Como a seca se reflete na região rural de Araucária

Perfuração do terceiro poço artesiano de Capinzal . Foto: divulgação
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Como a seca se reflete na região rural de Araucária
Perfuração do terceiro poço artesiano de Capinzal . Foto: divulgação

A seca enfrentada pelo Paraná é um dos piores períodos de estiagem da história do estado. Com chuvas abaixo das médias históricas nos últimos dois anos, o Governo Estadual precisou renovar o decreto de emergência hídrica, que autoriza rodízios para racionamento de água e investimento em recursos para ações emergenciais de abastecimento público. Seja de forma direta ou indireta, a crise hídrica afeta toda a população e, inclusive, a produção de alimentos no estado.

Zita Trzaskos, agricultora e produtora de morangos, teve poucas dificuldades em sua produção, por utilizar a irrigação por gotejamento e ter um tanque em sua propriedade. Contudo, a produtora percebe que vários agricultores de sua região enfrentam dificuldades por conta da seca. “No meu caso, não faltou água. Temos o tanque para a plantação e ligação com um poço artesiano que fornece água para nossa casa. Mas produtores com tanque menor chegaram a ficar sem água e isso prejudicou as plantações, eles perderam parte da produção”, conta.

Segundo a Secretaria Municipal de Agricultura (SMAG) de Araucária, na região rural foram necessários vários serviços até o mês de maio, para preparar e aumentar a umidade do solo. A produção de milho foi uma das mais afetadas, levando os agricultores a refazer o plantio das sementes.

Distribuição da água na zona rural

Diferente da zona urbana de Araucária, em que o abastecimento é regulado pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), a distribuição na região rural é gerenciada pelos próprios moradores. A Prefeitura de Araucária ou a Sanepar implantam os sistemas locais, por meio da perfuração de poços artesianos previamente autorizada pelo Instituto Água e Terra (IAT) do estado. Devido à crise hídrica, a prefeitura precisou enviar água em caminhões-pipas para auxiliar o abastecimento de moradores da área rural. Segundo a Secretaria de Obras, normalmente é fornecido, pelo menos, um caminhão de água por dia e a entrega ocorre em todas as regiões rurais. “Obviamente, este apoio também depende da disponibilidade de água na área urbana”, afirmou a secretaria por meio de nota.

Também ao contrário da área urbana, as comunidades rurais não têm um órgão público oficialmente responsável pelo racionamento, controle do uso consciente de água ou um programa que oriente os moradores sobre conservação ambiental e de recursos hídricos. Desde o começo da crise hídrica, a Sanepar é a responsável por controlar rodízios de abastecimento na zona urbana, que ajudam a racionar e economizar água durante o período de estiagem severa. Em Capinzal, a Associação dos Usuários da Água é quem monitora o consumo de água e verifica a necessidade de reduzir ou alterar a quantidade de água utilizada com base na vazão dos poços artesianos. “Recebemos um treinamento básico da Sanepar quando o primeiro poço foi instalado e temos como recorrer à prefeitura caso a gente precise de ajuda, mas o que aprendemos sobre consumo consciente ou preservação ambiental foi no dia a dia. O próprio sistema nos ensinou. Fazemos todo o controle na nossa comunidade, desde o tratamento, vazão da água, cobrança, leitura e até remoção do cavalete”, explica Francisco Strugala, presidente da associação.

Poços artesianos

O abastecimento por meio de poços artesianos é exclusivo para o uso pessoal dos moradores da região rural — por exemplo, para higiene, alimentação, etc. Para uso comercial, incluindo a irrigação de plantações, os moradores devem ter um tanque ou outra forma de abastecimento legalizada dentro da propriedade.

Criada em 2006, a Associação dos Usuários da Água de Capinzal conta com dois poços artesianos que atendem 580 famílias, o que seria em torno de 2.500 pessoas. A água passa por uma estação de tratamento antes de chegar nas casas e todas as famílias pagam uma taxa mínima de 10 reais pelo uso de até 7 mil milímetros cúbicos. A rede de Capinzal ainda atende todos os locais públicos da região que, apesar de controlados pela associação, não são pagos pela prefeitura, já que a comunidade depende das orientações técnicas do órgão público e da Sanepar.

A seca prolongada não afetou o abastecimento de água da Associação de Capinzal, mas levando em consideração que a estiagem pode continuar nos próximos meses, a comunidade irá implantar um terceiro poço. “Nos 15 anos da associação, nunca teve falta de água, só que essa possibilidade existe se a estiagem continuar. Não só eu, mas todos os membros da diretoria, entendemos a importância de ter água de qualidade em cada residência para nossa comunidade não sofrer”, afirma Francisco. O presidente da associação também deixa um alerta: “o poder público precisa melhorar a identificação e apoio para implantar esse sistema de distribuição. Nenhuma comunidade tem preparo para começar esse trabalho, a não ser por apoio técnico. E conhecemos regiões que têm extrema necessidade desse sistema de poços artesianos, porque as comunidades nos procuram para orientações de como fazer”.

Texto: Laís Almeida, sob supervisão de Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1270 – 15/07/2021

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