O povo judeu que chegou na Terra Prometida, depois de 40 anos de caminhada pelo deserto, fez um pacto de aliança com Deus, e até hoje, diariamente repete essa oração ao amanhecer. O texto lido por eles todos os dias está em Deuteronômio 6, 4-9: ‘Ouça, Israel! Javé nosso Deus é o único Javé. Portanto, ame a Javé seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força. Que estas palavras, que hoje eu lhe ordeno, estejam em seu coração. Você as inculcará em seus filhos, e delas falará sentado em sua casa e andando em seu caminho, estando deitado e de pé. Você também as amarrará em sua mão como sinal, e elas serão como faixa entre seus olhos. Você as escreverá nos batentes de sua casa e nas portas da cidade’.
Jesus retoma essa passagem, ao responder ao escriba sobre qual é o maior mandamento, mas, acrescentou outro, intimamente ligado a esse. Além de amar a Deus sobre todas as coisas, faz-se necessário amar ao próximo como a si mesmo. Ou seja, não basta alguém dizer que ama a Deus, se ao mesmo tempo, odeia ao seu próximo. Para Jesus, um complementa o outro, e é impossível dizer que alguém ama a Deus que não vê, se despreza o próximo que está ao seu lado. Em várias passagens o Mestre resume a lei de Deus em amor ao outro, sobretudo, o inimigo. Porque, acrescenta ele, quem ama o seu irmão, naturalmente está amando a Deus, porque cada um foi criado à sua imagem e semelhança.
Ouvimos tantas pessoas proclamar o amor a Deus em alto e bom som. Mas é suficiente pronunciar o seu nome? Tantos o elevam acima de tudo, mas isso será suficiente? Claramente que não. Jesus, em outra passagem, vai afirmar: ‘nem todo aquele que diz Senhor, Senhor entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do Pai’. E o que significa fazer a sua vontade? Amar o próximo como a si mesmo. Em que consiste esse amor? Naturalmente, em viver aqueles valores pregados pelo Mestre durante sua passagem por este mundo. Em primeiro lugar e, acima de tudo, pensar no bem do seu irmão, somente e unicamente no seu bem. Quem deseja o mal do outro, tem ódio no seu coração, tem prazer em destruir, mentir, mesmo que proclame o dia todo o nome de Deus, está sendo falso e mentiroso. É impossível amar a Deus que não se vê e odiar o próximo que está ao seu lado.
Estudando a Bíblia, os rabinos tinham conseguido elencar 613 mandamentos, que eles tinham dividido em preceitos negativos (totalizando 365, como os dias do ano e indicavam os atos a serem evitados) e em preceitos positivos (somando 248, como os membros do corpo humano, e que especificavam as ações a serem cumpridas). Alguns preceitos eram classificados como leves e outros como graves, mas a obrigação enquanto à observância era rigorosa na mesma medida. Um dia comentei a esse respeito com um amigo e ele me respondeu: ‘nossa, eles tinham que cumprir 613 leis e nós somente 10, que se resumem em apenas um, e ainda achamos muito?’ Naturalmente que esse meu amigo não compreendeu a profundidade desse mandamento.
Jesus vai resumir tudo na lei do amor, como a essência de toda a nossa vida cristã. Não um amor apenas sentimental, mas, que se compromete com o outro, que se doa e que se solidariza e que serve e se sacrifica. O verdadeiro amor se manifesta em palavras, gestos e ações que se colocam a serviço do outro. Portanto, quem ama o próximo, quem coloca a sua vida em prol do outro, naturalmente, compreendeu o que significa amar a Deus.
Publicado na edição 1285 – 28/10/2021