Araucária vive uma onda de violência contra animais

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Araucária vive uma onda de violência contra animais
A omissão de socorro em caso de alguma enfermidade também é considerada uma forma de violência contra os animais. Foto: divulgação

Duas situações de maus tratos contra animais que aconteceram recentemente em Araucária, deixaram a comunidade estarrecida, com tamanha crueldade por parte dos agressores. A Guarda Municipal atendeu as duas ocorrências, uma delas no dia 21 de novembro, no bairro Capela Velha, quando após matar sua cadela de estimação, um homem pediu aos vizinhos que tirassem fotos dele ao lado do animal morto, que ele mesmo havia pendurado no portão da sua casa, e que o exibia como se fosse um troféu. O segundo fato ocorreu no dia 25, no Jardim Israelense, quando após uma briga durante um churrasco, um homem descontou a raiva em um cachorro pitbull, que pertencia a uma vizinha. Ele esfaqueou o animal, que felizmente foi socorrido a tempo e resistiu aos ferimentos.

Não bastassem essas atrocidades, o Jornal O Popular também recebeu denúncias de envenenamento de cães no bairro Fazenda Velha. Segundo moradores, três animais já teriam sido mortos dessa maneira. A Secretaria Municipal do Meio Ambiente já tomou conhecimento dos casos e disse que as providências foram tomadas. Lembrou que é importante a comunidade denunciar maus tratos contra animais, para que os responsáveis possam ser punidos. “As denúncias que chegam até nós são repassadas para o sistema e geram ordens de serviço. Na medida do possível, nossas equipes vão até o local para verificação. À Secretaria de Meio Ambiente compete dar orientações, notificar e autuar o responsável. E quando identificamos que é um caso grave, um caso de risco, solicitamos apoio das forças policiais”, explicou o veterinário Gustavo Warich.

Sobre os casos recentes, o veterinário disse que na situação onde o cidadão tirou uma selfie com o cachorro pendurado na grade, a Guarda Municipal realizou a prisão do mesmo, encaminhou os relatórios à SMMA, que está tomando as medidas administrativas cabíveis, nesse caso, o auto de infração. “Em relação ao animal esfaqueado no Israelense, tendo em vista que era um cão comunitário, prestamos o atendimento veterinário, fizemos a sutura no animal e o medicamos. No momento da ocorrência a GM foi junto conosco, porém o indivíduo não se encontrava lá. Foram colhidas informações com as testemunhas e estamos em contato com a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente – DPMA Curitiba, para que eles façam as investigações e tomem as medidas cabíveis”, explicou Gustavo.

É crime!

A Guarda Municipal reforçou que maltratar animais é crime, passível de prisão, mas apesar disso, tem recebido denúncias frequentes de maus tratos contra animais, sobretudo cães. “Ressaltamos que maltratar animais domésticos é crime previsto na Lei Federal 9605/98, podendo resultar em pena de detenção de 3 messes a um ano e multa. Já a Lei 14064/2020, aumentou a pena para quem pratica maus tratos, especificamente contra cães e gatos. A partir dessa mudança na legislação, quem cometer esse crime, será punido com 2 a 5 anos de reclusão, multa e proibição da guarda de animais. Caso o crime resulte na morte do animal, a pena pode ser aumentada em 1/3”, esclareceu Jaqueline Dias, Diretora da Secretaria Municipal de Segurança Pública.

Ela comentou que não é de hoje que a corporação atende situações como as que ocorreram na última semana. “A selfie onde aparece o cachorro morto foi encontrada no celular do homem, quando ele foi preso por uma guarnição nossa. Outra ocorrência de maus tratos foi atendida na ocupação irregular do Israelense, onde o homem pegou uma faca e desferiu um golpe no dorso de um cão da raça Pitbull, que segundo a dona do animal, era muito dócil. A proprietária do cão fez contato com a Guarda Municipal e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que foram até o local e fizeram o atendimento do animal. Nesse caso, a GMA colheu informações e conseguiu qualificar o agressor”, citou Jaqueline.

