de podas, para crescer e produzir bons frutos no futuro.

Ternura e firmeza são o sol e a chuva, o sim e o não. Somente ternura, sem firmeza, poderá criar adultos folgadões, sem nenhuma responsabilidade diante da vida. Firmeza sem ternura poderá desenvolver na criança, a rigidez e frieza, dureza e atitudes autoritárias. Será um adulto sem sentimentos, como se diz na gíria, sem coração. Este binômio, firmeza e ternura, de modo equilibrado, é o verdadeiro amor dos pais para com os seus filhos. O bom educador sempre intervém corrigindo de modo terno, carinhoso, suave, mas com firmeza, convicção, pensando unicamente no bem do educando. Quem ama, a exemplo de Jesus, nunca deixa de corrigir, porque, o verdadeiro amor, corrige sempre com firmeza e ternura.

Publicado na edição 1228 – 03/09/2020

Quem ama corrige

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