Jesus, quando foi acusado pelos fariseus de destruir a lei e os profetas, responde dizendo que não veio para abolir, mas para dar pleno cumprimento. E o que isso significa na prática? Amar os inimigos, perdoar sem limites e sem condições, dar com generosidade os meus bens a quem deles precisa, sacrificar a minha vida pelo irmão. Claramente, o amor que Jesus prega, não pode ser reduzido ao cumprimento de algumas normas. Como dizia muito bem São Paulo: ‘somente o amor é a plena perfeição da lei’ (Rm 13,10). E o verdadeiro amor vai muito além da observação de determinados preceitos. Porque ele é concreto, é um comportamento que se manifesta no modo de ser e de viver em relação aos outros e a Deus.
O amor que brota do coração de Jesus é cheio de misericórdia e de compaixão, sobretudo, para com aqueles mais frágeis e limitados. Para ele, o importante é fazer o bem, não importando o dia e nem a hora, mesmo que seja num sábado, dia de repouso e de descanso total. A lei proibia qualquer ação neste dia, mas Jesus parece que de modo proposital, ‘burla’ a lei do sábado, para curar, libertar e salvar. O fundamental é ajudar a quem precisa, porque ele mesmo afirma: o homem não foi feito para a lei, mas a lei foi feita para o homem. Ou seja, quando ela não ajuda a dignificar o rosto humano, não tem razão de ser e de existir. O legalismo férreo, rígido, a exemplo dos fariseus, não ajuda a humanizar, pelo contrário, afasta as pessoas umas das outras.
Em qualquer ambiente, tanto profissional como familiar, é normal que existam normas, leis, que apontam o caminho. Na família, elas são mais espontâneas, mas no ambiente comunitário, profissional, elas são definidas e geralmente bem claras. É necessário que seja assim, pois uma sociedade sem leis torna-se anômala e totalmente fora do controle. No entanto, elas são apenas indicações, setas, assim como um sinaleiro no meio da cidade. Mas a lei, quando aplicada de modo frio e autoritário e rígido e sem sentimentos, desumaniza o ser humano. Acima da lei, está o amor, que se expressa em acolhida, em diálogo e orientação. A lei, quando vivida sem amor, ela é morta.
Jesus, em nenhum momento negou a importância e a necessidade da lei, mas, o modo como ela era usada, em detrimento à vida do ser humano. Tantas vezes, mesmo na vida de comunidade, nos tornamos muito frios e, sem acolhida, simplesmente seguindo aquilo que a lei apresenta. Acabamos ferindo e até excluindo pessoas do nosso convívio, porque, somos incapazes de explicar, de dialogar, de acolher o outro, porque cegos e fixos naquilo que a lei apresenta. Isso não quer dizer, em absoluto, que toda lei deve ser extinta, que as normas devem ser negadas. Mas sim, que tudo deve convergir para o bem e o crescimento do ser humano. E só o amor, o verdadeiro amor aproxima, une, compreende, acolhe e explica de modo respeitoso e acolhedor.
O amor brota de um coração cheio de misericórdia, compaixão e respeito pelo outro. Tratar com delicadeza, com ternura, com bons modos, faz realmente toda a diferença na relação com o outro. Posso discordar da sua opinião, mas isso não me dá o direito de ofender, de agredir, de apelar, de destruir e, pior, caluniar inventando estórias sobre o outro. Quem não ama, age assim, mesmo que fale bonito e invoque para justificar o nome de Deus. Um coração cheio de Deus, só pode amar, e quer amar, porque não consegue viver sem se doar, fazer o bem e ajudar a quem precisa. A lei que brota do encontro com Jesus, é a lei do amor.
Publicado na edição 1251 – 04/03/2021