Ainda de acordo com ela, na semana passada uma equipe da GMA patrulhava o bairro Iguatemi e viu um cavalo muito magro amarrado em um terreno e constatou que não havia pasto suficiente e nem água para o animal. “Aparentemente fazia havia dias que ele estava nessas condições. Como era noite e não havia muito o que fazer, a equipe providenciou água e capim para ele se alimentar. No turno do dia, outra equipe esteve no local e conseguiu localizar o proprietário do animal. Ele foi orientado sobre a legislação. O homem disse que tem mais três animais e segundo o relatório da equipe, estavam bem tratados. De qualquer forma, repassamos a situação para a SMMA, para uma visita técnica no endereço, a fim de verificar as condições de guarda e trato dos animais”, esclareceu a diretora.

Outra situação de maus tratos que comoveu a comunidade araucariense foi relembrada por Jaqueline. A perda do mascote da GMA na noite de 15 de novembro de 2020. O Amarelo foi atropelado e imagens das câmeras do prédio da sede da corporação mostraram o momento em que o veículo atravessou de um lado para outro de via, e colheu o animal na faixa de estacionamento, dando a impressão que fez aquilo propositalmente”, recordou.

Jaqueline disse que o condutor foi identificado posteriormente, pela placa do veículo, e foi multado pela SMMA em 4 mil reais. O fato também foi encaminhado à Delegacia do Meio Ambiente em Curitiba e o autor respondeu inquérito baseado na Lei 14.064/2020. “São muitas as formas de praticar maus tratos contra animais. A falta de alimentação, água e condições de guarda, são as mais comuns, porém, existe a exploração procriativa para fins comercias, principalmente de cães que necessitam de autorização e tem regras rígidas”, observou.

Tecnologia contra a violência

A médica veterinária e protetora independente Ieda Ohpis, lembra que a violência contra animais sempre ocorreu, mas antes não eram feitas tantas denúncias como agora, porque muitas vezes as pessoas não tinham provas concretas do agressor. “Nos dias de hoje, com o aumento dos simpatizantes da causa animal e com a ajuda da tecnologia, as pessoas estão filmando, fotografando, colhendo provas contra o agressor e munidas delas, fazem as denúncias. Por esse motivo, foi possível perceber um aumento de casos de maus tratos”, destaca a protetora.

Ela citou a criação e aprovação de leis importantes, como exemplo a Lei Sansão 14.064/20, que aumentou a pena para maus tratos. “A OAB-PR também lançou uma cartilha interessante sobre a Proteção Animal, que pode ser acessada no link https://www.oabpr.org.br/comissao-de-direito-ambiental-lanca-cartilha-de-protecao-animal-2/. Todas essas ferramentas vêm ajudando a reduzir a impunidade contra os agressores de animais”, destacou a protetora.

Maldade sem limites

Esses comportamentos de alguns seres humanos, que beiram o sadismo, revelam um possível distúrbio de personalidade, segundo avalia o psiquiatra Luciano Sankari. Ele afirma que as pessoas que apresentam prazer em promover sofrimento de outras pessoas ou mesmo de animais indefesos, apresentam um grave defeito na sua forma de sentir empatia, o que é um dos critérios diagnósticos para a psicopatia.

“O psicopata age pelo prazer de ter controle. Também existe a possibilidade de que pessoas com alucinações ou delírios tenham esse tipo de atitudes. Por exemplo, a pessoa pode ouvir uma voz ordenando que ela mate o cachorro, porque ela vai ser prejudicada de alguma forma. Neste caso, não é um sentimento perverso, mas uma incapacidade de percepção da realidade, que leva a uma ação incorreta”, analisou o especialista.

Canais de denúncia

Em Araucária, as denúncias de maus tratos contra animais podem ser feitas na Secretaria Municipal do Meio Ambiente pelo fone 3642-7481 ou na Guarda Municipal 153. Também é possível denunciar na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) pelo fone 3251-6200 ou ainda pelo email:dpma@pc.pr.gov.br.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1290 – 02/12/2021

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