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Campanhas ajudam a reduzir casos de gravidez na adolescência

A jovem L.A.V., 16 anos, está no 8º mês de gestação
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Campanhas ajudam a reduzir casos de gravidez na adolescência
A jovem L.A.V., 16 anos, está no 8º mês de gestação

 

“Quando vi a confirmação do meu teste de gravidez, veio a certeza de que a minha vida iria sofrer uma mudança radical. De uma pra outra, os sonhos para o futuro tiveram que ser repensados. Foi um choque, mas aos poucos fui me acostumando com a ideia”. O relato é da jovem R.C.M.S., de apenas 16 anos, que acaba de ser mãe. Com a bebezinho de pouco mais de um mês nos braços, ela conta que, com a gravidez não programada teve que pular algumas etapas e amadurecer mais rápido.

O companheiro Willian, já com 18 anos, também se viu diante de uma nova realidade: a responsabilidade de ser pai ainda tão jovem e a necessidade de ter que assumir um relacionamento. Os dois estudavam na mesma sala de aula e já estavam morando juntos, na casa da mãe de R., mas um filho não estava nos planos. “O Willian teve que conciliar o estudo com o trabalho, e eu estou de licença maternidade, mas pretendo retornar à escola. A gravidez nos pegou de surpresa, eu sempre me cuidei usando anticoncepcionais, mas um dia esqueci de tomar. No começo foi muito difícil, mas aos poucos as coisas foram ficando mais tranquilas. Tenho total apoio e ajuda da minha mãe e isso é fundamental nessa nova fase da minha vida”, comentou a jovem.

Campanhas ajudam a reduzir casos de gravidez na adolescência
Com a chegada da filhinho, jovens tiveram que replanejar o futuro

Campanhas

R. disse que tinha conhecimento sobre os perigos de uma gravidez na adolescência, pois sempre teve acesso às campanhas de orientação, tanto na escola como na mídia. Mas o fato de ter ficado grávida mesmo sabendo disso, é justificado por ela como um deslize.

A jovem contradiz as estatísticas, que apontam que as campanhas de divulgação e orientação a respeito dos meios para se evitar uma gravidez na adolescência estão contribuindo com a queda no número de casos. Dados preliminares do Sinasc (Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos) do Ministério da Saúde apontam uma queda de 17% no número de gravidez na adolescência no Brasil. Em números absolutos, a redução foi de 661.290 nascidos vivos de mães entre 10 e 19 anos em 2004 para 546.529 em 2015.

A queda no número de adolescentes grávidas está relacionada a vários fatores como expansão do programa Saúde da Família, que aproxima os adolescentes dos profissionais de saúde, mais acesso a métodos contraceptivos e ao programa Saúde na Escola, que oferece informação de educação em saúde.

Em Araucária, conforme dados do Departamento de Atenção Básica – DAB da Secretaria de Saúde, em 2016 a rede pública atendeu oito casos de gestantes de 10 a 14 anos, totalizando 0,4% do percentual total, e 357 casos de gestações entre meninas de 15 a 19 anos (15,9%). Segundo o DAB, os números tem se mantido estáveis nos últimos três anos (confira na tabela). Ainda de acordo com o departamento, os dados referentes ao ano de 2017 ainda estão em aberto.

Campanhas ajudam a reduzir casos de gravidez na adolescência
FONTE: SMSA/DVE/SINASC.

Mudança radical

A jovem L.A.V., de 16 anos, também contradiz as estatísticas de que as campanhas estão reduzindo os casos de gravidez precoce. Com oito meses de gestação, a ela também engravidou de um colega de escola, mas ao contrário de R., o pai da criança, que tem 18 anos, não quer assumir a paternidade e aguarda o nascimento para fazer o DNA. “Minha vida virou do avesso, tive que mudar de escola por conta disso e todos os planos que eu tinha tiveram que ser suspensos. Não pretendo parar de estudar, mas com certeza quando o bebê nascer muitas coisas terão que mudar, ter um filho é muita responsabilidade. Minha família está apoiando, apesar de no início ter me criticado bastante. Para eles, eu estraguei minha vida”, comentou a jovem.

