Apesar de ser um processo natural da vida, a transição entre a infância e adolescência é envolta em intensas transformações. Embora em alguns casos essa passagem revele medo e insegurança, ela representa um amadurecimento físico e emocional necessário à constituição do adulto. Nessa fase, para que tudo transcorra da melhor forma possível, é muito importante que os pais estejam abertos ao diálogo, para poder encarar os novos comportamentos de seus filhos. A transformação começa perto dos 12 anos de idade, momento em que a mudança de comportamento dos jovens fica mais evidente. É quando a força das escolhas pessoais é um imperativo, e surgem as amizades inseparáveis, os ídolos, relacionamentos amorosos e a vontade de desbravar com muita intensidade o mundo. Diante de tantas mudanças, é comum que os pais se sintam meio confusos, afinal, como lidar com os novos comportamentos de quem está passando da infância para a adolescência?
Para Danielle Barriquello, diretora do Colégio Marista Sagrado Coração de Jesus, o papel da família é ativar a escuta dos filhos sobre seus gostos, amizades, como enxergam o mundo, construindo relações com os adolescentes cada vez mais verdadeiras e empáticas, e também, acolhendo, reconhecendo e encorajando mudanças de expressões autônomas de seus filhos. “Compartilhar experiências é outra forma de estabelecer uma relação de confiança para que os filhos se sintam à vontade para conversarem sobre situações vividas durante essa fase. Dessa forma, são nutridas relações afetivas saudáveis que vão nortear as mudanças e ampará-los nessa caminhada”, salienta a diretora.
Ela reforça que o ser humano está em constante mudança ao longo da sua vida, porém, é na adolescência que ocorre a reconstrução da identidade e o jovem passa a se compreender como um sujeito de desejos. “Nesse processo, é comum que ele se reconheça em diferentes grupos de amigos e passe a identificar referências incontestáveis neles”, explica. Conforme ilustra a diretora, na infância é mais comum que essa relação de compatibilidade seja desempenhada pela família. E se os pais constroem, desde a infância, uma relação de confiança, as chances desse processo ser mais fluído e menos doloroso são maiores. “Além do diálogo, demonstrações de afeto por meio de olhares e gestos acolhedores podem trazer à tona muitos sentimentos. Se entre pais e filhos existir essa comunicação também não verbal, marcada pelos pais em seus filhos desde pequenos, quando eles forem adolescentes vão sentir que são compreendidos, sem tantas explicações, justificativas e tensões”, aborda Danielle. Ainda assim, é comum que alguns pais sintam dificuldade de entender que aquela criança que viram nascer está crescendo e caminhando para a vida adulta, diferente da vida idealizada por eles.
Papel da escola
A escola exerce um papel fundamental na transição dos estudantes da infância para a adolescência. “Essa fase requer um olhar sobre a forma de convívio familiar, as diferentes expressões e relacionamentos com os colegas, para além de uma idade como marcador ou mudança de segmento na escola. A força do grupo, dos pares, de um posicionamento cada vez mais questionador sobre as coerências e incoerências percebidas na vida adulta, ocupa uma centralidade nas expressões dos adolescentes. Comportamentos de isolamento e retraimento excessivo podem ser observados e precisam de acompanhamento”, salienta a diretora.
Também é de competência da escola nesse processo, ajudar os estudantes nessa passagem, quando oferece uma escuta atenta e acolhedora das suas expressões, promovendo diálogos com adolescentes de diferentes idades e séries, mantendo bons professores como referência das turmas, dos estudantes e dos pais. Um currículo que valoriza e sistematiza o trabalho com as habilidades socioemocionais pode colaborar muito, pois faz ainda mais a vida afetiva e social habitar as discussões em sala de aula. “A manutenção de professores titulares como referência para estudantes e famílias, quando há mais de 7 professores especialistas atuando na turma, pode ajudar num acompanhamento sensível, personalizado e efetivo”, reforça Danielle.
Projetos que ajudam
Ainda de acordo com ela, o trabalho da Pastoral Juvenil Marista alimenta continuamente a construção de uma afetividade mais compartilhada, além do Projeto Interioridade, que está voltado ao autoconhecimento e busca de sintonia do mundo interno com o externo, ampliando olhares sobre si e o outro em diferentes contextos.
Danielle afirma também, que os pais sempre procuram o melhor para os seus filhos, mas em alguns casos, não entendem que o melhor precisa ser dialogado e reconstruído. “Não é somente o filho que chega à adolescência, os pais também passam por essa passagem e precisam se transformar em pais de adolescentes, e isso exige de cada adulto, rever-se. A vida dos filhos pode ser rica de potência e de conquista a partir de um olhar que encoraja, acredita e reconhece a mudança e não somente a reafirmação de um filho num tempo de infância já conhecido. O crescer e o desenvolver-se servem para todos: filhos, estudantes, pais e professores”, pontua a diretora.
Texto: Maurenn Bernardo