Não é de hoje que os órgãos de saúde do Brasil têm dito que não há como submeter todos os pacientes que manifestam as chamadas síndromes gripais a testes de laboratório e, com isso, descobrir efetivamente se ele é ou não portador do novo coronavírus. E esta impossibilidade se dá porque não existem testes suficientes para todos.
Justamente por isso, o que as secretarias municipais de saúde estão fazendo em todo o Brasil é submeter aos testes para Covid-19 somente aqueles pacientes que tem um agravamento dessas síndromes gripais, necessitando de internamento.
Em Araucária não é diferente e é por isso, muito possivelmente, que os números oficiais de casos notificados como suspeitos de coronavírus são razoavelmente baixos. Até essa quarta-feira, 8 de abril, por exemplo, apenas 54 pacientes residentes na cidade haviam sido submetidos ao teste que colhe amostras de secreção orofaríngea e serve para identificar a presença da Covid-19. De todos os testados, 50 já foram descartados (não era coronavírus), 2 foram positivados para a doença e dois ainda seguem em verificação.
Paralelamente a esses casos classificados como notificados, existe algumas centenas de moradores de Araucária que procuraram as unidades de saúde ao longo do mês de março, quando a Covid-19 desembarcou no país, reclamando de síndromes gripais e receberam atestados de até 14 dias e orientação para que se isolassem domiciliarmente. A partir daí passaram a ser monitorados pelas equipes das unidades básicas de saúde para verificar se o caso se agravaria ou não. Caso piorem e necessitem de internamento, aí sim são testados.
Segundo levantamento feito pelo O Popular, incríveis 928 pessoas que procuraram as unidades de saúde reclamando de sintomas classificados como síndromes gripais receberam atestados para se isolar domiciliarmente por até 14 dias e passaram a ter seus casos monitorados pelas unidades básicas de referência.
Apenas para efeitos de comparação, em fevereiro, 84 atestados desse tipo haviam sido fornecidos pelos médicos da rede. Ou seja, um crescimento superior a 1.100% de um mês para o outro.
Felizmente, a grande maioria desses pacientes não apresentou agravamento do quadro de síndromes gripal. Isto, porém, não quer dizer que eles não tiveram a Covid-19. E, como não foram testados, nunca saberemos.
É por conta dessa impossibilidade de testar maciçamente os pacientes que apresentam síndrome gripal que o isolamento social ainda é o melhor “remédio” para combater a doença. Afinal, como muitos dos contaminados acabam tendo apenas sintomas leves e alguns nem isso. Logo, se eles não ficarem em casa passam a transmitir o vírus para outras pessoas, que podem sim ter um quadro mais grave da Covid-19, levando até a morte.
Mortes por causas respiratórias também dispararam
Outro levantamento feito pelo O Popular também mostra que, em março, houve um aumento considerável no número de óbitos assentadas no Cartório de Registro Civil de Araucária como sendo causadas por “doenças respiratórias” ou “desconhecidas”.
Em fevereiro, por exemplo, as mortes por doenças respiratórias foram 13 e as de causa desconhecida 3. Em março, o número de mortes por doença respiratória subiu para 20 e as desconhecidas para 6. Em abril, até terça-feira (7) os óbitos que tiveram como razão doenças respiratórias já eram 5.
Texto: Waldiclei Barboza
Foto: Marco Charneski
Publicado na edição 1207 – 09/04/2020