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Salas preparadas do Colégio Szymanski já estão recebendo alunos para um acolhimento. Foto: Marco Charneski
Educadores avaliam mudanças que o novo ensino médio tende a impor
Para este ano de 2022 o ensino médio vai atingir apenas alunos do 1º ano. Debates em torno do assunto apenas começaram. Foto: Marco Charneski

Desde que o Governo Federal anunciou a implantação do novo ensino médio, educadores do país inteiro começaram a se mobilizar para tentar entender quais as principais mudanças que esse modelo de ensino trará para a educação. O aluno é o personagem que mais sentirá mudanças com a nova proposta, mas os professores e todo o quadro de profissionais das instituições de ensino também sentirão as mudanças, que podem ser negativas ou positivas, dependendo do ponto de vista. O professor de História do Colégio Estadual Professor Júlio Szymanki e coordenador de Ensino de História da Secretaria Municipal de Educação, Rafael de Jesus de Andrade de Almeida, está acompanhando de perto as discussões sobre o assunto. Recentemente ele participou de um congresso em Foz do Iguaçu, onde um dos temas foi justamente o novo ensino médio.

Ele afirma que serão três as principais mudanças desse modelo: carga horária ampliada, currículo e prática docente. “Já está sendo elaborado um novo referencial curricular, um novo currículo para o ensino médio no estado do Paraná. Mas temos que lembrar uma questão importante, que precisa ser debatida, que é o aumento de custo com transporte e folha de pagamento. No novo ensino médio teremos a sexta aula, e a hora de saída vai ser diferente. Então, imagine isso no campo como vai ser. Será necessária uma organização totalmente diferente”, avalia.

Para o professor, a implementação do novo ensino médio, ainda que seja gradativa, começando pelos primeiros anos em 2022, trará muitos impactos à vida escolar. “Um deles será o aumento de horas/aula. No ano que vem, por exemplo, os alunos do primeiro ano terão um aumento da carga horária (hoje de 800 horas por ano), passando das atuais 2.400 horas/aula em três anos, para 3 mil horas/aula”, exemplifica. Ele salienta que dessas.

Outra questão importante que o professor aborda é que das 3 mil horas, 1.800 serão de formação básica. “São aqueles componentes curriculares que a gente já conhece, como história, geografia, língua portuguesa, matemática. Serão 1.200 duzentas horas de itinerários formativos, que são a grande novidade do novo ensino médio. Esses itinerários formativos estão mais voltados às áreas do conhecimento. Essa mudança é bem importante. Hoje temos as diretrizes curriculares do estado do Paraná, que são organizadas por disciplinas e elas têm conteúdos estruturantes. Então vamos dar um exemplo de relações de trabalho, o professor escolhe como conteúdo básico a revolução industrial e como conteúdo específico, a primeira revolução industrial da Inglaterra. Agora o professor não vai mais exatamente do conteúdo, ele vai partir de algum objetivo de aprendizagem”, esclarece.

O novo ensino médio, conforme avalia Rafael, terá uma nova organização curricular, partindo de dois princípios: o primeiro é a ideia de interdisciplinaridade e o segundo é a questão de contextualização. “Na Base Nacional Comum e Curricular (BNCC) temos 10 competências gerais. Por exemplo, a questão do conhecimento, do pensamento científico crítico e criativo, repertório cultural, comunicação, cultura digital, trabalho e projeto de vida, argumentação, autoconhecimento, empatia com responsabilidade e cidadania. No caso da cultura digital, o aluno deve compreender, utilizar e criar digitais de forma crítica, significativa e ética. Para comunicar-se, acessar e produzir informações e conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria. Essas competências gerais são de responsabilidade de todos os professores, de todas as áreas do conhecimento e de todos os componentes curriculares”, observa.

Estrutura das escolas

Rafael acredita que o ensino médio, de um modo geral, não tinha uma identidade, e nesse ponto, o novo ensino médio pode trazer mudanças significativas. Ele lembra que no modelo atual, o mesmo conteúdo que o professor trabalha do 6º ao 9º ano, algumas vezes se repete no ensino médio.

“Na realidade, o ensino médio sempre foi visto como uma espécie de transição entre o ensino fundamental e o ensino superior. Isso não garantia uma formação mais consolidada para os estudantes. Enfim, o novo ensino médio terá suas vantagens, mas o que ainda está gerando muitas dúvidas, é com relação à sua implantação, principalmente porque com o passar do tempo, teremos alunos ficando sete horas nas escolas, e isso exige uma reavaliação complexa da atual estrutura das escolas”, comentou Rafael.

O diretor do Colégio Estadual Agalvira Bittencourt Pinto, Alessandro Vieira Rosa, também falou a respeito do novo ensino médio e disse que os educadores estão temerosos com a desorganização em torno da sua implementação. “Não nos passaram muitos detalhes, por isso não estamos vendo com bons olhos, ainda precisamos conhecer as vantagens desse nosso ensino médio. Com o que sabemos hoje, não está sendo viável. Sabemos que a intenção é, num futuro próximo, disponibilizarem cursos profissionalizantes direcionados para cada região. Porém no momento, não estamos conseguindo enxergar o novo ensino médio de uma forma positiva”, comentou.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1295 – 20/01/2022

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