A mãe de L. conta que também ficou grávida na adolescência e ver a filha cair no mesmo erro não foi fácil. “L. é uma menina quieta, não sai muito, frequenta a igreja, e sempre a instruí sobre gravidez. Eu não recebi orientação dos meus pais, mas ela sim. No começo foi um choque, porém, agora estamos aceitando melhor”, pontuou.

A história do adolescente G. R. S., de apenas 16 anos, talvez seja a mais chocante de todas. Ele já é pai de duas bebezinhas, uma com um ano e cinco meses, e outra com 10 meses. A mãe K.B.D., hoje com 18 anos, teve a primeira filha aos 17. Os dois se conheceram na escola e agora moram juntos. “Mudei meu estilo de vida, por ser ainda muito novo não tinha objetivos, e com a chegada das meninas, comecei a dar mais valor à vida. Continuo estudando e trabalho para poder sustentar minha família. A K. parou de estudar, está encostada por causa das bebezinhas, mas pretende retomar os estudos assim que for possível”, conta o jovem.

Além dos impactos das duas paternidades, G. relata que sofreu muito preconceito. “As pessoas me julgaram demais. Nossas famílias ficaram super preocupadas, o nervosismo tomou conta de todos. Hoje tudo é diferente, eles adoram as netas e são avós ‘babões’”.

G. diz que tinha conhecimento dos métodos contraceptivos para evitar a gravidez, inclusive conversava em casa sobre isso, mas mesmo assim caiu no erro por duas vezes. “Meu conselho é para que os jovens se previnam usando camisinha, que escutem mais os seus pais, porque ter um filho ainda tão jovem não é fácil”.

Obstetra alerta sobre os perigos de uma gravidez precoce

Campanhas ajudam a reduzir casos de gravidez na adolescência

O ginecologista e obstetra da Clínica IMA, Wladimir Jácomo Riqueza Carvalho, alerta sobre as complicações que as adolescentes estão sujeitas durante a gestação. Segundo ele, elas estão expostas a múltiplos fatores de risco, sendo os principais os sociais, econômicos e de saúde. “Meninas adolescentes, principalmente as de idade entre 10 e 15 anos, têm incidência maior de parto prematuro e hipertensão na gestação. Portanto, o pré-natal adequado e realizado por profissional capacitado, deve propiciar a essa adolescente uma gestação e parto saudáveis”, ressalta.

O obstetra, que atende duas realidades, a de clínica privada e a de saúde pública, lembra que a gestação na adolescência é muito mais evidente nas classes sociais menos favorecidas da sociedade, por questões culturais, início precoce da atividade sexual, falta de esclarecimento por parte do poder público, que apenas informa os métodos contraceptivos existentes, além das situações de abuso sexual, que são frequentes. Ele observa ainda que a incidência do abortamento espontâneo não é muito maior nas gestantes adolescentes, mas pela imaturidade emocional e pela pouca experiência, estão mais susceptíveis à pressão do parceiro, em muitos casos bem mais velho e até mesmo da família, para a realização de abortamento provocado clandestino. “O aborto clandestino pode levar a graves consequências psicológicas, comprometer o futuro reprodutivo e até a vida dessa adolescente, além de ser uma das maiores causas de morte materna no Brasil”, esclarece.

Orientações

Para o obstetra, é preciso acolher essas adolescentes, sem julgá-las, fazer um trabalho de conscientização da situação em que ela está inserida e fornecer opções para interromper esse ciclo vicioso, enfatizando a importância da continuação dos estudos, pois este é um fator protetivo, proporciona uma maior oportunidade para mobilidade econômico-social e na realização de planejamento familiar através do uso dos métodos contraceptivos mais adequados para essa faixa etária.

“Entre os vários atendimentos que realizei, um caso me chamou muito a atenção. Atendi em uma unidade de saúde uma mulher de 39 anos que acompanhava uma gestante de 14 para realizar o pré-natal de sua bisneta. Isso mesmo!. Ela teve sua filha aos 12 anos, filha esta que teve a primeira filha aos 13, filha esta que já estava fazendo pré-natal aos 14, ou seja, com apenas 40 anos, essa mulher já seria bisavó! Evidenciando que a questão da gestação na adolescência remete mais a um problema social e cultural do que de saúde”.

 

Foto: Everson Santos e divulgação